quarta-feira, 26 de novembro de 2003

INTERRUPÇÃO INVOLUNTÁRIA.
Por razões que me são alheias, vou ter bde interromper durante algum tempo o meu "bloganço".
Na realidade, a actualização do meu sistema informático assim mo obriga. Entre os orçamentos de reparação e a decisão de nova aquisição e sua eventual instalação, ainda vai mediar algum tempo.
No entanto, e para não perder o contacto, sempre que apanhar um computador à mão, publicarei um post até à regularização definitiva do meu equipamento.
"Keep in touch!"

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 26 de Novembro de 2003

segunda-feira, 24 de novembro de 2003

REFLEXÕES SOBRE DEUS (II).
Sem grande surpresa minha, confesso, o post anterior suscitou um grande numero de "bengaladas", todas elas pretinentes e respeitáveis. Seria díficil responder a cada uma, de forma personalizada e individual, por isso resolvi voltar ao assunto.
Reconheço que a minha soberba díficilmente me permite assimilar o maravilhoso mistério da fé. Ao ler o post anterior, a minha mulher, bafejada por esse dom, apenas replicou:" Tu complicas as coisas. É tudo muito mais fácil." e deve sêr.
As reflexões feitas anteriormente não pretendiam questionar as intrepertações que cada um faz do Criador e dos seus desígnios.
Como muito bem afirma Fabio Ulanin, cada vez que a ciência tenta explicar Deus, parece alguém que esqueceu a "password" e recebe de volta a clássica resposta:"Password incorrecta. Tente outra vez."
No fundo, a ideia que eu quis exprimir estava profundamente associada à complexidade do conceito de Deus, na sua vertente filosófica e científica para quem não tem a felicidade de ser suficientemente humilde para aceitar a simplicidade de uma verdade dogmática.
Na realidade, de que serve têr um moderníssimo emissor de FM se para o escutar só existirem velhos rádios de AM? Há que alterar os circuítos, as antenas, os transistores e todos os seus componentes para que se possa escutar a magnífica emissão em FM.
Por isso, insisto, que para quem não tem a ventura de ser bafejado pelo dom da fé, acreditando que há qualquer coisa de transcendente acima da nossa breve existência, díficil será não especular no sentido de encontrar respostas.
Como na parábola do Filho Pródigo, Deus criou-nos, lançou-nos na vida e espera agora que de alguma forma retornemos de modo a que possa matar o vitelo mais gordo para festejar o nosso regresso.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 24 de Novembro de 2003

domingo, 23 de novembro de 2003

REFLEXÕES SOBRE DEUS.
Eu não sei bem o que sou. Serei um crente? Definitivanmente não sou nem ateu, nem tão pouco agnóstico.
Citando o meu Pai pela enésima vez, recordo-me que ele se intitulava de místico, e por vezes, um pouco a contragosto, admitia sêr cristão. No meio dos delírios que lhe eram peculiares, e tão importantes para mim, costumava afirmar que a probabilidade do universo, e da Vida, se terem formado de maneira espontânea, eram as mesmas que fazer explodir um pacote de "sôpa de letras" e aparecer um dicionário perfeitamente organizado.
Inclino-me a concordar com ele, embora com menos simplicidade. Para mim, a Deus bastou-lhe engendrar, congeminar e criar o ADN inicial. Depois deixou funcionar a evolução natural. Desta forma, nem negamos o Criador nem a ciência que o tenta explicar (ou desmistificar) e aceitamos aquilo que realmente credibiliza qualquer Religião ou Mistícismo: O principio do livre arbítrio!
Ao contrário de muitos cristãos devotos, eu tenho uma ideia específica: Não é Deus que tem de se preocupar conosco, somos nós que temos de nos preocupar em estar de acordo com a sua Essência e Natureza.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 23 de Novembro de 2003
PACIÊNCIA...
Que se há-de fazer? O meu Boavista perdeu com o Porto e foi eliminado da Taça de Portugal!
Perdeu por 1-0 e perdeu muito bem, pois não jogou a ponto de um côrno.
Pelo menos tive uma certa alegria com a compustura de jogadores (apesar de faltosos), treinadores e dirigentes. Do árbitro não poderei dizer o mesmo, pois o homem apitava por tudo e por nada, acabando por prejudicar o espectáculo.
Ver que os dois Clubes reataram as suas relações e vêr José Mourinho a elogiar Erwin Sanchez, para mim é uma novidade, e confesso que prefiro o futebol assim.
Vamos lá a vêr quanto tempo vão durar estas tréguas, pois com o nosso dirigismo desportivo, francamente, não acredito em paz duradoura.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 23 de Novembro de 2003
AGRADECIMENTO SINCERO.
Quero agradecer públicamente, mas do fundo do coração, os magníficos "banners" que me foram enviados do Brasil (Tanto mar... Tanto mar...) pela Assunção Medeiros, da Asa de Borboleta.
Os "banners" de que falo são os que estão à cabeça da coluna da direita, logo por baixo do contador.
Por graça, informei a Sue de que era monárquico e que por isso pedi que mencionasse a borboleta Monarca de vez em quando. Pois a nossa amiga levou o pedido à letra à letra e vejam a maravilha com que me presenteou.
Muito obrigado Sue.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 23 de Novembro de 2003

