quarta-feira, 31 de dezembro de 2003

THE "LAST CHANCE" POSTS OF 2003 (IV).

O Senhor dos aneis.
Ainda não tinha feito qualquer comentário ao "Senhor dos aneis", versão Peter Jackson, pois ainda não fui ver o ultimo episódio da trilogia. Curiosamente, desde que surgiu o primeiro dos filmes, eu ia comentando que já tinha visto uma magnífica versão animada nos anos 80. Ninguém parecia saber do assunto. Espantosamente, através de um comentário feito a um post de Manuel Azinhal, acabámos por descobrir, com 20 anos de dilacção, que deveríamos ter sido dos poucos a ver e gostar do filme, para alem de um detalhe importantíssimo: Lembrávamo-nos ambos do facto!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 31 de Dezembro de 2003
THE "LAST CHANCE" POSTS OF 2003 (III).

Acerca da nossa lingua.
De facto nunca tinha tido uma consciência concreta do "sarcasmo Peninsular", conforme o classifica o excelente blogue de Alexandre Soares da Silva.
Acerca da lingua Lusa, diz Alexandre o seguinte:

O desprezo é a distinção dos portugueses. Não há língua tão boa para desprezar. A bílis lusitana, o asco, o sarcasmo peninsular - esse sentimento que arqueou o lábio superior de Nicolau Tolentino, encaneceu Camilo Castelo Branco e esverdeou o rosto de Eça de Queiroz - aparece gloriosamente, de armadura completa e penacho por cima, nas cantigas de escárnio e mal-dizer. Está na língua toda. Em Portugal a peste negra era chamada de dor de levadigas, Deus meu. Talvez a intenção não fosse ridicularizar a doença, mas o efeito é o mesmo; e no mínimo mostra um certo desrespeito... Parolo, pascácio, lorpa, badameco, bucha - todas as línguas são cheias de xingamentos, mas em português os xingamentos são mais ridículos e doem mais.
Os personagens de Eça de Queiroz, se fossem engenheiros da NASA, não seriam capazes de mandar gente à lua. Um deles seria mostrado arrotando champanhe vagabundo na casa da amante gordinha. Um outro recebendo massagem no couro cabeludo com um emplastro anticaspa fedido e amarelo. Seriam ruins em matemática, e jogariam (mal) xadrez nos cafés enquanto falam idiotices sobre política. Se levantariam todos às pressas para puxar uma cadeira para o “excelentíssimo senhor comendador”... Ah, acho estranho que o livro central da literatura portuguesa tenha sido escrito por um homem incapaz de desprezar, que foi Camões. Que, mesmo quando desprezava, desprezava nobremente, antilusitanamente. O pendor para a antigrandiosidade, para o enxovalho e o ridículo, já estava nítido n’ A Demanda do Santo Graal, quando Mordred virou Morderete e disse: “Ai, por quem sois?” A nossa língua não é pra ter saudades, é pra dar bengaladas - com a panache e o sotaque de uma varina brigando na rua.


Pois é, amigo Alexandre, graças a Deus que os personagens de Eça não eram engenheiros da NASA, pois se o fossem, jamais seriam personagens de Eça. A língua é como uma arma (salvo seja!): É utilizada com a bondade ou maldade que cada um quer, portanto, se na sua opinião, o nosso "xingamento" é superior ao dos outros, só poderá significar que temos uma lingua mais evoluída e mais rica, pois decerto terá uma latitude de adjectivos e de descrição superior às outras.
Nesta prespectiva, para mim isso é bom, e já agora, ainda bem que desse lado do Atlântico aprenderam bem a lição. Sorte a vossa!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 31 de Dezembro de 2003
THE "LAST CHANCE" POSTS OF 2003 (II).

