terça-feira, 2 de março de 2004

O VELHO MUDOU DE CASA.
Já um pouco farto da minha cabana bafienta, lá no topo da montanha, decidi mudar de casa, pelo que agora me encontrarão no seguinte endereço:

http://ovelhodamontanha.blogs.sapo.pt (Actualmente desactivado)

Convido pois, todos os meus amigos e leitores a me visitarem no meu novo poiso e já agora, não se esqueçam de actualizar a vossa lista de links.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 2 de Março de 2004

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

UM LIVRO?!
Provávelmente por mera simpatia, o Pedro Guedes, autor do Ultimo Reduto, desafia-me a passar os meus pensamentos intímistas à forma de livro, no que foi seguido por alguns visitantes regulares do meu blogue que sempre me manifestaram grande simpatia.
Costuma-se dizer que um homem só se realiza após ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro.
Pois bem, pelo que me toca, tive quatro filhas, por môr da minha profissão já plantei centenas de árvores, faltando-me aparentemente escrever um livro.
Ora eu acho que, de uma forma abençoada, este blogue acaba por ser o meu livro, pelo que me realizo completamente com escritos que insisto em reputar de despretenciosos. Pretencioso sim, seria ter o despudor de publicar um livro que provávelmente só interessaria a meia dúzia de pessoas.
Para além disso há ainda um enorme e insuperável obstáculo: Não sei escrever um livro!
Tenho ideias repentinas sobre as coisas, tenho uma escrita demasiado sintéctica e tenho a maior dificuldade em arranjar uma "cola" que dê consistência aos meus textos. Seria o mesmo que querer construir uma casa, tendo os tijolos mas sem possuir o cimento.
Agradeço a simpática e tentadora ideia do Pedro Guedes, mas acho que podemos partir do principio que este blogue é o meu LIVRO.
Nesta prespectiva acho que poderei afirmar a minha plena realização: Tive filhos, plantei árvores e, finalmente, parece que escrevi um livro.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 27 de Fevereiro de 2004

A MORTE DO DINOSAURO (Fábula acerca da auto-extinção)

O grande predador bateu com a cauda no chão, enquanto que com uma das pequenas mãos tentava evitar que um parasita se lhe entranhasse na pele escamosa. O seu aspecto era deplorável. As escamas, antes brilhantes e coloridas, apresentavam-se acizentadas e baças, deixando entrever por baixo um esqueleto que anteriormente se escondia atrás de uma portentosa massa muscular. As garras há muito tinham deixado de estar aceradas e temíveis, esboroando-se e partindo-se por manifesta falta dos minerais necessários.
Com melancolia o enorme animal fitou a paisagem desolada que se desdobrava perante a sua vista. Uma terra calcinada pelas geadas, pontilhada ali e acolá por alguns arbustos mais rústicos. As colónias de liquens emprestavam um tom amarelado a algumas manchas esparsas, no meio das quais alguns roedores tentavam desesperadamente encontrar o seu sustento. Era esta a paisagem que se estendia até ao anel de gêlo que o cercava e que, lenta e inexorávelmente, se ia apertando em torno de si.
Nem sempre tinha sido assim.
Ainda se lembrava bem das planícies viçosas e verdejantes, povoadas por animais de todos os tamanhos que pastavam paulatinamente ou se dessedentavam nos pequenos lagos que se formavam nas depressões. Era o seu terreno de caça e bastava um rugido seu para que tudo em redor se quedasse estático e silencioso, naquela expectativa intemporal que precede o pânico da fuga desordenada.
Um dia, vinda de sul, uma nuvem de poeira avermelhada começou a invadir os céus, em questão de dias adensou-se tanto, que o sol quase só podia ser adivinhado. A temperatura começou a descer com uma regularidade sistemática até que um dia avistou a norte o brilho frio e azulado do gêlo que avançava.
Entretanto as plantas foram fenecendo e os animais que delas se alimentavam foram rareando.
Na longa peregrinação para sul, fugindo ao glaciar que parecia cada vez mais próximo, as circunstâncias iam piorando de tal forma, que pela primeira vez na sua já longa vida sentiu as agruras da fome.
Um dia estacou estarrecido: À sua frente, vindo de sul, deparou-se com outro glaciar!
Terminara a caminhada!
Ainda se ia conseguindo alimentar parcamente de alguns roedores, que no fundo consumiam mais energia para ser apanhados, do que a que forneciam àquele enorme corpo debilitado. Os glaciares de norte e de sul acabaram por se unir, primeiro a nascente e depois a poente. O anel de gêlo foi-se apertando cada vez mais, de tal forma que, olhasse para que lado olhasse, apenas conseguia divisar uma parede de gêlo assustadoramente mais próxima.
Na sua ânsia de fuga, o animal começou a caminhar ao longo do glaciar, na fútil esperança de encontrar uma brecha que lhe permitisse escapar daquele gelado e mortal abraço.
De repente estacou! Algo no interior da espêssa camada de gêlo lhe chamara a atenção.
Cristalizado no glaciar jazia um animal da sua espécie. Apanhado na armadilha branca, parecia vivo, apresentando um ar de espanto que dava uma aparência de vida ao corpo mumificado da criatura.
Confrontado com a visão de alguem da sua espécie, confundido pelo desespero e pelo sofrimento, o animal soltou um uivo, um uivo prolongado e pungente como o uivo de uma sereia de nevoeiro em noite fria e de cerração. Era um uivo que encerrava todas as emoções: A saudade da vida passada, o mêdo de um futuro cruel e a angústia de uma solidão profunda.
Nesse momento único e sublime tudo à sua volta mudou. De repente o prado floriu, manadas de animais corriam e saltavam despreocupadas e o grasnar dos pássaros que evoluiam sob a luz intensa do sol, ecoava nas alturas.
Tomado de súbita alegria, o animal sentiu a vida fluír-lhe no corpo. Endireitou-se, fitou com intensidade a múmia que parecia olhá-lo de dentro do gêlo, lançou um urro de alegria e num arranque fulminante correu na sua direcção.
A enorme massa do seu corpo embateu com violência na parede de gêlo e com o crâneo desfeito, o animal escorregou lentamente para o solo enquanto a vida lentamente o abandonava.
Terminara enfim o seu sofrimento e ele morria suavemente acompanhado pelas dôces recordações de um passado feliz e despreocupado.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 27 de Fevereiro de 2004

