segunda-feira, 13 de outubro de 2003

OPORTUNO.
Hoje o Publico dá estampa um excelente e actual artigo de Mario Pinto, acerca da falta de solidariedade social demonstrada pelos estudantes portugueses, os tais que Lobo Antunes afirmou todos terem automóvel. O artigo está muito bem escrito e recomenda-se a sua leitura. O mesmo começa com uma citação de Eça de Queiroz, que não resisto a reproduzir, tal é a actualidade dos factos:

"Toda a Nação vive do Estado. Logo desde os primeiros exames no liceu, a mocidade vê nele o seu repouso e a garantia do seu futuro. A classe eclesiástica já não é recrutada pelo impulso de uma crença; é uma multidão desocupada que quer viver à custa do Estado. A vida militar não é uma carreira; é uma ociosidade organizada por conta do Estado. Os proprietários procuram viver à custa do Estado, vindo ser deputados a 2$500 reis por dia. A própria indústria faz-se proteccionar pelo Estado e trabalha sobretudo em vista do Estado. A imprensa até certo ponto vive também do Estado. A ciência depende do Estado. O Estado é a esperança das famílias pobres e das casas arruinadas. Ora como o Estado, pobre, paga pobremente e ninguém se pode libertar da sua tutela para ir para a indústria ou para o comércio, esta situação perpetua-se de pais a filhos como uma fatalidade. Resulta uma pobreza geral. (...) o comércio sofre desta pobreza da burocracia, e fica ele mesmo na alternativa de recorrer também ao Estado ou de cair no proletariado. A agricultura, sem recursos, sem progresso, não sabendo fazer valer a terra, arqueja à beira da pobreza e termina sempre recorrendo ao Estado".

Eça de Queiroz in "Uma Campanha Alegre".

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 13 de Outubro de 2003

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