Questões que eu evitei abordar.
A discussão, acêsa e politizada sobre a questão da eventual legalização (ou despenalização) do abôrto, ocupou grande parte da intelectualidade política de Portugal. Sobre o assunto, deveras complicado e fratcurante, tentei não opinar. O meu "eu" moral muitas vezes se opôs ao me "eu" racional. A minha pessoa "espiritual" imensas vezes interrogou a minha pessoa "material" acerca de tão delicado assunto.
No entanto, lendo o que se vai escrevendo cá na "terrinha", pasmo em ver que o assunto se começou a pautar em bases meramente científicas, ou seja, quando é que o feto é de facto considerado "gente", quando é que poderá ser tido como uma "pessoa jurídica"?
Continuo sem ter respostas ou convicções que eu considere justas, mas se de facto passarmos a entender que este terrível problema não passa de uma questão científica, tomo a liberdade de citar Fabio Ulanin em relação ao seu post "Pandora":

"Não percebem, mas o império da ciência é o império do mesmo. E, onde tudo se repete com insistência e sofreguidão, quando tudo que temos é o modelo vago de um sentimento que chamam amor – mas que está absolutamente distante do Amor – e que se revela apenas um uso pessoal e egoísta, quando tudo é previsível e previsto por normas falsas – temos não o ceticismo, uma doença do nosso tempo, mas curável com doses maciças de cristianismo, mas o niilismo. O niilismo é a completa falta de perspectivas. Nós abrimos a caixa, mas retemos em seu interior a Esperança. O niilista não só a abriu: arrancou sua tampa e se viu mergulhado no horror profundo e, para suprir sua carência, inventou esquizofrenicamente um mundo materialista no qual todas as coisas obedecem ao padrão laboratorial previsto. Se os fatos não correspondem à experiência, pior para os fatos."

Continuo com as minhas dúvidas, que decerto não terão carácter científico, mas básicamente moral. Se em consciência me perguntarem o penso do assunto, com a maior honestidade e embora quisesse dar uma outra resposta, responderei: Não sei!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 31 de Dezembro de 2003
THE "LAST CHANCE" POSTS OF 2003 (I).
Nestas ultimas horas do ano de 2003, senti uma enorme vontade de abordar alguns assuntos que me estavam atravessados na garganta, e nada pior que iniciar um novo ano com assuntos por resolver. Assim decidi postar os "last chance posts of 2003".

O ano que passou, na minha prespectiva.
O ano que passou, ou seja, 2003, foi um ano bom. Se eu fosse viticultor, diria que tinha sido uma boa colheita! E porquê? Foi tudo fantástico? Não! Nem pensar. Houve dezenas, senão centenas de coisas péssimas que de bom grado eu teria recusado. No entanto, e seguindo a lógica da minha Mãe, senhora de oitenta e bastantes anos, diria que foi bom. De facto, quando pergunto à minha Mãe como lhe vai correndo a vida, que lhe não foi fácil nem tão pouco agradável, ela responde-me invariávelmente o seguinte: "Sabe, quando as coisas não me correm mal, já acho óptimo!"
Pois é. Há muito que aprender ainda e nem temos consciencia disso.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 31 de Dezembro de 2003

segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

...E LÁ VAI MAIS UM!
Preparamo-nos para abandonar 2003 e entrar em 2004. Mais um ano, dirão os conformistas, menos um ano, afirmarão os fatalistas.
O ritual da passagem do ano foi coisa que nunca me entusiasmou. Raramente fui a reveillons e normalmente, como a filharada há muitos anos abalou, o meu ritual resume-se a uma breve saúde conjugal, telefonemas para as filhotas e por aqui me fico.
2003 foi um ano como os outros, execepto num pequeno detalhe: A minha descoberta da blogosfera e consequente chegada a este vozear ordenado, no qual reina a sonhada e utópica anarquia ordeira. Este facto de alguma forma alterou muitas das minhas prespectivas e permitiu-me voltar a reflexões há muito enquistadas no meu cortex cerebral e que aparentemente tinham perdido o seu prazo de validade, tal qual essas porcarias que vendem nos supermercados e que eufemísticamente chamam de iogurtes.
Pois bem, com grande surpresa minha, um espaço que se destinava a uma reflexão de restrita partilha, por manifesta falta de interesse pensava eu, começou a ser visitado por um inusitado numero de leitores que de forma muito activa, através dos seus comentários, me incitaram a continuar.
A todos os que me ajudaram nesta espécie de ressureição intelectual envio o meu sincero "bem hajam!"
Para todos vocês, amigos e amigas sem rosto, que fazem do espírito o principal objectivo, que dialogam pelo prazer do diálogo, que me respeitam e se respeitam, a todos sem uma única excepção, desejo um bom 2004.
Feliz Ano Novo para todos!!!!!!!!!!!!!!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 29 de Dezembro de 2003

