E de facto, como o meu Pai muito bem afirmava, só se desilude quem primeiro se ilude. Profundamente preocupado com o rumo que as finanças do País tomavam, foi com alívio que vi o voto afastar para Paris o obreiro de um desastre económico sem precedentes na nossa história recente.
A postura séria de Passos Coelho, a aura de que vinha rodeado Vitor Gaspar, o sucesso académico de Santos Pereira, a fama de Paulo Macedo e os demais nomes já conhecidos, indiciavam que realmente Portugal poderia tomar um rumo sério em direcção a um futuro prometedor e mais próspero.
Admito que torci o nariz à presença de Miguel Relvas no enlenco Governamental, mas admiti que alguma experiência política poderia ajudar o novo Governo nas tarefas mais delicadas.
Concordei em absoluto com as medidas que desde logo foram anunciadas, que embora duras, pareciam adequadas à emergência do momento.
Sobre as prometidas reformas estruturais, conhecendo bem a natureza do País em que vivo, admiti que tivessem de ser bem “trabalhadas”, com negociações mais delicadas e com prazos de entrada em vigor mais alargados.
Depois começaram os pequenos incómodos: Nomeações políticas discutíveis, excepções à regra no âmbito de empresas públicas, acessores aos quais de forma enviesada não lhes eram retirados os subsídios subtraídos ao resto da função pública, e o práticamente total abandono do compromisso de reduzir o numero de Municípios, mascarando este sinal de grande fraqueza com um pífio plano para fundir Freguesias.
Aí ainda a ilusão permanecia.
Um pouquinho abalada, é certo, mas permanecia, pois parecia patente que todos os Portugueses estavam conscientes da gravidade da situação e pareciam dispostos a colaborar com o Governo na solução dos mais prementes problemas.
Depois começam a surgir casos mais graves: Começou com o chamado caso das “secretas”,dossier desastrosamente gerido pelo Primeiro Ministro, e que acabou por descambar nos sucessivos escândalos envolvendo Miguel Relvas. Mentiras, contradições, uma licenciatura estranhíssima, e cavando um pouco mais fundo, histórias pouco edificantes acerca da sua ascenção política e pessoal.
A estranheza começou a tornar-se tanto mais incómoda, quanto mais o Chefe do Governo insistia na protecção de Relvas, sendo profundamente manifesto que o Ministro estava políticamente incapacitado, e passou a ser mediáticamente representado por António Borges, que pago a peso de ouro, parecia desempenhar um papel de ministro-sombra. A questão da RTP foi um desastre! Sem modelo definido, falou-se de todo o tipo de soluções, algumas de tal forma estapafúrdias que ameaçaram estalar o verniz entre os partidos da Coligação Governamental.
Entretanto, aquele precioso consenso político que parecia existir, começava a esboroar-se em virtude de uma olímpica ignorância a que o Governo votou, não só o principal Partido da Oposição, como também não honrou vários pontos do acordo de Concertação Social, conseguido com muito esforço através de uma muito corajosa posição de João Proença.
Finalmente surgiu aquele fatídico dia de 6ª feira, 7 de Setembro!
Meia hora antes de um jogo de futebol da Selecção Nacional, o Primeiro Ministro vem à televisão, e perante o pasmo de todos, anunciou “tout court” que ia retirar 7% dos salários dos trabalhadores por conta de outrém e os ia transferir, em boa parte, para as empresas empregadoras. Em seguida, com um ar bem disposto foi com a mulher assistir a um espectáculo musical, aparentando uma enorme insensibilidade.
Não sou economista, mas confesso que se a medida tivesse alguma justificação plausível, ou fosse “genial” como mais tarde a apelidou António Borges, o mínimo exigido é que ela fosse apresentada detalhadamente aos destinatários, explicando bem o seu alcance e eventual bondade.
Aí a desilusão instalou-se!
A Coligação Governamental tremeu, um milhão de pessoas saíu à Rua sem enquadramento partidário ou sindical, o Presidente da República convocou o Conselho de Estado, e dois dias depois a medida caíu, morrendo na praia de forma totalmente inglória. Na confusão instalada, prepassou a ideia de que o Governo ficara desorientado, e de facto começaram a surgir notícias de medidas orçamentais para 2013, que tanto apareciam anunciadas por idóneos porta-vozes, como rápidamente eram desmentidas. No meio deste enorme e aparente desnorte, a Coligação voltou a tremer, desta vez mais violentamente e o consenso político, antes tão elogiado, esfumou-se de vez.
Agora damo-nos conta de que o Governo falhou em varias previsões. O Primeiro Ministro que em Agosto assegurou aos Portugueses que 2013 iria ser o ano do alívio e da retoma, aparece em Outubro a apresentar o mais violento Orçamento de Estado de que há memória, tudo isto no meio de um tremendo mal estar político.
Confesso que estou desiludido!
Estou desiludido porque me iludi. Achei que por uma vez tinha chegado ao Governo alguém com a força e a vontade necessárias para enfrentar os lobbies, afrontar as corporações, combater os interesses instalados e proteger os Portugueses dos desmandos destes últimos 30 anos. Estou desiludido pois constato que essa força e determinação que nos tinha sido prometida, afinal se esvasiara como um balão furado.
No entanto mesmo sem ilusões, ainda mantenho a esperança, esperando não estar de novo a caír na ingenuidade de mais uma ilusão.
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