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

ESTUPEFACÇÃO E DESGOSTO.
Por que acho que não devemos ignorar a unica certeza da Vida, tenho-me regularmente pronunciado algumas vezes sobre a morte. Comentei-a quando a vi rondar a vida de um dos meus netos quando ele foi atropelado, comentei-a também aquando a trágica morte em directo do futebolista Miklos Fehér. Falei mesmo sobre a lenda do encontro em Samarcanda, que é o paradigma da sua inevitabilidade. Todos estes comentários sempre partiram do princípio que é da natureza humana a luta pela vida, a luta contra a morte.
Infelizmente nem sempre é asssim.
O filho de um grande e velho amigo, um rapaz saudável, educado e sociável, embora reservado, decidiu, assim sem mais nem menos, pôr termo à sua vida.
Fazia um mês de diferença da minha terceira filha, exactamente vinte e nove anos. Lembro-me de quando nasceu e uma fotografia tirada no calçadão de Copacabana lembrou-me que bonito bébé ele era. Cresceu, foi bom aluno, tirou o seu curso de Psicologia e arranjou um emprego a que se dedicava com afinco. Tudo parecia ir bem.
Na noite de Sábado de Carnaval, após o jantar, disse aos pais que ia dar uma volta e só se voltou a saber dele quando o seu cadáver foi encontrado dilacerado pelas rochas da encosta norte da Ponte da Arrábida.
A camara de vigilância de um estabelecimento próximo registou a chegada do automóvel. Arrumou-o cuidadosamente, retirou a antena do rádio e guardou-a no porta luvas, depois fechou o carro e ao afastar-se saíu do raio de acção da referida câmara. Sabe-se agora o desfecho de tão trágico passeio.
Algumas reflexões prepassam na minha cabeça: Não as suas razões, pois essas levou-as com ele, o que me atormenta é imaginar a dôr interior, a angústia e o sofrimento que poderão levar alguém a tão tresloucado acto e só essa reflexão por si própria, provoca-me um imenso desgosto.
Diz-se muita vez que o suícidio é uma fuga, que é um acto inútil. Talvez, no entanto deve haver um limiar de sofrimento intímo e silencioso que parece legitimá-lo.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 25 de Fevereiro de 2004

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

RECORDAÇÕES DO MEU PAI (IV)
Na linha de outros posts sobre este assunto (se alguem os quiser consultar poderá procurar nos arquivos de Novembro, entre os dias 12 e 13), apetece-me hoje falar do meu Pai, de quem tenho cíclicamente dolorosas e verdadeiras saudades.

Quando eu era criança, um amigo muito querido lá de casa oferecia todos os anos o pinheiro de Natal. Era sempre um abêto, nativo da Serra da Cabreira, muito bonito, bem formado e com dimensões bastante consideráveis. Igualmente todos os anos, o referido abêto era colocado com as suas parcas raízes num vaso com a ideia de que iria posteriormente ser plantado no jardim. E não há dúvida que todos os anos, a transplantação, acompanhada de um certo ritual, era formalmente executada. Na realidade, nenhuma das árvores sobreviveu ao ar frio e fortemente marítimo que sempre nos assolava o jardim a partir do mês de Janeiro.
Um ano a árvore era maior do que o costume. Imediatamente se instalou a discussão de como iria ser instalada, já que a sua altura era superior ao pé-direito da casa.
Corta-se-lhe o tôpo, alegava a minha Mãe, "Nem pensar!" retorquia ele, afirmando que isso desfiguraria a árvore.
Então corta-se por baixo, aventei tímidamente eu. "Está doido? E vamos destruir-lhe as raízes? Como a plantaremos depois?"
O impasse parecia instalado até que surgiu a ideia luminosa: A casa era térrea, com soalho de madeira sobre uma caixa de ar, portanto com um machado partiram-se umas tábuas no canto da sala e lá se encaixou o enorme abêto, sem lhe danificar o tôpo ou as raízes.
Passou o Natal.
A árvore, como as outras transitou para o jardim e lentamente faleceu, até se tornar num lenho sêco e enegrecido.
No canto da sala, o buraco aberto para salvar a árvore permaneceu.
Cuidadosamente dissimulado por um tapête, foi resistindo ao tempo. De inverno, o frio penetrava por ele, obrigando-nos todos a ficar mais junto da lareira enquanto o meu Pai resmungava acerca de um pertenso carpinteiro que ele nunca chamara.
Um dia, anos mais tarde, uma tia nossa, desavisada, caíu no buraco. Foi um sarilho! Ficou magoada, barafustou, gritou e acabou no hospital transportada por uma ambulância tão barulhenta como ela.
Nesse dia, com ar grave e severo, o meu Pai tomou uma decisão: "Temos de mudar de casa!"
Dois ou três meses depois mudámos de casa, deixando definitivamente para trás um buraco nêgro e traiçoeiro no soalho, além de vários cadáveres de árvores de Natal espalhados pelo jardim.
E era assim o meu Pai...

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 20 de Fevereiro de 2004

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

10.500
Jamais me passaria pela cabeça, naquela escaldante noite de Julho, em que o termómetro marcava mais de 40º e Portugal ardia plácida e insistentemente (fosse pela mão dos incendiários, pela incompetência política ou pela falta de técnica dos seus bombeiros), que esta aventura que apelidei de "VELHO DA MONTANHA" chegaria alguma vez às 10.500 visitas.
Havia descoberto a Blogosfera uns dias antes e a ideia de fazer uma espécie de diário electrónico, a partir do qual pudesse partilhar com os mais intímos alguns pensamentos e reflexões, pareceu-me uma boa ideia, até porque quase todos os que amo se encontram longe.
As reflexões e pensamentos, de carácter intimísta, que me parece serem a base deste blogue, não parecia que tivessem um interesse desmedido e por isso, à medida que o contador evoluía e os "feedback" se multiplicavam, a minha surpresa aumentava.
É certo que muito enriqueci o meu conhecimento, que partilhei muitas opiniões, que concordei, que discordei, que agradeci e que me zanguei.
Nesta altura, e ao olhar para o numero 10.500, penso naqueles que nos antecederam, que se interessaram, que se interrogaram, que se angustiaram e que se alegraram pela pura partilha de reflexões, pensamentos e ideias em geral, como decerto se alegrariam por ter tido ao seu alcance uma ferramenta tão universal e poderosa como a que nós temos hoje em dia.
A todos os que visitaram este blogue, que eu que não sou dado a modéstias, considero despertensioso, envio os meus sinceros agradecimentos por tudo o que partilharam comigo.

Por uma questão de curiosidade, abaixo transcrevo o meu primeiro post:

A CHEGADA À BLOGOSFERA.
Após uma trajectória de intercepção, caracterizada por um larguíssimo angulo de ataque, efectuei algumas órbitas de observação à Blogosfera que se me apresentava, convidativa, mas misteriosa e talvez um pouco assustadora.
O panorama não era claro, mas o apêlo era algo irresistível e assim decidi-me a aterrar, disposto a enfrentar tanto os perigos como as compensações.
Portanto, aqui estou eu! Arranhando a textura da superfície, um pouco assustado e de certa forma solitário, tentando perceber básicamente o que é e o que não é, qual Ciber-Hamlet, presa da suprema dúvida existencial.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 29 de Julho de 2003



Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 19 de Fevereiro de 2004

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004

SERÁ QUE DEUS SE TORNOU INVISÍVEL?...
Qual não foi o meu espanto quando ao consultar o magnífico blogue do Henrique, que tem o título "E Deus tornou-se visível", me deparei com este único post:

Tenham paciência!
Os meus últimos posts provocaram um ataque de um leitor despeitado que, depois de lançar para o ar algumas insinuações acabou por ser desmascarado e revelou a sua intenção destrutiva. E como não posso esperar que toda a gente seja bem-educada e não estou para ser insultado nem responder na mesma moeda, estou a pensar o que hei-de fazer. Estou indeciso em relação a continuar com o blog porque já sei que reacções desse género são inevitáveis e não tenho formação para lidar com gente mal-educada. Para já, os últimos posts passarão para o antigo testamento e este novo testamento fica em stand-by, até ver. Tenho a informação necessária para o refazer se assim o decidir.


