REFLEXÕES SOBRE A VIDA (III)
De um modo geral toda a gente espera da vida milagres. Milagres no sentido em que espera que as coisas possam acontecer em seu benefício, sem que para isso haja uma verdadeira razão. Esperam herdar daquela tia velha, esperam que lhes saia a lotaria (muitas das vezes mesmo sem comprar o bilhete), esperam no fundo encontrar um pote de ouro no lado de lá do arco-íris ou qualquer outra coisa desse tipo.
Eu por mim acho que estou servido!
Com onze anos surripiei uma pistola que o meu Avô imprevidentemente guardava na mesa de cabeceira e fui mostrar à minha irmã, que teria aí uns nove anos, como funcionava a arma. Coloquei e tirei várias vezes o carregador, meti e extraí várias vezes uma bala na câmara e efectuei alguns disparos em falso para o ar, pequenos “click’s” que me encheram de confiança. Tanta era a confiança, que após novas demonstrações, encostei a arma à cabeça da minha irmã e preparava-me para mais um “click”. Lembro-me como se fosse hoje: Comecei a premir o gatilho e nesse momento tive a noção de uma voz na minha cabeça que indistintamente me tentava avisar. Parei, e por descargo de consciência, puxei a culatra atrás. Como que em câmara lenta vi a bala saltar da câmara, voltear no ar e caír no chão.
Mais tarde, já com trinta e cinco anos, lembrei-me de limpar uma espingarda de caça submarina. Estava sentado na sala enquanto a minha filha mais nova, então com dois anos, corria de um lado para o outro, naquelas brincadeiras de natureza insondável que se têm nessa idade. Desmontei a arma, limpei-a e armei-a para ver se estava tudo em ordem. Repentinamente, e sem nenhuma razão aparente, o arpão soltou-se a enorme velocidade, atravessou o vestido da criança, sem lhe tocar, e varou as costas de um cadeirão de madeira que lhe travou a trajectória. Fiquei sem fala por mais de meia hora!
Se somar a estas histórias, outras de somenos importância em que muitas coisas “quase” aconteceram, como ultimamente com o meu neto, sou obrigado a concluír que esgotei, e provávelmente ultrapassei mesmo, a minha quota de milagres, portanto já não peço mais nada. A Vida já olhou muito por mim!
Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 4 de Dezembro de 2003
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