sábado, 22 de novembro de 2003

BOM PARA MEDITAR.
Acabei de ler o VALIS e já estou a meter o dente noutro livro, mas há uma pequena reflexão que gostaria de partilhar.
A leitura é um prazer muito especial. É algo que nunca cansa, desde que estejamos a lêr o que gostamos. Ler um bom livro várias vezes, é um exercício fascinante, pois de cada vez que o relemos vamos tendo uma leitura diferente e mais refinada. É como passar areia por uma peneira várias vezes e ir diminuindo o crivo de cada vez que o fazemos, de modo a reter sómente a que é realmente mais fina. Jamais me cansarei de ler várias vezes os livros de que gosto!
Em VALIS, livro bastante complicado mas sublime, Philip K Dick conta que em determinada altura dava aulas de literatura numa universidade e um aluno pediu-lhe uma definição curta e sintéctica do conceito de realidade. Após uns momentos, Dick respondeu:" É o que sobra de alguma coisa quando deixamos de acredital nela."
Sublime!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 22 de Novembro de 2003
INTERVALO SANITÁRIO.
Como já repararam, e não se coíbiram de me chamar a atenção, fiz um pequeno intervalo nas minhas actividades blogueiras.
Chamemos-lhe um intervalo sanitário.
Em primeiro lugar, porque por vezes é necessário parar um pouco para recentrar a nossa prespectiva de vida. Em segundo, porque uma neurasteniazinha de poucos dias, nunca fez mal a ninguém. Chega mesmo a ser higiénica.
Está explicada a minha ausência durante estes dias. Ok?

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 22 de Novembro de 2003
MEMÓRIA DE UM HOMEM.
Fazem hoje quarenta anos que John Fitzgerald Kennedy foi assassinado em Dallas. A sua morte, quase sempre atribuída a uma conspiração, e a meu vêr com razão, deverá permanecer por explicar. Mais um daqueles mistérios, que tal como Camarate, ninguém quer ver resolvido.
Foi pena que o tivessem matado. Era um homem ainda jovem que muito poderia ter feito pelo seu país, e consequentemente pelo mundo.
Foi duro quando foi necessário e o seu braço-de-ferro com Nikita Krutchev, sobre a questão cubana, ia-nos custando uma guerra nuclear. Provou que estava certo e por isso ainda estou aqui e a escrever no meu blogue. Anunciou no principio do seu mandato que durante a década de 60 poria um homem na lua. Não o fez porque já estava morto, mas fê-lo o seu legado e Neil Armstrong deixou a sua pégada indelével na poeira do nosso satélite.
Haverá muitas razões para homenagear este homem, mas na fase de baixa auto-estima em que os portugueses se encontram, gostaria de relembrar aqui uma das suas mais célebres frases. Durante o discurso da tomada de posse, JFK fez o seguinte reparo aos americanos: "Não perguntem o que é que o vosso país pode fazer por vocês. Perguntem antes, o que é que vocês podem fazer pelo vosso país!"
Em memória dos 40 anos da morte de um grande homem, gostaria que os portugueses interiorizassem esta frase e fossem à luta, em vez de andarem aí pelos cantos a queixar-se da crise e à espera que alguem resolva os problemas por eles!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 22 de Novembro de 2003

terça-feira, 18 de novembro de 2003

COINCIDÊNCIA... OU TALVEZ NÃO.
Faz mais ou menos uma semana que escrevi o post "Recordações do meu Pai (II)", numa sequência de lembranças que foram realmente importantes e marcantes para mim.
Ontem, ao folhear um livro, deparei-me com a seguinte citação de Schopenhauer:

Portanto tudo paira por um momento e apressa-se a encontrar a morte. A planta e o insecto morrem no fim do Verão, o bruto e o homem ao fim de alguns anos. A morte fere sem se fatigar. Mas apesar disso, ou antes como se isso não existisse de maneira alguma, tal como se tudo fosse imperecível... É uma imortalidade temporal. Consequentemente, e apesar de milhares de anos de morte e decomposição, nada foi perdido, nem um átomo da matéria, e ainda menos do sêr interior que se exibe a si próprio como a natureza. Portanto em cada momento podemos gritar com satisfação: "Apesar do tempo, da morte e da decomposição, estamos ainda todos juntos!"