Como este único anúncio não prmite "feedback", atrevo-me a usar o meu blogue para lançar um apêlo ao Henrique:

Meu Caro. Como em tudo, e você sabe-o bem, há do melhor e do pior. Esse tipo de energúmeno que se infiltra nas nossas caixas de "feedback" e parte para a simples destruição, insulto gratuíto e ofensa soez, só se sente compensado quando os seus intentos resultam em estrago visível.
São como esses vírus informáticos que a coberto de insuspeitas mensagens se infiltra nos nossos sistemas com a única intenção de os destruír.
Por isso, caro amigo, não lhes faça a vontade. Não prive os seus amigos verdadeiros de tão agradável e substancial convívio. Desistir agora seria a vitória do destruidor.
Claro que você é, e será sempre senhor da sua vontade, mas não queria deixar de lhe fazer sentir que seria injusto privar-nos do seu convívio, só porque um idiota (e há tantos...) se entreteve a chateá-lo e a ofendê-lo. Parafraseando o pôvo, e neste caso com redobrada propriedade, venho lembrá-lo que "vozes de burro não chegam ao céu"!
Amigo Henrique, daqui lhe lanço um apêlo: Não nos abandone!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 16 de Fevereiro de 2004

terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

UMA SINGELA HISTÓRIA DE AMÔR.
(Factos reais passados há muito pouco tempo...)

Eram um casal normalíssimo! Ambos pessoas de idade, Bodas de Ouro cumpridas, filhos criados, netos amigos e alguns bisnetos ainda balbuciantes. No fundo, uma Vida em conjunto com todas as suas alegrias e tristezas. Afinal nada mais que um casal unido pudesse esperar após mais de 50 longos anos de convívio, primeiro de paixão, depois de amôr, seguidos fatalmente de amizade, dedicação e até de uma saudável dependência.
Até que um dia ele adoeceu.
Adoeceu de uma doença degenerativa, longa e dolorosa e que infelizmente só poderia têr um desfecho possível.
Ela, uns anos mais nova, mulher corajosa e dedicada, decidiu cuidar do marido doente, declinando com doçura as várias soluções que os amigos e familiares iam sugerindo, numa mesericordiosa prespectiva de a poupar ao trabalho e ao sofrimento.
Foram três longos anos! Anos de dôr e dedicação.
De dôr, por ver a pessoa com quem tinha partilhado toda uma Vida, presa de sofrimento e incapacidade das quais sabia bem não haver retôrno possível.
De dedicação, pois jamais um esgar de impaciência, desistência ou desespêro lhe prepassaram sequer pela fronte apesar do penosos sofrimento que decerto a assolava.
O máximo que se lhe escutava, no seu jeito dôce e paciente, é que estava muito cansada, embora de boa saúde.
Um dia ele morreu!
Ela, mulher forte e saudável, passadas 24 horas sucumbiu a um fulminante, e aparentemente inexplicável ataque cardíaco.
Compungido, o médico que assistia o casal, explicou à família atónita que o fim daquele tremendo stress, longo de três anos, tinha subitamente cortado a produção de adrenalina, estimulada incessantemente pelos anos de calvário, o que lhe provocara aquele inesperado ataque de coração.

Ainda bem que a ciência nos ajuda e explica o que por vezes parece inexplicável.
Na minha prespectiva, mais terrena e prosaica, prefiro pensar que ela morreu simplesmente de amôr!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 10 de Fevereiro de 2004

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2004

A BALANÇA DE PESAR AS ALMAS (II).
Confesso que fiquei surpreendido com a ressonância que o post anterior obteve, não só no meu blogue, mas também no blogue do Henrique, além de alguns outros de diversas proveniências.
Por outro lado, ainda mais me espantei com a diversa tipologia dos comentários: Uns completamente simbólicos, outros de índole mística, outros ainda de cariz mais científico. Também os havia meramente filosóficos e até tão somente cinematográficos.
É realmente curioso observar para que lado cai a areia quando a lançamos ao ar!
De certa forma, de uma maneira um tanto subreptícia, nuns casos, e totalmente descarada em outros, deu-me a ideia de ter sido posta em causa a minha afirmação de que o facto dos "21 gramas" serem o pêso da alma, não era sequer uma ideia original (sendo isto totalmente independente da qualidade do filme, é claro!).
Para estes cépticos, embora em 1988 a Internet fosse apenas um projecto pouco menos que experimental, deixo aqui dois links que abordam o assunto, há já muito tempo ventilado: Nem que seja por uma questão de curiosidade, passem uma vista de olhos neste link e neste outro.

“The inescapable conclusion is that we have now confirmed the existence of the human soul and determined its weight,” Dr. Becker Mertens of Dresden said in a letter printed in the German science journal Horizon." (Penso que não será exacatamente o "24 Horas", e embora seja uma citação, decerto será possível confirmá-la.)

A única coisa que pretendo é não acharem que estou a levantar uma questão nova sobre o título de um filme. Essa prática não me assenta e confesso não têr paciência para algum tipo de insinuações.
Ao Henrique deixo os meus agradecimentos por ter encarado de forma tão desasombrada e descomplexada um "desafio" que, pelo menos para mim, foi extremamente gratificante.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 9 de Fevereiro de 2004

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2004

A BALANÇA DE PESAR AS ALMAS.
Fui hoje confrontado com o anuncio da estreia de um filme da autoria de Alejandro Gonzalez Igñarritu, basco certamente, com o título de "21 Gramas" e com o subtítulo em inglês "how much does life weigh?"
Eu não vi o filme, e não tenho mesmo a certeza se o verei, mas sei onde o autor foi beber a inspiração.
No final dos anos 80 li uma pequeníssima notícia no jornal, que de imediato referenciei ao meu círculo mais íntimo (ainda hoje conferi e todos se lembram), que noticiava um insólito estudo levado a efeito por um médico alemão. Este clínico trabalhava numa enfermaria onde permaneciam vários doentes em estado terminal e, colocando balanças de precisão nos pés das camas, verificou um decréscimo súbito de 21 gramas no preciso momento da morte. O mais estranho, referia o médico, é que o pêso de 21 gramas era uma constante em todos os óbitos, independentemente do pêso ou sexo da pessoa falecida.
Na altura, fascinado com a notícia, opinei com a minha habitual arrogância que 21 gramas era o pêso físico da "alma".
Hoje, quase vinte anos depois e recordado por um realizador de cinema que considera os 21 gramas o pêso da "vida", e não própriamente da "alma", volto a questionar-me sobre o assunto.
A considerar verdadeiro este facto, que acredito ser científico, considero que os 21 gramas são realmente o pêso físico da Alma. Segundo julgo saber, e o Henrique poder-me-á esclarecer, segundo a lei da entropia nada se perde mas tudo se transforma, sendo que me pergunto para onde irão esses 21 gramas, de forma súbita e repentina, já que as explicações de perda de fluídos, etc... jamais poderão explicar este fenómeno e a perda de energia também não serve, pois a energia em si própria não tem pêso, pelo menos mensurável, penso eu.
Estes 21 gramas não foram inventados pelo Sr. Igñarritu, pois eu já conhecia a existência deste fenómeno há cerca de vinte anos, portanto deve haver, e há com certeza, registos destas experiências. Assim pergunto-me como é que a ciência não se debruça sobre este mistério?
Talvez mesmo porque seja um mistério, condição com a qual a ciência não se dá bem! Talvez porque a ciência se preocupe apenas em demonstrar o que já se sabe. Talvez porque a ciência não seja realmente ciência, ou mesmo porque a ciência talvez seja cobarde.
Na parte que me toca, 21 gramas é um pêso razoável para uma Alma e ficaria bem satisfeito se alguem conseguisse constatar, no momento exacto da minha morte, que o meu corpo havia perdido exactamente 21 gramas.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 6 de Fevereiro de 2004

