Este
personagem antipático, incapaz de admitir a sua culpa com dignidade, era sempre
apontado como aquilo que cada um de nós, ainda crianças, não nos devíamos
tornar em adultos.
Esta
lembrança remota do “queixinhas” de serviço, tem-me ocorrido nos últimos
tempos, sempre que oiço alguém afirmar com um ar indignado que não foi o culpado
da crise que o País atravessa, que não gastou acima das suas possibilidades e
que não é responsável por uma dívida que não contraíu.
O
passo seguinte é o de encontrar os ”verdadeiros” culpados, e aí a panóplia é
vasta. Desde os revolucionários do 25 de Abril, passando pelos vários Governos
e terminando fatalmente no actual, há versões para todos os gostos e paladares.
A
única coisa que não vi, foi alguém assumir as verdadeiras responsabilidades.
Todos
nós somos culpados! Não interessa sequer saber se somos mais ou menos culpados.
Somos culpados, PONTO FINAL.
Independentemente
da perplexidade que me assalta à vista das últimas manigancias e trapalhadas em
torno do Orçamento de Estado para 2013, não posso deixar de concordar com o
Ministro das Finanças, quando ele afirma que os Portugueses terão de escolher
entre impostos altos e funções sociais do Estado.
E
vamos mesmo ter de escolher!
Um
País que durante décadas consumiu mais 10% do que produziu, e isto são dados
reais, objectivos e mensuráveis, é colectivamente responsável pelo actual
descalabro das contas públicas. Um País de pelintras que é o País Europeu no
qual existe o maior numero de pessoas com segunda habitação, é solidáriamente
responsável pela dívida externa de Portugal.
Como
não entender que com uma inversão total da pirâmide demográfica, é impossível
assegurar as reformas esperadas, se dentro de poucos anos não teremos gente
suficiente para descontar para elas? E, em última análise, quem votou nos
sucessivos Governos que nos enterraram em anteriores intervenções do FMI, que
fomentaram o despesismo individual, que nos impuseram o raio de uma moeda que
só nos tem empobrecido e em políticos incapazes de alterar uma Constituição
decrépita e prenhe de ideologia? Fomos todos nós!
Há
depois quem diga que não votou, que votou em branco ou que votou sempre em
partidos que não ganharam. Pois é! Mas é assim que diz a nossa Constituição e
são assim as regras do jogo, por muito que não concordemos com uma e com as
outras. Platão dizia que quem não se envolve na política, acaba sempre por ser
governado por gente inferior, o que manifestamente parece ter a concordância de
toda a gente, pelo menos a avaliar pelo descrédito generalizado da classe
política e que se transforma num clamor quase nacional, relativo a abusos e
previlégios, que sempre existiram e com os quais nunca ninguém verdadeiramente
se preocupou.
Portanto,
assumamos as nossas responsabilidades. Somos todos culpados!
Desde
baixas médicas com pouca justificação real, até a várias habilidades com
prestações sociais, passando situações de benefício, mesmo que legal,
dificilmente justificáveis, toda a gente participou, com maior ou menor
benifício, no déficit das contas públicas.
Não vale a pena, pois, imitar o “queixinhas” da escola, e com os olhos lacrimejantes, dizermos: “A culpa não foi minha! A culpa foi deste ou daquele...”
pois isso não corresponde à verdade.
Na
realidade, a culpa foi nossa, nossa de todos nós, dos que fizeram ou deixaram
fazer, dos que roubaram e dos que se deixaram roubar, dos que votaram e dos que
se abstiveram, dos que aproveitaram ou deixaram aproveitar.
Não
vale a pena enjeitar responsabilidades, pois não é isso que as vai fazer
mitigar, nem fazer desaparecer como num passe de mágica, a difícilima situação
em que nos deixámos colocar
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