Fiquei profundamente perturbado!
Provávelmente o meu Pai lera Schopenhauer e retirara desta leitura as suas noções de eternidade, no entanto, como é que eu encontro, de forma casual, uma citação de tão reputado filósofo corroborando uma recordação com mais de cinquenta anos?
Não tenho explicações, teorias ou ideias. Eu até acredito nas coincidências, mas concordarão que há coincidências um pouco para além do extraordinário.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 18 de Novembro de 2003
O SERVIÇO DE LOUÇA CHINESA.
Wong Li era um respeitado ancião, que toda a vida tinha pintado fínissimos serviços de louça. Pelas suas mãos carcomidas, haviam passado muitos milhares, senão centenas de milhar de peças de delicada porcelana, que ele, com traços certeiros, quase automáticos, pintava com os tradicionais motivos da louça de Cantão. Os desenhos eram tão parecidos que passavam por iguais, dando assim uma identidade própria a cada serviço, mas simultâneamente com pequeníssimas e subtis diferenças que faziam de cada peça um objecto único e precioso.
Entretanto os anos foram passando, novos artesãos surgiram, apregoando novas técnicas e novos motivos. O trabalho começou a escassear para Wong Li, que todos os dias, impreterívelmente, cumpria o ritual de atiçar o fogo que há tantas dezenas de anos habitava no seu forno de cozedura. Os amigos perguntavam-lhe para que se dava ele a esse trabalho e Wong Li, pensativo, respondia invariávelmente que não poderia adivinhar quando teria uma nova encomenda e portanto tinha de têr o forno sempre preparado.
O tempo foi passando e Wong Li tornou-se alvo da chacota dos mais novos, que viam nele um velho excêntrico e já com pouco juízo, alvo perfeito para partidas e pequenas maldades.
Um dia, inusitadamente, chegou uma encomenda. Uma enorme encomenda! Os carros transportando a fina porcelana branca começaram a parar à porta de Wong Li e a retirar do interior do fêno macio as várias peças que constituiam o serviço. Eram ao todo oitocentas e cinquenta peças, entre pratos, tigelas, terrinas, travessas, chávenas e outras peças. Wong Li correu a atiçar o forno, a preparar os pinceis e pigmentos, e rápidamente começou a trabalhar.
Escolheu um desenho elaborado, trabalhoso e demorado.
Um amigo veio-o visitar e ao ver a pilha de loiça que esperava pintura e cozedura e a lentidão com que o trabalho se processava, perguntou a Wong Li por que aceitara o trabalho. De facto, tendo já o velho artesão mais de oitenta e cinco anos e não sendo senhor de uma saúde famosa, provávelmente não iria conseguir acabar o trabalho e por consequência, não receber o justo pagamento pela sua arte.
Enquanto o pincel deslizava com maestria e fluidez pela porcelana branca, dando corpo a maravilhosos pássaros, longinquas montanhas e paisagens campestres, Wong Li, sem levantar os olhos do que estava a fazer, respondeu numa voz muito calma: "Sabes, como em tudo na vida, o essencial é começar..."

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 18 de Novembro de 2003

segunda-feira, 17 de novembro de 2003

A LIBELINHA.

Aqui já há muitos anos li um conto fascinante, que se chamava exacatamente "A Libelinha". Já não me lembro de quem era o autor (teria sido Robert Heinlein? Talvez...), mas foi um conto que me marcou profundamente.