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2004

ENCONTRO EM SAMARCANDA.
O destino por vezes parece que nos é imposto. De uma forma ou de outra, na sorte e no azar, somos compelidos a imputar ao destino tudo o que acontece, principalmente o que não nos é particularmente favorável ou aquilo que no nosso intímo sabemos ser de nossa responsabilidade.
Acerca deste assunto, muito tenho meditado na lenda do “Encontro em Samarcanda”.
Reza a história que um rico mercador árabe, percorrendo o buliçoso mercado de Bagdad, encontra a Morte e esta informa-o que dentro de três dias lhe vai levar o mais querido dos seus servos. Aflito, o mercador chama o servo, dá-lhe um saco de moedas e ordena-lhe que viaje para Samarcanda, cidade longinqua e cosmoplita, situada na movimentada Rota da Sêda, enganando assim os desígnios da Morte.
Dois dias depois, deambulando pela cidade, o mercador encontra de novo a Morte, e esta, surpreendida pergunta-lhe: “Que estranho! Que fazes aqui?”. Atrapalhado, o mercador respondeu: “Exerço o meu míster. Porque perguntas isso?” ao que a Morte responde: “Por nada de especial. Apenas fiquei espantada pois tenho amanhã um encontro com o teu servo em Samarcanda e não te esperava encontrar na Cidade.”
Esta lenda, com todo o seu encanto, levanta no entanto uma questão importante: E se o mercador não tivesse enviado o servo para Samarcanda? Será que desta forma enganaria a Morte?
Esta fábula soberba revela-nos um pouco do mistério que cobre a inevitabilidade, ou não, dessa aparente fatalidade a que chamamos destino. Trata-se pois de uma questão sem resposta: Ou servo morreria em Samarcanda, ou a Morte, fatal e inevitável, não teria marcado o seu encontro com ele se não se tivesse verificado a fuga para Samarcanda.
História sábia, não há dúvida! E com ela apenas podemos aprender uma coisa: De alguma forma podemos talhar o destino, pois de contrário será o destino fatalmente a talhar-nos a nós, o que não é rigorosamente a mesma coisa!
Pelo menos, há algo que o destino nos pode, e deve, proporcionar: Uma longa e séria reflexão sobre aquilo que pensamos e esperamos da Vida, porque na realidade o único destino inevitável que mais tarde ou mais cêdo nos espera, é o verdadeiro "Encontro em Samarcanda", já que a Morte é a única inevitabilidade que conhecemos a partir do dia em que nascemos.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 5 de Fevereiro de 2004

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2004

CRÓNICA MARCIANA.
(Dedicado ao grande mestre Ray Bradbury)

Foto da superfície de Marte.

A planície inóspita e avermelhada estendia-se à sua frente como um mar encapelado de ondulação estática e cristalizada. Olhou para a sua direita e espreitou para o fundo de uma gigantesca fenda aberta na planície como se um ciclope a tivesse cavado com as mãos. Não lhe conseguia vêr o fundo, fosse por a luz solar não o atingir, fosse pela enorme profundidade a que se encontrava.
Meditou na presistência da corrente de água, já há muito desaparecida, e nos milhares de anos que levara a cavar tão formidável fôsso, enquanto, por qualquer razão ainda não desvendada se dirigia, revolta e furiosa, para o polo, aonde ainda hoje permanecia sob a forma de uma espêssa e quase continental camada de gêlo.
Pequenos redemoínhos alaranjados, criados por uma aragem presistente e contínua que corria rente ao solo, dançavam à sua volta como se fossem azougados diabretes. Súbitas e fortes rajadas de vento surgiam e desapareciam quase instantâneamente, provocando uma sonoridade parecida com o estalar de um chicote que, devido à rarefacção da atmosfera, soava de uma forma quase longínqua.
A constante poeira alaranjada toldava-lhe a visão dificultando-lhe a marcha.
Estava cansado! Cansado e sedento!
Decidiu que era hora de descansar e premiu com decisão o botão vermelho de um pequeno dispositivo que transportava na mão.
Instantâneamente acenderam-se as luzes e um batalhão de técnicos, envergando batas e toucas brancas, percipitou-se para ele ajudando-o a desenvencilhar-se do complexo fato sensorial que envergava, abrindo fechos, desligando conexões e procedendo a complexas leituras instrumentais.
Meio cambaleante sentou-se numa cadeira a um canto da sala e bebeu quase de um trago o copo de água que alguém lhe oferecia.
Passados cerca de oito minutos, na superfície poeirenta e agreste do planeta vermelho, um pequeno robot com cerca de metro e meio de altura e de aspecto vagamente humanoide, virou-se lentamente em direcção ao sol, desdobrou um complexo par de paineis solares e imobilizando-se por completo, iniciou a sequência automática de recarga das baterias, ficando a aguardar, com aquela paciência de que só as máquinas são capazes, que um outro cientista se enfiasse no sofisticado fato sensorial, enviasse uma ordem por rádio, para oito minutos depois recomeçar a sua infindável peregrinação pelas sêcas e agrestes areias marcianas.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 4 de Fevereiro de 2004