sábado, 27 de dezembro de 2003

NINE O'CLOCK NEWS.
Passei um Natal calmo e sossegado. Mesmo aquele stress pré-natalício que por vezes impera cá no Lar, foi bem mais "soft" do que o costume. Enfim... Tive a ilusão de que o Ntal se cumpria na sua verdadeira essência.
Entre os dias 25 e 26 não prescindi de ouvir os noticiários e não tardei a caír na real: Atentados em Bagdad, números alarmantes da nossa "guerra cívil" rodoviária, terramoto devastador no Irão, homens-bomba em Tel Aviv, catástofre aérea no Benim...
Nessa altura só me veio à cabeça uma música, datada do fim dos anos 60, de Simon & Garfunkel, com o título de "Nine o'Clock News". Era uma simplicíssima versão do clássico "silent nigth". A música começava de forma normalíssima, ouvindo-se em fundo o noticiário das 9 da noite do dia 25 de Dezembro, emitido pela CBS, este noticiário ia subindo de volume à medida que a música se ia diluindo, acabando com o noticiário em verdadeiro destaque. As notícias, como calculam, eram tão desoladoras e violentas como as de hoje, o que me leva tristemente a concluir que em quarenta anos não aprendemos a ponta de um côrno!
Continuemos pois, ano após ano, a cantar a "silent nigth" e a ouvir as "nine o'clock news". Embora sem qualquer ilusão, podemos sempre viver na esperança de que um dia possamos ouvir algo diferente.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 27 de Dezembro de 2003

segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

FUNDAMENTALISMO LAICO.
Para lá do conhecido "chauvinismo", prosápia e arrogância, os nossos conhecidos franceses continuam com o habitual, e quase irremediável, rol de estupidezes.
Agora, argumentando com a laicidade do estado, decidiram legislar sobre os "sinais exteriores de religiosidade". Como representantes de um proclamado estado laico, governantes franceses reuniram com líderes religiosos das respectivas comunidades residentes em França (Imaginem lá a idiotice e falta de coerência!), para depois legislarem sobre a proibição de símbolos religiosos nas escolas: O véu islâmico, aquela espécie de capachinho que os judeus usam, o crucifixo católico e não sei se mais algum.
E isto porquê? Porque se consideram um estado laico, civilizado, ocidental e convencido da sua suposta superioridade moral.
Agora reparem no contrasenso: Um "punk" com o cabêlo cortado em crista, pintado com as côres do arco-iris, todo prefurado de "piercings" e com ar de quem não toma banho há um mês, pode ir à escola nas calmas sem sêr chateado por ninguém, em nome dos superiores valôres da liberdade. Por outro lado, uma menina educada, bem vestida, limpa e perfumada, se tiver a cabêça coberta por um véu, está impedida de entrar na escola.
Isto é rídiculo! É a imagem no espelho de um fundamentalismo bacôco.
É gente insegura, assustada e mal formada, que mandou vir os emigrantes para lhes limpar os esgotos e agora não lhes aceita a herança cultural.
Por mim, preferia que cada um ficasse na sua terra, mas já que os mandam vir, ao menos tenham a decência de os respeitar e não se comportem desta forma vergonhosa, própria de verdadeiros colonialistas culturais.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 22 de Dezembro de 2003

quinta-feira, 18 de dezembro de 2003

MENSAGEM DE NATAL.