Num qualquer hipotético futuro, no qual as viagens no tempo eram já possíveis, existia uma empresa especializada em "safaris", nos quais os caçadores, a trôco de enormes fortunas, tinham a hipótese de matar um dinosauro.
De molde a não alterar o presente, experimentados guias exploravam o jurássico em busca de animais condenados, fosse por serem inevitáveis presas de predadores, fosse por doença, catástofre, etc... Esses animais eram marcados e apenas esses poderiam ser abatidos, num pequeno espaço de tempo anterior à sua já constatada morte. Assim se conseguia fazer um chorudo negócio, evitando cuidadosamente alterar o precário equilibrio do presente.
Os caçadores eram separados em pequenos grupos e seguiam com os guias, sobre umas placas antigravitacionais, de modo a não tocar em nada, e a única coisa que lhes era permitido, era disparar o tiro fatal sobre a bêsta pré-histórica préviamente selecionada.
Em certa expedição um dos caçadores entrou em pânico à vista de um enorme Tyranausauro, caíu da placa e pôs o pés naquele lamacento chão do jurássico. Foi instantâneamente apanhado por um dos guias, a expedição foi logo cancelada e voltaram rápidamente ao presente. O guia, irritadíssimo, explicava ao timorato caçador as tremendas consequências que podiam advir do seu gesto de pânico, enquanto avançavam pelo corredor. No fim deste havia uma placa. Ao olhar para ela, o guia estacou, e incrédulo, tentou ler o que lá estava: Onde se deveria lêr "Por Favôr, seguir pela direita", estava escrito "For lavôr, cegir pale deraita".
Atarantado, o homem parou, olhou para o seu cliente e agarrrando-lhe num pé observou-lhe a sola da bota: Esborrachada nas saliências da sola, jazia uma pequena libelinha.
A morte de tão insignificante animal, há tantos milhões de anos, modificara de forma subtil o presente.

A partir dessa altura passei a olhar para as pessoas como se fossem a libelinha do conto, e como consequência para mim próprio nessa mesma prespectiva: A existência de cada sêr humano, aparentemente importante ou não, marca de forma subtil, mas indelével, o futuro, pelo que parece fazermos todos parte de um enorme e complexo "puzzle" divino e num "puzzle", se nos faltar a mais insignificante das peças, jamais o conseguiremos terminar.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 17 de Novembro de 2003

domingo, 16 de novembro de 2003

CARAGO...
...Como Boavisteiro de gêma, odeio admitir isto, mas a verdade é que na minha óptica, o Estádio do Dragão é o mais bonito e mais conseguido estádio desta nova geração de estádios (basta tirarem o Taveira do circuito e...). Aquilo é realmente uma obra sublime, e continuando no registro anterior, a contragôsto, sou obrigado a dar os meus sinceros parabéns à comunidade dos "Andrades". Já agora, felicidades! Mas não ganhem tudo, pôrra! Que isso até parece mal.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 16 de Novembro de 2003
POR UMA CAUSA IMPERIOSA!



Por empenhada e profundamente louvável iniciativa do Bisturi, que diáriamente dá o seu melhor para salvar estes inglórios "combatentes" desta inútil "guerra civil".

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 16 de Novembro de 2003

quinta-feira, 13 de novembro de 2003

EU SOU COMPLETAMENTE FASCISTA...
...afirma o dedo acusador de Pedro Sá, do blogue Descrédito (bom nome...), e sabem porquê? Porque me atrevi a dizer que as crianças deveriam ser mais bem educados pelos pais. Nem mais!
Num post anterior, com o título de "Geração Blédine", citando dois artigos dados à estampa no Público, um de Helena Matos com o mesmo tìtulo e um outro publicado na véspera e que citava o pedopsiquiatra João Beirão, alonguei-me um pouco sobre uma geração demasiado protegida e mal preparada para as contrariedades.
Resultado: Violento ataque (via feedback) do esquerdalho! Será já campanha eleitoral para o caso dos putos poderem votar aos 16 anos?
Por curiosidade, como quem entra comprometido onde não deve, fui visitar o Descrédito e dei com o meu link, felizmente em muito boa companhia, como fazendo parte de um grupo apelidado de extrema-direita.
Não conheço o Pedro Sá, nem faço questão disso. Não sei a idade dele, não sei se tem filhos ou não. Se os tem, coitado dele e coitados deles! Se não os tem, espere pela pancada. Se não os pensa ter, abstenha-se de comentar o que não sabe.
Eu tenho quatro filhas e seis netos, felizmente muito bem educados, conhecedores das suas obrigações, senhores dos seus direitos. Portanto, nesta circunstância, pela lógica de Pedro Sá, sou completamente fascista!
Parafraseando o falecido Fernando Pessa: E esta, hein?