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2004

A RAPÔSA E AS UVAS.
Decerto que todos conhecerão a famosa fábula da rapôsa que tenta esforçadamente chegar a um cacho de uvas numa latada. Ao constatar a impossibilidade, conclui: "Estão verdes, não prestam!" e apressa-se a seguir o caminho. Nessa altura cai uma parra, e ouvindo o ruído, pensando tratar-se de uma uva, a rapôsa vira-se num guloso ápice.
É uma fábula velha como o tempo e que todos lemos em alturas diferentes da nossa vida e na qual tanta vez nos estribamos para critícar os outros.
Aparentemente fui fazendo uma série de escolhas ao longo da Vida, escolhas que fui sublimando numa espécie de pensamento filosófico global, e que tem servido de suporte a um alargado conjunto de posições morais que de certa maneira tenho vindo a pregar, não sem uma pontinha de soberba.
São posições sobre a minha forma de estar e de encarar a Vida, sobre as quais muitas vezes me manifesto, por vezes com alguma sobranceria, arrogando para mim uma certa superioridade moral.
Há tempos, por exemplo, discutia com um amigo meu o fenómeno do consumismo. No fundo, dizia eu, embora difíceis, as minhas escolhas tinham-me levado para um caminho que contrariava toda a cultura de consumismo que me rodeava, contentando-me eu apenas com o pouco necessário para levar uma vida digna, etc...
À noite, naqueles momentos de meditação que antecedem o sono, lembro-me amiúde da fábula da rapôsa e das uvas. Será que escolhi mesmo? Será que foi uma escolha assumida ou apenas um mero mecanismo de defesa, criado por alguém que de facto não conseguiu atingir os patamares materiais de quem o rodeia? E se me saísse uma lotaria, seria a mesma pessoa?
Eu gostava de acreditar que sim, mas a dúvida, há anos instalada, parece impossível de derimir.
Até que ponto somos senhores das nossas escolhas? Até que medida nos podemos orgulhar de nós próprios? Até que ponto não seremos simples joguetes de complicados mecanismos psicológicos criados para nos manter equilibrados?
De qualquer forma, se o caso fôr esse, a existência de um mecanismo tão paliativo dá-me a prova insofismável da suprema sabedoria e bondade do Criador que tão engenhoso dispositivo instalou em nós, protegendo assim a integridade psicológica da sua criação, tal como um electricista coloca um fusível para proteger o resto de uma complexa instalação eléctrica.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 2 de Fevereiro de 2004

sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

FALTA DE INSPIRAÇÃO.
Ultimamente tenho andado com uma enorme falta de inspiração. Eu bem me desculpo de que tenho pouco tempo, mas na verdade, tempo não é problema. Se estou inspirado, poucos minutos gasto a escrever um texto mínimamente aceitável, pelo menos pelo meu critério, que no que me respeita costuma ser mais exigente do que em relação a terceiros.
Assim, e porque acho que escrever por escrever não é o mais importante, vou deixar de impôr a mim próprio a quase obrigação de produzir algo diáriamente. Continuarei a cultivar o gôsto pela escrita, mas apenas quando a inspiração me tocar. Dizia Picasso que a inspiração é esquiva e que devemos estar muito atentos e aproveitá-la quando ela se digna visitar-nos.
Desta forma, e seguindo o conselho do grande mestre da pintura, vou estar atento e quando a inspiração se dignar a visitar-me, vou aproveitar ao máximo.
Desculpem-me o desabafo!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 30 de Janeiro de 2004
NEM DE PROPÓSITO...
Acerca do meu último post, que no fundo reflectia sobre o inevitável fim da vida, o Citador dá-nos hoje uma frase extremamente oportuna e que me faz pensar nos tantos "acasos" que comigo têm ocorrido. A citação é a seguinte:

"O fim da vida não é a felicidade, mas o aperfeiçoamento"
Madame de Stael

Ele há realmente coincidências que dão para pensar...

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 30 de Janeiro de 2004

quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

CONSELHOS DEVERAS ÚTEIS.
Depois do verdadeiro trauma nacional causado pela morte do desafortunado Micki Fehér, o nosso Bisturi, homem da medicina e com a verdadeira vocação para a preservação e manutenção da vida humana (basta passar os olhos pelo seu magnífico blogue) e que diáriamente luta nos hospitais contra os avanços da Morte, pública no seu blogue um pequeno guia relativo ao suporte básico de vida. Pela sua actualidade, oportunidade e utilidade, a todos aconselho uma vista.
Espero nunca estar em semelhante situação (claro que não passa só de esperança, pois o acontecimento será inevitável, mais cêdo ou mais tarde), mas se, e quando acontecer, peço a Deus, que tanto me tem ouvido, que seja atendido pelo Bisturi ou por alguém da sua Raça.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 29 de Janeiro de 2004

segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

DOBRE A FINADOS.
Assisti ontem, estarrecido, à morte "em directo" do jovem jogador Miklos "Miki" Fehér.
A escassos segundos do fim do jogo, após uma advertência do árbitro, o jogador sorriu com "fair play" e caíu morto!
É certo de que o conseguiram reanimar duas vezes, mas o seu corpo recusou-se a viver, já que acredito que o seu espírito deve ter lutado árduamanete para se manter entre nós.
O drama de vêr um atleta de 24 anos, educado, esforçado e simpático, fenecer perante alguns milhões de espectadores, é um espectáculo aterrador e que nos faz entender que a vida, além de sêr um bem escasso, é também um bem extremamente frágil. Os rostos atónitos do público, o ar de desespêro dos colegas e a atitude denodada e esforçada do corpo clínico, ajudaram a dar um toque especialmente dramático a este infausto acontecimento que nos levou do convívio um jogador que ao longo de cerca de cinco anos nos habituáramos a ver lutar por aquilo que vulgarmente é apelidado de um "lugar ao sol".
Durante e após a ocorrência, foi particularmente penoso ouvir, e vêr, os vários jornalistas, básicamente telivisivos e radiofónicos, procurando frenéticamente saber se o estádio tinha meios de reanimação (tinha!), se os médicos tinham agido bem (tinham!), se a ambulância teria demorado tempo de mais (não tinha!) ou se o hospital estava habilitado a lidar com estes casos (estava!).
No fundo, para esta raça de abutres, o jovem que ali jazia sem vida, após os momentos iniciais deixara de ser a notícia, e esta era ávidamente procurada num eventual bode expiatório que daria alimento aos abutres por muitos e largos dias.
Infelizmente é esta a raça de jornalismo que alimentamos!
Quanto a Micki Fehér, que nos fique a imagem do jovem loiro, atlético, desportista combativo e leal, com a qual ele sempre nos brindou.
Paz a sua alma!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 26 de Janeiro de 2004

sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

UMA LENDA DE QUE EU GOSTO.
Conta uma velha lenda que num reino distante, havia uma encantadora princesa que foi tomada por uma grande melancolia.
O seu Pai, preocupado com a tristeza que ia mirrando o espirito e a alma da sua amada filha, procurou uma solução para o assunto. Mandou arautos pelo reino convocando bôbos, jograis, comediantes e toda a espécie de artistas, prometendo choruda recompensa a quem fizesse a sua amada filha sorrir.
Compareceram na côrte os mais virtuosos artistas, os mais dôces menestreis e os mais engraçados palhaços. A todo o custo exibiram as suas artes perante a bela e melancólica princesa, mas para desepêro do Pai, a triste rapariga não esboçou sequer um sorriso.
Cada vez mais preocupado, e esgotados os conhecimentos dos melhores Físicos e Médicos do reino, o soberano decidiu convocar um reputado Mago e pedir-lhe o seu sábio conselho.
Após uns dias observando e conversando com a princesa, que diáriamente definhava em virtude da tristeza misteriosa que lhe brotava da alma, o Mago informou o Rei de que havia apenas uma forma de curar a filha: Ela teria de vestir a camisa de um homem verdadeiramente feliz.
Arautos e mensageiros foram enviados pelo reino, oferecendo choruda recompensa pela camisa de um homem reconhecidamente feliz, mas todos regressaram acabrunhados, tristes e humilhados, pois na realidade não tinham conseguido encontrar em todo o reino um homem que se afirmasse totalmente feliz.
O Rei desesperava perante o vísivel definhamento da sua querida, mas melancólica filha.
Uma tarde, no regresso e uma viagem, pareceu-lhei ouvir alguém cantando alegremente.
Mandou parar a carruagem, e de facto, um canto alegre, vigoroso e cristalino, elevava-se no ar, oriundo de um pequeno bosque que cortava a monotonia plana da paisagem.
Seguindo a pé pelos campos e internando-se no bosque, o velho Rei deparou-se com um jovem camponês, em tronco nu, que manejando com vigôr o seu machado, entoava uma alegre canção, enquanto o suor lhe escorria pelo musculado corpo.
Acercando-se dele, o Rei perguntou-lhe: "Meu bom homem, responde-me apenas a uma pergunta: És uma pessoa feliz?". Com um largo sorriso na face, o camponês, limpando a transpiração da sua fronte trigueira, respondeu: "Mas claro, Senhor! Sou profundamente feliz! A floresta dá-me o que eu preciso e eu cuido dela da forma necessária. Eu dou-lhe o que ela necessita e ela dá-me o que preciso. De que mais necessito eu?"
O Rei, olhando aquele rosto saudável e tisnado do sol, acreditou de repente que estava perante o salvador da sua filha e assumindo uma pose circunspecta, propôs-lhe: "Meu rapaz, talvez não entendas as razões que me levam a fazer-te semelhante proposta, mas gostaria de sabêr se estarias disposto a vender-me a tua camisa. Dar-te-ei por ela aquilo que me pedires."
O homem olhou para o Rei com um ar, simultâneamente de assombro e embaraço, e murmurou: "A minha camisa, Senhor? Sabe... É que eu não tenho, nem uso camisa!"

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 23 de Janeiro de 2004
APÊLO À BLOGOSFERA.
De há uns meses para cá, o jornal PÚBLICO, orgão de referência na imprensa nacional, iniciou a edição de um suplemento, pretensamente humorístico, chamado o "Inimigo Público" e tem como divisa "Não aconteceu, mas podia têr acontecido". Este suplemento é uma perfeita merda!
Não tem graça, não tem estilo e não tem classe!
No que respeita às políticas editoriais do PÚBLICO, a mim nada me diz respeito, a não sêr que, às Sexta-Feiras, dia em que o malfadado suplemento sai, sou "obrigado" a pagar mais 20 cêntimos pelo jornal, sem usufruir de qualquer vantagem adicional.
Nada tenho contra a publicação de suplementos, e o PÚBLCO tem-nos em profusão, desde que não tenha de pagar por eles, principalmente quando o suplemento não tem qualquer espécie de qualidade e nada acrescente à minha informação ou cultura.
Por outro lado, o jornal PÚBLICO tem a boa iniciativa de têr um provedor que se destina a colectar e tratar das queixas dos leitores, que aliás é o conhecido jornalista Joaquim Furtado.
Deste modo, envio a todos os blogonautas no seguinte apêlo:
Através de um simples processo de "copy" e "paste" enviar ao Provedor do PÚBLICO, cujo endereço é : provedor@publico.pt, a seguinte mensagem:

Exmo. Senhor,
Serve este e-mail para manifestar junto de V. Exa, Provedor dos leitores do PÚBLICO, o meu desagrado pelo facto de ser obrigado a pagar mais 20 cêntimos todas as Sexta-Feiras pela compra do jornal, a pretexto de um suplemento idiota, de má qualidade e sem nenhum conteúdo informativo e, que se saiba, nenhum leitor exigiu.
Aceito de bom grado todos os suplementos que me queiram impingir, desde que não tenha de pagar por eles, ou pelo menos que me seja dada a hipótese de os recusar, sem que para isso tenha de pagar mais.
Aproveito a oportunidade para mais uma vez exprimir o meu desagrado pela "imposição" de material de pouco interesse e má qualidade, pelo qual sou obrigado a pagar se quiser ter a oportunidade de lêr o jornal."


Dado que se trata de um apêlo, ou melhor dizendo, uma verdadeira "campanha", daqui lanço o pedido para que, com as alterações que julgem necessárias, além de enviarem o respectivo e-mail, tenham a maçada e a atenção de divulgar esta iniciativa no vosso blogue.
Desde já agradeço a colaboração, pois acredito que todos concordarão que se trata de uma forma torpe e soez de nos apanhar algum dinheiro a trôco... De nada!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 23 de Janeiro de 2004

terça-feira, 20 de janeiro de 2004

EU SOU UM PREGUIÇOSO!
Há já imenso tempo que tenho guardados escrupulosamente numa pasta do meu desktop uma série de endereços de blogues que eu costumo visitar e que me visitam com regularidade.
A função desta pasta é a de actualizar regularmente a minha lista de "links". Como sou um preguiçoso, não o tenho feito, correndo assim o risco de melindrar pessoas que têm sido de grande simpatia para comigo.
Durante a semana é-me impossível levar a cabo essa não tão simples tarefa, mas prometo fazê-lo durante o próximo fim-de-semana.
A todos que me têm acompanhado nesta aventura, e que não têm sido devidamente obsequiados pela minha boa educação, peço as minhas mais sinceras desculpas.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 20 de Janeiro de 2004
UMA CITAÇÃO QUE ME FEZ REFLECTIR.
O Citador selecionou hoje uma frase que me fez reflectir bastante:

"É preciso ter dúvidas. Só os estúpidos têm uma confiança absoluta em si mesmos"
Orson Welles


De facto, sendo uma frase aparentemente simples, encerra em si uma verdade retumbante que nem sempre é totalmente evidente.
Neste princípio de século, rodeado de uma multidão de "especialistas" em tudo e mais alguma coisa, de políticos cheios de "certezas absolutas", de gente que não hesita em proclamar a sua "verdade" como sendo a única, em que a "competência" é sinónimo da ausência de dúvida, só posso concluír que, salvo raras e honradas excepções, estou rodeado de gente estúpida.
Não que eu seja de uma rara inteligência (estúpido também não sou e a falsa modéstia não faz de todo o meu género), mas se soubessem o verdadeiro mar de dúvidas que a todos os momentos me assalta, se pudessem avaliar o quanto me interrogo se estou a agir bem ou mal a cada momento, então decerto entenderiam como me tocou fundo e reconfortou a citação de Orson Welles.
PS - Não se esqueçam que já tivemos um Primeiro Ministro que afirmava amiúde: "Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas!", lembram-se?