Para todos que me visitam e também para os outros, para quem gosta de mim e também para quem não gosta, para quem me elogia e também para os meus detractores, embuído do que penso ser ainda a remeniscência de algum espirito de Natal, envio a seguinte mensagem:

Para nós, que nos educamos no culto do respeito pelo homem, têm muito valôr os simples encontros que se transformam, por vezes, em festas maravilhosas.

Antoine de Saint-Exupery


Para todos um santo Natal e que os sagrados valôres da família, da amizade, da solidariedade e do amôr desinteressado, se sobreponham à orgia consumista e interesseira que infelizmente se tem tornado sinónimo desta quadra festiva.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 18 de Dezembro de 2003

quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

ESPÍRITO LATINO...
Não resisto a partilhar convosco esta divertídissima crítica, que se arroga de sêr italiana, mas para mim é igualzinha à portuguesa.
Daqui endereço os meus agradecimentos ao bisturi, que no seu blogue me indicou tão divertido e caricatural endereço.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 17 de Dezembro de 2003
BIZARRO ESPÍRITO DE NATAL.



No outro dia, uma notícia do telejornal sobre o elevado prêço dos brinquedos, suscitou-me a maior das preplexidades. Não pela notícia em si, pois todos sabemos bem como está o custo de vida. O que me abismou foi a abordagem da dita notícia.
Tendo como fundo uma loja de brinquedos, a locutora, de forma bem objectiva, iniciou em "off" o seu texto da seguinte forma: "Neste Natal, é em lugares como este que os pais vivem o seu maior pesadêlo..." e a reportagem continuava, entrevistando pais frustrados porque os presentes que os filhos desejavam eram muito dispendiosos. As consolas de jogos electrónicos, caríssimas! E as Barbies? Uma loucura! E o Action Man?...
Que disparate!
Quem educou meninos com tamanha exigência? Quem é que jamais teve a coragem de dizer não? Quem não conseguiu explicar às crianças o que deveria ser o espírito de Natal? Que é feito da mensagem de amôr e boa vontade?
Na minha prespectiva, acho bizarro que o Natal se torne o maior pesadêlo dos pais. É a negação de tudo o que aprendi e é a negação de tudo em que acredito.
Assim, como que sendo uma maldição lançada por Satanás, a celebração do nascimento do Deus-Menino tornou-se para o homem-consumidor um verdadeiro pesadêlo, como bem notava a jornalista do telejornal.
Se calhar até é merecido.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 17 de Dezembro de 2003

terça-feira, 16 de dezembro de 2003

O FRACASSO DA UNIÃO EUROPEIA.
Só posso dizer que fiquei contente com o fracasso da Conferencia Intergovernamental da UE, que se preparava para nos enfiar pela goela abaixo uma pretensa Constituição que ninguém pediu e que ninguém votou.
Para expressar a minha posição em relação a esses cinzentões, que nós pagamos a prêço de ouro para definirem regras idiotas, tais como a curvatura dos pepinos, constituições europeias e outras estupidezes, redefini um velho auto-colante distribuido pelo jornal "O Independente", aquando o tratado de Maastritch.
Eis o que penso desta idiotice toda:



Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 16 de Dezembro de 2003
O AZAR DE SADDAM.
O verdadeiro azar de Saddam Hussein é ser um iraquiano e não um português. Se neste momento ele estivesse prêso em Portugal, começava já por apelar para o Tribunal da Relação, caso a coisa não resultasse, então apelaria certamente para o Supremo Tribunal de Justiça.
Conforme eu aprendi em pequenino, supremo significa o que é máximo, ou seja, aquilo que não se pode ir mais além.
Em Portugal não é assim!
Portanto Saddam apelaria certamente ao Tribunal Constitucional, no qual os juízes são nomeados pelo poder político, o qual encontraria inevitávelmente uma inconstitucionalidade e faria tudo voltar à 1ª Instância. Deste modo o processo ir-se-ia repetindo, repetindo, até chegar à almejada prescrição do processo.
Assim aconteceu com muitos criminosos, tais como Otelo Saraiva de Carvalho e o resto das criminosas FP-25.
Azar o de Saddam! Bem podia estar em Portugal em vez do Iraque.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 16 de Dezembro de 2003

segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

WE GOT HIM!
Foi com esta frase singela que Paul Bremer anunciou oficialmente ao mundo a captura de Saddam Hussein. Tinha sido capturado o ditador que decerto ombreará com Hitler, Staline e Pol Pot como um dos grandes assassinos do século XX.
Fiquei espantado com a reacção de muitas pessoas, que acharam indigna a forma de como as imagens de Saddam capturado foram apresentadas ao mundo. Concordo com incómodo provocado pela visão humilhante de um homem apavorado, pouco asseado e desorientado, sendo observado por um médico da mesma forma de como um veterinário observa um cão sarnento, aparentemente indicando que lhe doía um dente. De facto não foi bonito de se vêr!
No entanto é pena que em paralelo não possamos observar as caras de desespero e sofrimento dos milhões de homens, mulheres e crianças que morreram às mãos deste monstro, sem o mínimo dos direitos que pelo menos lhe vão ser assegurados. Se isso fosse possível, penso que ninguém se chocaria com a triste exibição de tamanho animal.
O homem que pediu, exigiu mesmo, ao seu pôvo que lutasse até à morte, entregou-se sem resistência, sem luta e declarando patéticamente que queria negociar as condições da sua rendição.
Foi apanhado como um rato na sua toca, mais nada sendo do que um rato, nem merecendo mais respeito do que um rato.
Nada me chocam as imagens divulgadas: Um médico avaliando as condições sanitárias de um animal.
Afinal, esta imagem vem de alguma forma atestar uma suspeita que sempre tive: Por trás de qualquer tirano sanguinário, esconde-se sempre um pequeno covarde, capaz de se borrar nas calças sempre que que deixa de deter o poder de infundir o terror.
Como já mais de que uma vez afirmei, não tenho qualquer dúvida de que a violência é a arma dos fracos.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 15 de Dezembro de 2003

quinta-feira, 11 de dezembro de 2003

IT IS ANYBODY HERE?
Lembro-me de ter visto o filme "The Wall", baseado no disco dos Pink Floyd e realizado por Alan Parker, pelo menos umas quinze vezes.
Considero o filme uma obra importante, bem conseguida e que de alguma forma sintetiza algumas das angústias mais típicas e vulgares da minha geração.
Em deteminada altura, numa das estupendas sequências de animação, diante de um muro branco, uniforme e interminável, um desenho impreciso, angustiado e solitário, grita para o outro lado: "It is anybody here?"
É exacatamente assim que eu me sinto quando escrevo um post: "It is anybody here?"
Por vezes sim, por vezes não, mas a possibilidade da resposta a esta pergunta fundamental vai me impelindo a colocar os meus posts, carregados de intimidade e cumplicidade, sentindo-me um pouco perdido quando não escrevo nada.
Lembra-me a história do homem que acorda totalmente só na Cidade Grande. Procura alguem, mas não encontra nada nem ninguem, tenta vários contactos até que se convence que realmente está completamente sózinho e então, de forma lógica, decide suicidar-se. Sobe a um prédio alto e atira-se no vazio. A meio da queda, ouve o seu telemóvel a tocar!
"It is anybody here?"