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 13 de Novembro de 2003
RECORDAÇÕES DO MEU PAI (III).
Desde que tenho memória de mim, o estatuto profissional do meu Pai foi sempre algo de misterioso.
Lembro-me, muito puto, de ele trabalhar numa companhia de aviação comercial, depois trabalhou numa agência de viagens. Chateou-se com tudo isto e lembrou-se de criar, publicar, distribuir e vender uma revista. Isto granjeou-lhe alguns conhecimentos importantes e a partir daí começou a viajar. Quando regressava das longas viajens, fechava-se num quarto, forrado de enciclopédias, dormia de dia, trabalhava de noite e escrevia, publicava, distribuía e vendia os livros produzidos pela experiência das suas viagens (pequenas edições que valem hoje um balúrdio!).
Lógicamente, vivíamos sempre à "rasquinha de massas", mas na verdade isso nunca foi grande preocupação lá em casa. Como quando estava em processo criativo, mal saía do seu quarto, adoptou como "farda" um tipo de fato-de-macaco à Mao Tse Tung, que entendia ser mais confortável, fácil de lavar e incomensurávelmente mais barato. No entanto, sempre que alguém referia a indumentária, apressava-se a esclarecer: "Nada de confusões! Eu sou Salazarista convicto!" e era-o!
Uma vez tive de preencher um qualquer formulário para uma qualquer finalidade. Ao sêr-me perguntada a profissão da Mãe, não hesitei e escrevi "doméstica", à pergunta correspondente, relativa à profissão do Pai, hesitei um pouco e perguntei-lhe o que haveria de escrever. Após uns segundos de reflexão, olhando para as enciclopédias que repousavam nas estantes, esclareceu-me com alguma desplicência: "Pode escrever aí que sou Técnico de Cultura Geral."
Nunca mais tive dúvidas acerca da sua profissão.
E era assim o meu Pai...

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 13 de Novembro de 2003

quarta-feira, 12 de novembro de 2003

RECORDAÇÕES DO MEU PAI (II).
Era eu ainda menino e moço, quando uma vez acompanhei o meu Pai que ia tratar de qualquer assunto à junta de freguesia. Esta ficava junto à igreja, que por sua vez confinava com o cemitério. Inusitadamente, com algum desconforto meu, decidiu entrar no cemitério. Era um cemitério de aldeia, pequenino, que para além dos inevitáveis ciprestes, era dominado por uma enorme tília.
Deambulámos no meio das campas até que parámos perto do tronco da tília. O meu Pai olhou-lhe para a copa e setenciou: "Quero ser enterrado aqui, num caixão de madeira". Atrapalhado, perguntei-lhe porquê e ele então explicou-me que não queria abandonar o ciclo da vida. Assim se fosse enterrado naquele local, o seu corpo entraria em decomposição, seria devorado pelos vermes que por sua vez iriam fertilizar a terra, entrando posteriormente na seiva da árvore. "Assim, daqui mais ou menos uns 20 anos estarei a ressuscitar na forma de um rebentinho, que mais tarde alimentará um animal, etc..." Fiquei compreensivelmente horrorizado com a ideia, o que me pareceu ter-lhe dado um certo gôzo.
Acontece que morreu cêdo, vítima de um prematuro enfarte do miocárdio. Foi enterrado naquele mesmo cemitério e ao pé da grande tília.
Quase nunca lá vou, mas quando isso acontece, já não sei bem em que sítio está enterrado, mas fico por algum tempo a olhar para os ramos frondosos da tília na esperança infantil de descortinar algum rebento que me pareça diferente dos outros.
Sem me ter apercebido, foi naquela tarde, naquele pequeno cemitério, que tive a primeira noção do que poderia sêr um conceito de eternidade.
Era assim o meu Pai...

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 12 de Novembro de 2003
RECORDAÇÕES DO MEU PAI (I).
O meu Pai era uma pessoa com imensa graça. Era um pouco louco, penso eu, e um dia comentei-o com ele. "A loucura é um estado de graça, que nem todos conseguem voluntáriamente atingir." respondeu-me cortando-me o pio. Era um homem neurótico, mas de certa forma exuberante e adorava as grandes tiradas como a que acabei de citar.
Em certa altura, quando falava com ele sobre as hipóteses futuras da minha vida, coisa que na altura envolvia estudos e tudo o mais, ele observou: "Nos tempos que correm, o que interessa é a especialização. A especialização consiste em saber cada vez mais sobre cada vez menos. Nesta prespectiva, a lógica indica-me que um homem com futuro, será alguem que saiba tudo sobre nada,"

