domingo, 9 de dezembro de 2018

OS BRIOCHES DE MARIA ANTONIETA.


Quando informada de que Povo tinha fome, Maria Antonieta, chocada, perguntou: "Então porque é que não comem uns brioches ?"

Esta resposta, normalmente tratada como uma afronta, ou mera estupidez, não deixava de ter a sua lógica. Naquela gaiola dourada que era o Palácio de Versailles, rodeada pela nulidade das damas da côrte, Maria Antonieta respondeu com base na percepção que tinha da realidade, já que jamais tinha sido exposta à verdadeira miséria do Povo de Paris.

De facto, sob um ponto de vista filosófico, ninguém conhece a realidade, mas únicamente a percepção que tem dela, pelo que há que ter um certo cuidado, ao brandir as certezas sobre a sua natureza.

Assim como Maria Antonieta, também o "Sistema", ou "Mainstream Político", está aprisionado, não numa gaiola dourada, mas numa de aço inox, construída principalmente por tecnocratas, sociólogos, filósofos e políticos, que elaboraram uma construção político/social utópica, em que consideram que uma humanidade homogénea, sem fronteiras, com uma economia comum e potencialmente menos conflituante, seria a resposta a todos os males do Mundo. 

Esqueceram-se no entanto de algo fundamental: É que uma construção dessas não pode ser feita de cima para baixo, portanto imposta, e que as culturas diferenciadas, podem ser de certo modo toleradas, mas não são miscíveis e poderão ser históricamente contrárias à própria natureza dessas mesmas Sociedades.
Criou pois o "Sistema" uma percepção da realidade, na qual as élites têm a obrigação de conduzir o Povo ignorante ao Shangri La que perspectivam ser o caminho para a Sociedade Ideal.
Houve então um ponto em que, inebriados com a sua putativa clarividência, acharam que o Povo provávelmente não compreenderia as suas boas intenções, e foram elaborados planos destinados a destruir os velhos arquétipos, como as noções de Pátria, de Nacionalidade, de orgulho no seu passado, nas suas raízes e na sua História, que insistentemente iam surgindo pela frente, inicialmente de forma esporádica, até se tornarem insistentemente mais frequentes, começando a criar fenómenos que não estavam previstos no plano que rigorosa e cientificamente haviam construído.

A verdade, é que na sua cegueira, foram incapazes de compreender que as reais necessidades do Povo, lhe dava uma percepção totalmente distinta da sua percepção da realidade.

E assim, devagar mas inexorávelmente, o fosso entre Governados e Governantes foi aumentando cada vez mais.
A criação de uma espécie de aristocracia burocrata e política, começou a criar na Sociedade, clivagens cada vez mais profundas. Nesse processo, de forma mais ou menos inorgânica, o extremos começaram a exercer um jogo de equilíbrio automático de forma a procurarem uma certa compensação, e esse movimento causou uma vitima inesperada: o centro político desapareceu em combate.

Temos assim que, as oligarquias, acantonadas nos corredores do poder, vêm estes movimentos populares, inorgânicos mas poderosos, tentarem recuperar um pouco da sua soberania individual do colectivismo elitista que lhes tem sido imposto, e assustadas apelidam-nos de "Populismo", brandindo atemorizadas, fantasmas há muito enterrados.
O que mais assusta o Poder, são os movimentos inorgânicos, já que representam um poder difuso, sem estrutura convencional e portanto sem representantes nomeados, com quem possam negociar. Estes movimentos, aferida a sua força, têm conseguido através de estruturas simplificadas, chegar ao poder por via democrática, lançando o pânico nas oligarquias que dominam o "Sistema".

No seu entender, o "Populismo" não passa de um engano que promete dar ao Povo aquilo que ele pede e que de forma nenhuma se coaduna com os auto-proclamados benefícios de uma política sensata e científica, organizada sobre rígidos cânones, que eles pensam saber que representam o melhor para os Povos, e que facilmente aprenderam a controlar.

Execram estes movimentos considerando que constituem um grave problema para as Sociedades, não enxergando sequer que não são o problema, mas sim o sintoma.

O problema, esse está a montante, quando os Governos assinam tratados e compromissos para os quais não estão especificamente mandatados, quando clamam pela repetição de referendos, quando o resultado é antagónico aos interesses das oligarquias, no fundo, quando desrespeitam desdenhosamente os Povos.

E os resultados estão à vista: candidatos Anti-Sistema começam a ganhar eleições em todo o Ocidente, e outros vão subindo de forma regular e consistente nas sondagens, perante o desespero de oligarcas e dos seus sicários.

Não será descabido imaginar que existirão conflitos sociais e políticos de maior ou menor dimensão que poderão encerrar riscos, mas esse será o preço a pagar para tornar a encarrilar as políticas  na sua forma mais nobre e realista, derrotando de vez os experimentalismos sociais, criados nos laboratórios das unidades de Estudos Sociais das Universidades e os pornográficos investimentos dos potentados que financiam de forma despudorada a chamada Nova Ordem Mundial.

É realmente necessário combater o dogma e calar os seus guardiões, devolvendo ao Povo legítimas expectativas, já adiadas há demasiado tempo!