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 11 de Dezembro de 2003

sábado, 6 de dezembro de 2003

PARÁBOLA SOBRE A NATUREZA HUMANA.
Mewenge era um homem muito pobre. Habitava numa clareira, perto das margens do rio Cubango, sabendo que era Quiôco, mas não sabendo se seria Zairense ou Angolano.
Os seus parcos haveres - um catre e alguns utensílios - permaneciam dentro da cubata de adobe e colmo, pousados sobre um chão de terra batida que se transformava em lama sempre que a chuva era mais forte.
Mewenge trabalhava árduamente uma terra de ninguém, da qual extraía um pouco de mandioca e algumas raquíticas espigas de milho.
Na realidade Mewenge era presa de uma imensa miséria!
Por vezes comentava com o vizinho, que vivia em idênticas condições, as hipóteses de escapar daquela espiral de fome e dôr que a ambos assolava, mas sempre obstáculos de toda a ordem lhe toldavam o vago e inatíngivel horizonte dos seus sonhos.
Perto do lugar onde habitava, sobre um monte de pedras seguras por uma argamassa de terra, o pôvo vinha adorar uma estatueta sinistra de uma divindade a que chamavam de Kuba. Era uma estatueta informe, feita num minério, que de oxidado se tornara castanho, de feições grosseiras, olhos vazios e com a bôca ornada grotescamente com dois dentes humanos, grandes como favas e amarelados pelo tempo.
Um dia, em desespero de causa, Mewenge pegou nuns tubérculos de mandioca que suara para tirar da terra, e seguindo o ritual, foi junto do Kuba fazer uma oferenda. Depositou a mandioca aos pés da grotêsca divindade, encheu um pequeno cachimbo com “boi-cola” e enquanto tragava largas baforadas daquela excelente Canabis, pediu melhor sorte para si.
No tropôr que se seguiu, Mewenge ouviu o Kuba falar-lhe dentro da cabeça e o Kuba disse-lhe: “Meu bom Mewenge, és um desgraçado de um homem e ninguém merece tal desgraça. Assim vou te conceder o que me pedires, mas fica sabendo que aquilo que eu te conceder, concederei em dôbro ao teu vizinho. Agora vai! Pensa no que queres que te seja concedido e volta amanhã com a resposta."
Mewenge acordou em sobresalto. Já não estava junto do ídolo, mas deitado no seu catre. Não tinha a certeza de nada do que se passara, mas pelo sim e pelo não, começou a meditar no que deveria pedir.
Um boi... Dava-lhe jeito para arar o solo... Talvez uma vaca, que sempre poderia dar um pouco de leite...
De repente, a visão do seu vizinho com dois bois, ou duas vacas, desanimou-o: Que diabo! Porque é que o vizinho havia de ter o dôbro se a oferenda fora toda sua? Não! Não queria nem bois nem vacas!
Talvez dinheiro... Porque não? Com dinheiro poderia comprar alimentos, ferramentas e utensílios. Mas porque é que o vizinho havia de receber o dôbro? Não, isso ele não queria!
Passou a noite em branco, remexendo-se no catre, tentando imaginar o que haveria de pedir. O dia passou-se de igual modo, com Mewenge tentando imaginar algo que pudesse pedir sem que a anunciada melhor sorte do vizinho não lhe causase tanto mal estar. Remexeu nos seus pretences e agarrou uma cabaça de vinho de palma que ele destilara para consumir numa ocasião especial, e começou lenta mas deliberadamente a bebê-la, não tardando a ficar embriagado.
No entanto, o tremendo dilema em que o Kuba o lançara parecia não ter solução.
No fim da tarde dirigiu-se lentamente para o santuário. Os seus passos não eram firmes, mas conseguiu chegar lá com alguma facilidade. Sentou-se em frente da horrível estatueta, acendeu o cachimbo de “boi-cola” e aguardou o prometido contacto com a divindade.
Passado algum tempo, na confusão que imperava na sua cabêça, Mewenge ouviu o Kuba inquirir: “Então, já escolheste a dádiva que queres receber e que será dada em dobro ao teu vizinho?”. Mewenge, toldado pela droga e pelo alcool, pensou uma última vez e de forma decidida respondeu: “Já escolhi! Quero que me cegues um olho!”