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 12 de Novembro de 2003

terça-feira, 11 de novembro de 2003

AS ARMAS DOS FRACOS.
Confesso que estou a ficar um bocado "cheio" das atitudes dos estudantes universitários, básicamente em Coimbra. Estes lídimos representantes da geração "Bledine", carregados de direitos e aparentemente sem quaisquer deveres, parecem ter mêdo que os colegas queiram ir às aulas, esvaziando deste modo aquilo que apelidam de a sua "luta". De facto, para quem está na posição dos dirigentes académicos, isso seria uma merda.
Assim, vai daí, e aproveitando a tibieza de um Reitor acobardado, vá de fechar as portas a cadeado, e para não haver dúvidas, bloquear o portão com um autocarro.
Pois é, quem tem cú tem mêdo, não vão os colegas de repente querer ir às aulas.
É esta a arma dos fracos: Obrigar os outros a fazerem o que eles querem e depois afirmar que têm o apoio inequívoco da maioria.
Que raça de "doutores" sairá daqui?...

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 11 de Novembro de 2003

segunda-feira, 10 de novembro de 2003

UPDATE.
Hoje, com pouca vontade (ou assunto) para blogar, decidi actualizar os meus links, pelo que deverão consultar a coluna da direita.
Poderão reparar que uns "foram à vida" pois estavam a ficar muito chatos para mim. Pelo contrário, há outros, que pelo seu conteúdo, mereceram, na minha prespectiva, fazer parte da minha lista de eleitos.
Como decerto já entenderam as minhas várias orientações (políticas, sexuais, culturais, etc...), aceito de bom grado sugestões para a minha lista de links, de modo a poder enriquecê-la com pessoal da minha igualha.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 10 de Novembro de 2003

domingo, 9 de novembro de 2003

UNPLUGED
Acabei, há cerca de meia hora, de ver o terceiro episódio da trilogia Matrix, o Revolutions.
A sensação que tive quando o filme acabou, foi a de ter ficado "unpluged", completamente desligado. Para dizer a verdade, penso que necessito de uns dias, e eventualmente de outra ida ao cinema, para absorver tudo aquilo que vi.
Na minha opinião (que está longe de ser modesta), dos três filmes da série, o Revolutions é de longe o mais conseguido. O ritmo narrativo e os efeitos especiais transportam-nos durante todo o filme, numa autêntica cavalgada de inusitada e sempre imaginativa acção.
Por estranho que pareça, por difícil que se torne descortiná-lo, trata-se, na minha opinião, de uma obra com grande carga filosófica, concretamente metafísica.
Enfim, trata-se de um filme para vêr com "olhos de vêr", passe a redundância. Há que recordar cuidadosamente os dois episódios anteriores, montar o respectivo "puzzle" e meditar em tudo isto. Ao encontrar um amigo que também foi ver o filme, é recomendável limitar-se a um "é pá... filme porreiríssimo!", pois se calha começar a tentativa de entrar por intrepertações, dá-me ideia que acaba tudo zangado.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 9 de Novembro de 2003.
DIGA LÁ OUTRA VEZ...(?)
Segui hoje com alguma indiferença as notícias acerca do Congresso que deu ínicio ao novo partido de Manuel Monteiro, a Nova Democracia.
Como ainda não entendi bem a base ideológica do novo partido e os seus objectivos programáticos, fui escutando o que iam dizendo os vários participantes que a TV se entretinha a entrevistar.
A dada altura, um senhor entusiasmado explicava: "Sabe, isto é um partido de ruptura e que pretende acolher quem não se revê no actual sistema. Dou-lhe um exemplo: Uma pessoa que não goste de Fidel de Castro nem do Pinochet, é de esquerda ou de direita?".
Confesso que fiquei preplexo. Se isto são as bases da Nova Democracia, mal por mal, prefiro a velha.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 9 de Novembro de 2003

sábado, 8 de novembro de 2003

VALIS (I)
O romance de Philip K. Dick, VALIS, trata-se de uma obra autobiográfica, em que Dick se descreve a ele próprio como um personagem, semi-alienado, típico "junkie" dos idos anos 60, chamado Horselover (o étimo grego de Filipe, significa "o que ama os cavalos"). Horselover acredita que o Universo é constituído por informação e que ele próprio foi alvo de uma teofania (vulgo: Prova da existência de Deus), sob a forma de um raio laser que lhe deu um conhecimento aprofundado do que o rodeia. A partir dessa altura ele enceta um diário (poderia fácilmente ser um blogue), que ele intitula de exagese. Desse diário passarei a transcrever, de forma aleatória, algumas passagens:

