quinta-feira, 25 de outubro de 2012

NÃO FUI EU! FOI AQUELE MENINO...


Quem não se lembra, nos idos tempos de escola, do “queixinhas” da turma? Aquele que fazia a asneira e quando era repreendido, de olhos húmidos e nariz ranhoso, baixava o olhar e apontando indiscriminadamente para alguém, respondia com voz sumida: “Não fui eu! Foi aquele menino...”
Este personagem antipático, incapaz de admitir a sua culpa com dignidade, era sempre apontado como aquilo que cada um de nós, ainda crianças, não nos devíamos tornar em adultos.
Esta lembrança remota do “queixinhas” de serviço, tem-me ocorrido nos últimos tempos, sempre que oiço alguém afirmar com um ar indignado que não foi o culpado da crise que o País atravessa, que não gastou acima das suas possibilidades e que não é responsável por uma dívida que não contraíu.
O passo seguinte é o de encontrar os ”verdadeiros” culpados, e aí a panóplia é vasta. Desde os revolucionários do 25 de Abril, passando pelos vários Governos e terminando fatalmente no actual, há versões para todos os gostos e paladares.
A única coisa que não vi, foi alguém assumir as verdadeiras responsabilidades.
Todos nós somos culpados! Não interessa sequer saber se somos mais ou menos culpados. Somos culpados, PONTO FINAL.
Independentemente da perplexidade que me assalta à vista das últimas manigancias e trapalhadas em torno do Orçamento de Estado para 2013, não posso deixar de concordar com o Ministro das Finanças, quando ele afirma que os Portugueses terão de escolher entre impostos altos e funções sociais do Estado.
E vamos mesmo ter de escolher!
Um País que durante décadas consumiu mais 10% do que produziu, e isto são dados reais, objectivos e mensuráveis, é colectivamente responsável pelo actual descalabro das contas públicas. Um País de pelintras que é o País Europeu no qual existe o maior numero de pessoas com segunda habitação, é solidáriamente responsável pela dívida externa de Portugal.
Como não entender que com uma inversão total da pirâmide demográfica, é impossível assegurar as reformas esperadas, se dentro de poucos anos não teremos gente suficiente para descontar para elas? E, em última análise, quem votou nos sucessivos Governos que nos enterraram em anteriores intervenções do FMI, que fomentaram o despesismo individual, que nos impuseram o raio de uma moeda que só nos tem empobrecido e em políticos incapazes de alterar uma Constituição decrépita e prenhe de ideologia? Fomos todos nós!
Há depois quem diga que não votou, que votou em branco ou que votou sempre em partidos que não ganharam. Pois é! Mas é assim que diz a nossa Constituição e são assim as regras do jogo, por muito que não concordemos com uma e com as outras. Platão dizia que quem não se envolve na política, acaba sempre por ser governado por gente inferior, o que manifestamente parece ter a concordância de toda a gente, pelo menos a avaliar pelo descrédito generalizado da classe política e que se transforma num clamor quase nacional, relativo a abusos e previlégios, que sempre existiram e com os quais nunca ninguém verdadeiramente se preocupou.
Portanto, assumamos as nossas responsabilidades. Somos todos culpados!
Desde baixas médicas com pouca justificação real, até a várias habilidades com prestações sociais, passando situações de benefício, mesmo que legal, dificilmente justificáveis, toda a gente participou, com maior ou menor benifício, no déficit das contas públicas.
Não vale a pena, pois, imitar o “queixinhas” da escola, e com os olhos lacrimejantes, dizermos: “A culpa não foi minha! A culpa foi deste ou daquele...” pois isso não corresponde à verdade.
Na realidade, a culpa foi nossa, nossa de todos nós, dos que fizeram ou deixaram fazer, dos que roubaram e dos que se deixaram roubar, dos que votaram e dos que se abstiveram, dos que aproveitaram ou deixaram aproveitar.
Não vale a pena enjeitar responsabilidades, pois não é isso que as vai fazer mitigar, nem fazer desaparecer como num passe de mágica, a difícilima situação em que nos deixámos colocar

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