Nota: Como não quero ser acusado de plágio, desde já aviso que a base da história já era conhecida por mim. Limitei-me a romanceá-la um pouco.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 6 de Dezembro de 2003

quinta-feira, 4 de dezembro de 2003

REFLEXÕES SOBRE A VIDA (III)
De um modo geral toda a gente espera da vida milagres. Milagres no sentido em que espera que as coisas possam acontecer em seu benefício, sem que para isso haja uma verdadeira razão. Esperam herdar daquela tia velha, esperam que lhes saia a lotaria (muitas das vezes mesmo sem comprar o bilhete), esperam no fundo encontrar um pote de ouro no lado de lá do arco-íris ou qualquer outra coisa desse tipo.
Eu por mim acho que estou servido!
Com onze anos surripiei uma pistola que o meu Avô imprevidentemente guardava na mesa de cabeceira e fui mostrar à minha irmã, que teria aí uns nove anos, como funcionava a arma. Coloquei e tirei várias vezes o carregador, meti e extraí várias vezes uma bala na câmara e efectuei alguns disparos em falso para o ar, pequenos “click’s” que me encheram de confiança. Tanta era a confiança, que após novas demonstrações, encostei a arma à cabeça da minha irmã e preparava-me para mais um “click”. Lembro-me como se fosse hoje: Comecei a premir o gatilho e nesse momento tive a noção de uma voz na minha cabeça que indistintamente me tentava avisar. Parei, e por descargo de consciência, puxei a culatra atrás. Como que em câmara lenta vi a bala saltar da câmara, voltear no ar e caír no chão.
Mais tarde, já com trinta e cinco anos, lembrei-me de limpar uma espingarda de caça submarina. Estava sentado na sala enquanto a minha filha mais nova, então com dois anos, corria de um lado para o outro, naquelas brincadeiras de natureza insondável que se têm nessa idade. Desmontei a arma, limpei-a e armei-a para ver se estava tudo em ordem. Repentinamente, e sem nenhuma razão aparente, o arpão soltou-se a enorme velocidade, atravessou o vestido da criança, sem lhe tocar, e varou as costas de um cadeirão de madeira que lhe travou a trajectória. Fiquei sem fala por mais de meia hora!
Se somar a estas histórias, outras de somenos importância em que muitas coisas “quase” aconteceram, como ultimamente com o meu neto, sou obrigado a concluír que esgotei, e provávelmente ultrapassei mesmo, a minha quota de milagres, portanto já não peço mais nada. A Vida já olhou muito por mim!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 4 de Dezembro de 2003
REFLEXÕES SOBRE A VIDA (II).
Aqui há uns anos atrás cheguei a uma perturbante conclusão: Nada há de mais frustrante do que um sonho realizado!
Um sonho realizado deixa de sêr sonho, passa a mera realidade com o consequente desinteresse que a costuma acompanhar. Assim temos de sêr criteriosos na escolha dos nossos sonhos. Ao escolher o sonho específico de determinado momento da nossa Vida, devemos levar em conta vários parâmetros: Tem de sêr potencialmente realizável, mas simultâneamente suficientemente difícil para que possa ascender à categoria de sonho. Deverá estar no limite do horizonte da nossa esperança de Vida, mas não tão longe que o torne numa simples miragem. Enfim, um sonho tem de sêr... Um sonho!
Se acaso tivermos a sorte, ou o azar, de o conseguir realizar, então rápidamente temos de imaginar um outro sonho qualquer que nos permita ter uma visão optimista e romântica da Vida em si mesma.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 4 de Dezembro de 2003
REFLEXÕES SOBRE A VIDA.
De um modo geral oiço as pessoas a queixarem-se da vida. Queixam-se dos políticos, queixam-se dos patrões, queixam-se dos empregados e queixam-se mesmo delas próprias.
Quando encontro alguém e lhe pergunto como vai, a resposta é invariávelmente a mesma: “Cá vou andando...”, isto dito com ar contristado e sofredor. Eu acho mau viver assim.
Se eu fizer um balanço da minha vida chego a conclusões que acho animadoras: Nunca fiz parte de minorias reprimidas, como e bebo razoávelmente todos os dias, vivo numa casa razoável que me proporciona uma boa dose de conforto, tenho um carro confortável e que me transporta com economia até onde me apetece, ando vestido, agasalhado e calçado, enfim... Usufruo daquilo que grande parte dos portugueses usufruem e que geralmente acham que é pouco.
Pergunto-me como se queixariam eles se tivessem nascido no seio dos 80% da humanidade mais miserável, aquela que não come, não bebe, tem frio e vê os filhos morrerem de fome e doenças. Como se queixariam nestas terríveis circunstâncias?
Estou longíssimo de sêr rico, estou a anos luz de ter o meu breve futuro garantido, tive uma vida complicada q.b. ( nem vos passa pela cabeça!) e no entanto acho que seria um perfeito idiota mal agradecido se não estivesse profundamente grato ao que a vida me tem proporcionado.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 4 de Dezembro de 2003

