VALIS (I)
O romance de Philip K. Dick, VALIS, trata-se de uma obra autobiográfica, em que Dick se descreve a ele próprio como um personagem, semi-alienado, típico "junkie" dos idos anos 60, chamado Horselover (o étimo grego de Filipe, significa "o que ama os cavalos"). Horselover acredita que o Universo é constituído por informação e que ele próprio foi alvo de uma teofania (vulgo: Prova da existência de Deus), sob a forma de um raio laser que lhe deu um conhecimento aprofundado do que o rodeia. A partir dessa altura ele enceta um diário (poderia fácilmente ser um blogue), que ele intitula de exagese. Desse diário passarei a transcrever, de forma aleatória, algumas passagens:
#36. Devemos poder ouvir esta informação, ou antes narrativa, como uma voz neutra dentro de nós. Mas qualquer coisa saíu mal. Toda a criação é linguagem e nada mais que uma linguagem, que por qualquer razão inexplicável não podemos ler exteriormente e não podemos ouvir interiormente. Portanto digo que nos tornámos idiotas. Aconteceu qualquer coisa à nossa inteligência. O meu raciocínio é este: o arranjo de partes do Cérebro é uma linguagem. Portanto, porque não sabemos disto? Nem sequer sabemos o que somos, quanto mais o que é a outra realidade de que somos partes. A origem da palavra "idiota" é a palavra "privado". Cada um de nós tornou-se privado, e já não compartilha o pensamento comum com o Cérebro, excepto num nível subliminal. Portanto a nossa vida real e o nosso objectivo são conduzidos abaixo do nosso limiar de consciência.
Ai o LSD! Abençoados anos 60... que como Nietchze, estavam "para além do bem e do mal".
Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 9 de Novembro de 2003
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