sábado, 8 de novembro de 2003

GERAÇÃO "BLEDINE".
Por qualquer razão que me escapa, não consigo fazer o link para um magnífico artigo, assinado por Helena Matos, no Público de hoje.
De um modo geral o artigo aborda a atitude da geração a que pretencem os actuais estudantes contestatários, explicando os comportamentos à luz da educação que tiveram. Assim, passo a citar:

Esta é a geração "Bledine". Aquela a quem tudo chegou devidamente triturado em menus cheios de vitaminas e sais minerais. A geração cuja educação foi organizada sob o terror do trauma. Se dormiam sózinhos, tinham traumas. Se dormiam na cama dos pais, traumas tinham. Se iam para o jardim de infância, tinham o trauma de deixar de estar em casa. Se ficavam em casa, tinham o trauma de ver os outros partir para o infantário e eles não. A escola então era uma sucessão de traumas. Eram os colegas que riam deles ou não lhes ligavam nenhuma. O próprio acto de aprender se tornou numa "traumomania": As crianças não aprendem porque ficam traumatizadas com as más notas. (...) Agora cresceram e acham que devem permanecer nesse previligiado estatuto. Querem continuar a andar ao colo mesmo fora de casa.

Eu achei o artigo muito bem observado e muito bem escrito. Já ontem, no mesmo Público, a jornalista Paula Torres de Carvalho, citando o pedopsiquiatra João Beirão, afirmava o seguinte:

"Lá em casa, eles são o centro de todas as atenções. Não pedem, exigem. Não obedecem, mandam. Dormem quando lhes apetece, comem o que bem entendem, choram, gritam, fazem birras quando os contrariam. São pequenos "ditadores" de seis, oito, onze anos, que não têm a noção dos limites nem da diferença entre gerações. Os pais, derrotados, dizem que "não têm mão" neles. Em muitos casos, cedem à prepotência das crianças e deixam-nas dominar. Em muitos casos, procuram apoio psicológico para resolver o problema que os especialistas designam por omnipotência infantil".

Não posso deixar de me lembrar de um "ganapo", aí dos seus oito anos, que no estacionamento do Carrefour sinalizava o seu pai, de modo a que este conseguisse arrumar um "jeep" junto a uma coluna. Num pequeno descuido, o homem raspou a porta na coluna. Com um ar furibundo, o garôto, aos gritos, exclamou:"Era para o outro lado, bêsta!", ao que o pai, envergonhado, apenas conseguiu responder: "Desculpa, filho."
Isto vi eu, com estes olhos que a terra hà-de comêr! Agora espantam-se que eles andem aí a gritar "Não pagamos!" e a fechar as portas das faculdades a cadeado, como se de alguma forma imaginassem que o mundo tem de girar à sua volta.
De facto se calhar não têm culpa: São a geração "Bledine"!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 9 de Novembro de 2003

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