terça-feira, 2 de dezembro de 2003

ACERCA DE EFEMÉRIDES.
Passaram ontem 363 anos sobre a Restauração do Reino de Portugal e consequente expulsão de terras Lusas dos castelhanos e seus sicários.
De entre todos é sobejamente conhecida a sorte que coube a Miguel de Vasconcelos, português e mandatário do rei de Castela: Foi pura e simplesmente arremessado de uma varanda para a rua, tendo morrido em virtude da queda.
Felizmente para muitos portugueses, o hábito caíu em desuso, pois de outra maneira, as ruas deste nosso país iriam certamente ficar pejadas de cadáveres de putativos "Migueis de Vasconcelos" que andam a vender a Pátria a Espanha a trôco de um prato de lentilhas, ou vá lá, de um punhado de Euros.
A tradição já não é o que era!

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 2 de Dezembro de 2003
A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DA VIDA.
Durante estes dias de ausência, passei por uma provação terrível: Um dos meus netos mais pequenos foi brutalmente atropelado!
Felizmente o perigo passou, e apesar das fracturas e dos pontos, recupera com a surpreendente rapidez de uma criança de seis anos.
Recebi o telefonema desesperado da minha filha ao fim da tarde, saltei para o carro e fiz trezentos e tal kilómetros de enfiada, direito ao hospital.
Quando vi aquele corpinho pequeno, magrinho e frágil, dilacerado pelo metal e com uma expressão de perfeito pavôr nos olhos, mais do que qualquer outro sentimento, apercebi-me de quanto a Vida é um bem frágil e efémero, podendo apagar-se de um corpo da mesma forma como se sopra a chama de uma lamparina.
Dada a brutalidade do acidente e considerando que as consequências foram quase irrisórias, em função da tragédia que se chegou a prever, arrependi-me dos posts que arrogantemente me atrevi a escrever acerca da eventual natureza de Deus.
De facto, com a minha idade e experiência, já deveria sabêr que há coisas que não devem ser desafiadas.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 2 de Dezembro de 2003
BACK'N BUSINESS!
Bem, cá estou de volta outra vez. Devo dizer que fiquei surpreendido com a quantidade de mensagens que recebi durante este tão breve intervalo na minha actividade "blogueira".
Por falar em actividade "blogueira", esta vai indubitávelmente continuar, mas provávelmente com uma frequência um pouco mais espaçada. Eu explico: A Família começou a reclamar, e com razão, que nas poucas horas possíveis de convívio doméstico, eu passava grande parte delas agarrado ao computador.
É verdade! Por isso, vou organizar o meu tempo de forma diversa, de forma a poder atender ambas as coisas. Portanto, se eu estiver "calado" um ou dois dias, não se espantem, ok?

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 2 de Dezembro de 2003