#36. Devemos poder ouvir esta informação, ou antes narrativa, como uma voz neutra dentro de nós. Mas qualquer coisa saíu mal. Toda a criação é linguagem e nada mais que uma linguagem, que por qualquer razão inexplicável não podemos ler exteriormente e não podemos ouvir interiormente. Portanto digo que nos tornámos idiotas. Aconteceu qualquer coisa à nossa inteligência. O meu raciocínio é este: o arranjo de partes do Cérebro é uma linguagem. Portanto, porque não sabemos disto? Nem sequer sabemos o que somos, quanto mais o que é a outra realidade de que somos partes. A origem da palavra "idiota" é a palavra "privado". Cada um de nós tornou-se privado, e já não compartilha o pensamento comum com o Cérebro, excepto num nível subliminal. Portanto a nossa vida real e o nosso objectivo são conduzidos abaixo do nosso limiar de consciência.

Ai o LSD! Abençoados anos 60... que como Nietchze, estavam "para além do bem e do mal".

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 9 de Novembro de 2003
GERAÇÃO "BLEDINE".
Por qualquer razão que me escapa, não consigo fazer o link para um magnífico artigo, assinado por Helena Matos, no Público de hoje.
De um modo geral o artigo aborda a atitude da geração a que pretencem os actuais estudantes contestatários, explicando os comportamentos à luz da educação que tiveram. Assim, passo a citar:

Esta é a geração "Bledine". Aquela a quem tudo chegou devidamente triturado em menus cheios de vitaminas e sais minerais. A geração cuja educação foi organizada sob o terror do trauma. Se dormiam sózinhos, tinham traumas. Se dormiam na cama dos pais, traumas tinham. Se iam para o jardim de infância, tinham o trauma de deixar de estar em casa. Se ficavam em casa, tinham o trauma de ver os outros partir para o infantário e eles não. A escola então era uma sucessão de traumas. Eram os colegas que riam deles ou não lhes ligavam nenhuma. O próprio acto de aprender se tornou numa "traumomania": As crianças não aprendem porque ficam traumatizadas com as más notas. (...) Agora cresceram e acham que devem permanecer nesse previligiado estatuto. Querem continuar a andar ao colo mesmo fora de casa.

Eu achei o artigo muito bem observado e muito bem escrito. Já ontem, no mesmo Público, a jornalista Paula Torres de Carvalho, citando o pedopsiquiatra João Beirão, afirmava o seguinte:

"Lá em casa, eles são o centro de todas as atenções. Não pedem, exigem. Não obedecem, mandam. Dormem quando lhes apetece, comem o que bem entendem, choram, gritam, fazem birras quando os contrariam. São pequenos "ditadores" de seis, oito, onze anos, que não têm a noção dos limites nem da diferença entre gerações. Os pais, derrotados, dizem que "não têm mão" neles. Em muitos casos, cedem à prepotência das crianças e deixam-nas dominar. Em muitos casos, procuram apoio psicológico para resolver o problema que os especialistas designam por omnipotência infantil".

Não posso deixar de me lembrar de um "ganapo", aí dos seus oito anos, que no estacionamento do Carrefour sinalizava o seu pai, de modo a que este conseguisse arrumar um "jeep" junto a uma coluna. Num pequeno descuido, o homem raspou a porta na coluna. Com um ar furibundo, o garôto, aos gritos, exclamou:"Era para o outro lado, bêsta!", ao que o pai, envergonhado, apenas conseguiu responder: "Desculpa, filho."
Isto vi eu, com estes olhos que a terra hà-de comêr! Agora espantam-se que eles andem aí a gritar "Não pagamos!" e a fechar as portas das faculdades a cadeado, como se de alguma forma imaginassem que o mundo tem de girar à sua volta.
De facto se calhar não têm culpa: São a geração "Bledine"!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 9 de Novembro de 2003

sexta-feira, 7 de novembro de 2003

VÍRUS NA BLOGOSFERA.
Suponho que seria mais ou menos inevitável! Já outros Bloggers me tinham dado conta da existência de um vírus na Blogosfera: Um vírus que ataca através do mecanismo de "feedback" disponibilizado aos visitantes.
Não é um vírus perigoso, pelo contrátrio, é completamente inofensivo. É apenas chato por que nos confronta com a falta de educação dos outros.
Dsponibilizo um "feedback" para todos, mesmo para os malcriadões que se entretêm com insultos rascas. A estes mando um singelo recado: Continuem com o insulto, pois eu, parafraseando o putatitvo candidato a "Nosso Primeiro", estou-me realmente cagando para isso!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 7 de Novembro de 2003

quarta-feira, 5 de novembro de 2003

ESTADOS DE ALMA.