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 20 de Janeiro de 2004

segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

A RAZÃO DAS MINHAS RAZÕES.
Ao longo de vários posts tenho vindo aqui a afirmar que sou um monárquico convicto. Como costumo dizer, sou políticamente monárquico.
Embora de um modo geral este tipo de posição tenha o condão de atraír um conjunto de gente pouco informada e por vezes mal educada, também tem trazido ao meu convívio pessoas que considero esclarecidas e educadas, independentemente de concordarem ou não com a minhas posições.
Por estas e outras razões, decidi dar um pouco de asas à minha ideologia e tentar explicar de forma simples e sucinta as razões que me levam a defender tão vigorosamente a causa da monarquia.
Em primeiro lugar começo por achar inexplicável que um país como Portugal, que se arroga de livre e democrático, tenha um artigo constitucional que define a "república" como única forma possível de governo, impossibilitando constitucionalmente que o povo se possa sequer exprimir sobre o assunto. Só posso vêr isso como uma afronta e o mêdo que a cobarde minoria que implantou à força a república sempre teve da voz do pôvo.
Em segundo lugar, no limiar de uma europa castradora das tradições e culturas nacionais, o representante de uma "família nacional", tal como o hino e a bandeira, funcionaria como polo agregador de uma nacionalidade que tem vindo a ser paulatinamente vendida a trôco de uns tantos pratos de lentilhas, que no fundo só aproveitam a uns tantos. Temos uma história demasiado gloriosa e sacrificada para que possa sêr vista exclusivamente à luz do mercantilismo e o pragmatismo que grassam entre os modernos "vendilhões do templo".
Como terceira razão, tenho para mim que um Rei, que não depende de uma eleição, terá sempre uma maior capacidade de equidistância em relação às várias forças políticas do que um Presidente, fatalmente eleito com o apoio de um qualquer partido político, jamais conseguirá têr.
Sobre aquele estafadíssimo argumento: "E se o Rei fôr um tontinho?" nem vale a pena perder muito tempo a responder, pois durante milénios as monarquias evoluídas sempre tiveram os mecanismos necessários para prevenir essa eventual desgraça sem com isso comprometer a essencial linha sucessória.
Além disso, considerando que as despesas de representação são sensívelmente as mesmas e sabendo a fortuna que se gasta ao levar a cabo cada eleição (e são de cinco em cinco anos!), imaginem-se só as vantagens económicas da solução monárquica.
Por último, e em tom de graça, na minha qualidade de Avô, que história poderia eu contar para um neto meu? Normalmente as histórias começam assim: "Havia num país distante um rei e uma raínha, pais de uma linda princesa...."
Imaginem só a versão republicana da história: "Havia num país distante um presidente da república e uma primeira dama que tinham uma filha que estudava na universidade..." Digam-me lá que encanto teria o enrêdo?

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 19 de Janeiro de 2004
AINDA A LIBERDADE RELIGIOSA.
Ontem de manhã, no remanso do acordar, vi na NTV um programa chamado, salvo êrro, "Revista da imprensa", no qual Joaquim Fidalgo, a quem eu costumo chamar um bom jornalista bom, tece comentários acerca das principis manchetes da nossa imprensa.
Dado que houve mais manifestações contra a rídicula proibição de utilização de símbolos religiosos nas escolas francesas, o nosso Joaquim Fidalgo, ao ser inquirido sobre o que achava, com a sa habitual lucidez, comentou o assunto de uma forma exemplar. "É preciso ensinar a tolerância nas escolas" afirmou ele " e isso não pode ser feito escamoteando o que diferencia as pessoas". De facto, de que serve proíbir as meninas de usar a cabeça coberta na escola se ao saírem para a rua, elas de imediato se cobrirem? Concordo com Joaquim Fidalgo: Só se pode promover a tolerância ensinando a aceitar e respeitar as diferenças e estas só podem ser aceites e respeitadas se estiverem à vista e não escondidas.
A presistirem estas atitudes, de cariz profundamente jacobino, não será de admirar que as comunidades árabes comecem a criar as suas próprias escolas, iniciando assim um pergosíssimo processo de auto-segregação, que poderá transformar rápidamente essas escolas em autênticas "madrassas", verdadeiros ninhos ideológicos onde se origina o caldo de cultura que dá corpo a todos os fundamentalismos.
Numa época em que o terrorismo paira sobre as nossas cabeças como uma espada de Damócles, seria bom termos a lucidez de pensar e pesar bem as nossas atitudes e decisões acerca de matérias tão sensíveis como esta.
Deus nos ajude!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 19 de Janeiro de 2004

terça-feira, 13 de janeiro de 2004

FALANDO DE MOLUSCOS.
Acerca do meu post Preplexidades (I), acabou por se gerar um pequeno duelo Portugal-Brasil acerca de política interna brasileira. A coisa foi complicada (será que já acabou?) metendo pelo meio uma pequena discussão de sistemática zoológica em que se discutiu se a lula seria um molusco ou um cefalópode (afinal é ambas as coisas!).
Confesso que tenho seguido de longe a política interna brasileira, mas não posso deixar de me lembrar de que quando saí de S. Paulo, de regresso à Mãe Pátria, após sete anos de trabalho e vivência, despontava Luis Inácio “Lula” da Silva como figura de prôa das primeiras greves dos metalúrgicos surgidas no ABC, zona industrial de S. Paulo.
Passados estes anos, Lula tornou-se na Cinderella da esquerda bem-pensante europeia. Imagine-se, um operário, sem formação académica, consegue chegar ao mais alto cargo da nação! Fantástico! A democracia a funcionar em pleno! Etc... Já o mesmo acontecera a Lech Walesa na Polónia, mas parece que ninguem se lembra do assunto pois o homem não era lá muito dado a socialismos...
Assim, temos então uma Cinderella (um pouco barbuda para meu gosto!), adulada pela elite políticamente correcta da nossa decrépita europa e em declínio de popularidade no seu próprio país, o que era inevitável. Cadê a “fome zero” e a defesa dos sem-terra e mais não sei quantas promessas?
De facto, como alguém sugeriu, Lula não é um êrro de casting! O verdadeiro êrro está no guião escrito pela esquerda brasileira, que como qualquer outra esquerda, é completamente ineficiente. Um mau actôr para um filme série B, seria como eu poderia definir Luis Inácio "Lula" da Silva no actual contexto.
Agora, como a qualquer Cinderella que se preza, pouco mais lhe parece restar do que aguardar que soem as doze badaladas da meia noite e o coche dourado onde ele pensou ter embarcado, vire uma abóbora e o pôvo brasileiro passe a ter a verdadeira consciência de quem colocou no poleiro.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 13 de Janeiro de 2004

sexta-feira, 9 de janeiro de 2004

PRISIONEIRO ENTRE DOIS UNIVERSOS.
Acabei de ver um excerto de uma entrevista dada por Michael Jackson, na sequência das acusações de pedofilia que sobre ele impendem.
A figura é patética!
Não é branco nem prêto, não é homem nem mulher, não é adulto nem criança, é tão somente uma aberração!
A forma inocente e ingénua com que se defende das acusações, ou é maquiavélicamente elaborada ou não passa de uma ingenuidade absoluta.
Afinal de que lhe serviu a fama e a fortuna? Apenas o tornou prisioneiro de uma espécie de terra de ninguém, que indelévelmente define a fronteira entre o mundo real e a "Neverland" que ele a todo o custo quis construir e manter, como se pudesse sêr um Peter Pan na terra dos Meninos Perdidos, onde o tempo não passa e a maldade se resume às pretensas patifarias do Capitão Gancho.
De um sêr como aquele que vi na televisão não se consegue têr raiva ou rancôr, apenas se pode têr pena, senão mesmo piedade.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 9 de Janeiro de 2004
PREPLEXIDADES (II)
O Procurador Geral da República, o Dr. Souto Moura (ou o Gato Constipado, como por vezes o apelidam), vem oficial e publicamente desejar que os operadores judiciais cumpram a lei em 2004.
Cá no meu fraco entender, a situação é completamente surrealista!
Já agora, o Comandante da Brigada de Transito da GNR também pode desejar que os seus agentes cumpram o código da estrada, o Director Geral de Impostos pode desejar que os seus funcionários cumpram as suas obrigações fiscais, o Suprintendente da Polícia poderá também desejar que os seus guardas não sejam gatunos, etc... etc...
O que sobra daqui é que parece normal que quem deve sêr o exemplo do cumprimento de determinada lei, na realidade não o é, e na sua qualidade de "aparatitch" não tem sequer a necessidade de o ser.
País fantástico, pôvo de merda! Mais nada me ocorre: Tenho orgulho de sêr Portugês mas tenho vergonha daquilo em que se tornou o "nobre pôvo, nação valente e imortal..."

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 9 de Janeiro de 2004
PREPLEXIDADES (I).
O nosso muito respeitado INE (Instituto Nacxional de Estaística) vem-nos informar da seguinte realidade nacional: Os portugueses gastam anualmente três vezes mais em comunicações do que em educação. É um dado oficial!
E agora?
Vamos continuar a discutir as propinas, ou vamos a começar a sêr finalmente honestos?

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 9 de Janeiro de 2004

terça-feira, 6 de janeiro de 2004

FINALMENTE, UMA PERSONALIDADE DE ESQUERDA!
De facto começava a suspeitar que o repúdio da proibição da ostentação de símbolos religiosos nas escolas francesas, se tornara numa espécie de "bandeira" da direita sociológica portuguesa, á qual me orgulho de pertencer.
Finalmente, o Professor Vital Moreira vem-nos hoje demonstrar que assim não é. E ainda bem!
Acerca da posição possível da chamada "esquerda caviar", custava-me a crer que os seus oráculos habituais abordassem sequer a questão: Se por um lado este assunto prefigura um claro atentado aos direitos individuais de liberdade de expressão, o assunto "religião" é tão incómodo para essa gente, que na sua prespectiva mais vale dexá-lo morrer na praia.
Confesso não sêr um fã incondicional do Professor Vital Moreira. Lembro-me vagamente que em tempos se bandeou do Partido Comunista, tem uma prosa erudita e conhecedora, mas básicamente pesada e chata, como aliás é apanágio de certa classe político/intelectual deste país. No entanto, reconheço que neste particular, além de ter apreciado a prosa do Professor (básicamente por concordar com ela), penso que trouxe novas e corajosas ideias ao debate, com uma honestidade e clareza notáveis. Acerca do contributo de Vital Moreira sobre o assunto, destaco concretamente a seguinte pasagem:

Mas, bem vistas as coisas, ela tem menos a ver com o princípio laico do que com a tradição francesa, de origem tipicamente jacobina, que faz prevalecer a ideia de nação sobre as identidades comunitárias e a assimilação cultural das minorias sobre a diversidade. A raiz da medida é a mesma que leva a França a não reconhecer a existência de minorias étnicas, linguísticas ou outras que pudessem pôr em causa a identidade e homogeneidade do "peuple français". O que a motiva é menos a questão da religião em si mesma do que o receio da radicação e consolidação de identidades sectoriais subnacionais, com o seu potencial desagregador da coesão e identidade nacionais.

É claríssimo que concordo com Vital Moreira, e o facto de uma reconhecida personalidade da esquerda portuguesa, exprimir este tipo de posição, reconforta-me na certeza de que existem alguns valôres de carácter universal que nem as diferenças políticas conseguem apagar.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 6 de Janeiro de 2004

segunda-feira, 5 de janeiro de 2004

MAIS UMA VEZ OS FRANCESES.
Hoje, o jornal “O Público” dá à estampa um artigo de opinião, assinado por Mário Pinto e que de certa forma vem corroborar o meu post denominado “Fundamentalismo laico”. Dado que os jornais on-line têm o mau hábito de apagar do ciberespaço os seus artigos após pouco tempo, tomo a liberdade de citar aqui algumas passagens do referido artigo, o qual versa sobre a abolição dos sinais exteriores de religiosidade em nome da neutralidade laica:

Porém, é mais do que discutível a neutralidade de soluções impostas. O Estado define a própria neutralidade. Em seu nome liberaliza umas coisas, como por exemplo o aborto, as drogas e a oferta gratuita de preservativos nas escolas; e também em seu nome procede exactamente ao contrário, proibindo o uso de certas peças de vestuário ou de sinais religiosos.

Mais à frente, refere Mário Pinto:

Enquanto na França se proíbe o uso do lenço na cabeça das meninas muçulmanas que frequentam as escolas públicas, nos Estados Unidos uma proibição dessas dá lugar a um processo de intolerável e inconstitucional discriminação. Esta é a diferença entre a democracia que nasceu e vive na América, e a cópia laicista e autoritária que a França fez e exportou para toda a Europa com os exércitos de Napoleão, e hoje difunde com o jacobinismo de Chirac e outros na União Europeia.

Dado que concordo e assino por baixo, sobre o assunto mais não digo!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 5 de Janeiro de 2004
PRIMEIRAS REFLEXÕES DE 2004.
Quando decidi iniciar o meu blogue, em Julho do ano passado, o nome de O Velho da Montanha foi o que logo me ocorreu.
Que me terá levado a essa escolha? De facto não sou novo e isso poderá ter condicionado a minha opção. A vontade de exteriorizar e partilhar alguns pensamentos, ter-me-á dado uma certa ilusão de sabedoria, que estou longe de ter, mas que no meu imaginário prefigurava a ideia de um Velho numa Montanha. A ideia da montanha deriva do presuposto, ou "cliché se quiserem, de que uma certa ascese, só um asceta vive numa montanha, figuraria certo pensamento fiosófico. Não foi por acaso que Zaratustra, desiludido com a humanidade, se retirou para uma montanha, acompanhado apenas de uma águia e de uma serpente.
Umberto Eco, primeiro no “Pendulo” e em seguida em “Baudolino”, refere que o velho da montanha era um perigoso manipulador, que após tornar os seus seguidores dependentes do haxixe, os obrigava a todo o tipo de pérfidos trabalhos, o que lhes valeu o nome de “haxixins”, que segundo Eco, poderia ser o étimo da palavra “assassinos”.
Longe de mim tal ideia!
A verdade é que o Velho da Montanha foi criando as suas regras, assumindo os seus comportamentos e compromissos, enfim, foi criando a sua verdadeira identidade e personalidade.
Para grande espanto meu, o Velho apoderou-se de parte da minha pessoa de tal forma, que ao relêr textos mais antigos, chego a duvidar se terão de facto sido escritos por mim ou por qualquer outra entidade que habita subreptíciamente a minha pessoa. Seja como fôr, parece que o Velho da Montanha veio para ficar e salvo qualquer impulso suicida bem sucedido, continuará a habitar nesta estranha, mas fascinante blogosfera, que tanto nos apraz a todos frequentar.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 5 de aneiro de 2004