Hoje estou particularmente contente! A encomenda da Mediabooks que eu esperava já há uns dias finalmente chegou e lá dentro vinham os dois volume de VALIS, de Philip K. Dick. Há anos que não lhes punha a vista em cima. Os vários exemplares que fui comprando ao longo da vida, foram-se esfumando em empréstimos e ofertas. O último foi consumido num violento incêndio que aqui há uma dúzia de anos me levou os poucos haveres que me haviam restado de um divórcio. Pensava ter desistido, mas há uns dias em Barcelona dei comigo a discutir convictamente com um amigo a obra de Dick e por isso, logo que cheguei, iniciei a minha pesquisa e cá tenho os dois preciosos livrinhos, que orgulhosamente ostentam os nºs 300 e 301 da mítica colecção Argonauta. Por qualquer razão que me escapa, o tradutor chamou-lhe "O Mistério de Valis", mas que se há de fazer...
De momento já encomendei uma outra preciosidade do mesmo autor: "A penultima verdade", também há muito perdida.
Hoje vou abandonar a Blogosfera mais cêdo e vou mergulhar pela enésima vez na fantástica leitura de VALIS, para mim o melhor livro de Dick.
Não se espantem quando começarem a aparecer as citações...

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 5 de Novembro de 2003

segunda-feira, 3 de novembro de 2003

DISLEXIAS POLÍTICAS.
Fico fascinado com algumas incongruências, que aqui e ali, vão pontuando alguma da actualidade, da qual somos actores, ou figurantes, involuntários.
Numa altura em que resurge uma certa discussão entre as virtudes políticas, ou do sistema monárquico ou do sistema republicano, conforme as crenças, e porque não, a cultura de cada um, tem lugar na sociedade um dálogo mais ou menos surrealista: Por um lado a aparente aceitação da, plebeia, divorciada e gírissima, noiva do Principe das Astúrias e por outro lado o escândalo provocado na "intelectualidade" francesa pela escolha dos autarcas da nova face da "Republique Française", uma apresentadora de um programa vespertino de televisão, do tipo da nossa Julia Pinheiro ou Fátima Lopes.
Se por um lado, num sistema tão repudiado pelo esquerdalho, temos gente satisfeita, que de alguma forma se revê numa espécie de "Cinderella" e adere a todo o "glamour" do ideal de uma verdadeira família (real) espanhola, por outro lado temos todo o cinzentismo pseudo igualitário dos autarcas franceses que votam numa figura popular, de baixa qualidade, na qual se parecem rever, ou básicamente através da qual pensam catar alguns votos.
Uma reflexão sobre estas duas situações demonstram bem o risco e a estupidez de pensar que os símbolos nacionias podem ser votados ou plebiscitados. Em Portugal, felizmente estamos só a meio caminho e o único símbolo nacional que votamos por cá, é o Presidente da Republica, que infelizmente bem o sabemos, trata a malta por "pá", e por confissão do próprio, diz os piores palavrões ao telefone. Se enveredássemos pelo caminho dos franceses e votássemos outros símbolos, não seria de admirar que o nosso Hino passasse a sêr uma qualquer canção "pimba" da autoria de Marco Paulo ou do Emanuel.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 3 de Novembro de 2003
DEPOIS DA TEMPESTADE...
Cumprido o meu doloroso aniversário, rodeado de toda a compreensão, e paciência, dos que realmente me amam, estou de volta ao activo.
Este exercício de auto-comiseração, repetido ritualmente durante os ultimos anos, para além de cruelmente pôr à prova o amôr dos que me rodeiam e me são queridos, tem o efeito terapêutico de um tradicional clíster: Tira-me a merda toda da cabeça, pelo menos por um prazo de tempo razoável e funciona como uma autêntica revalidação de um prazo de validade, que no meu entender, não é já suficientemente alargado.
A todos os que não têm nada com isso, e são certamente uma esmagadora e ciclópica maioria, peço as minhas desculpas, que não posso qualificar de "humildes" porque na realidade não sou uma pessoa humilde.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 3 de Novembro de 2003