sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A (PEN)ÚLTIMA VERDADE.


Reli há tempos, com o maior dos prazeres, um livro de Philip K. Dick chamado "A penúltima verdade" (Penultimate Truth, no original).
A acção passa-se no futuro (à época, pois agora já seria passado!) e aborda o podêr, e porque não dizê-lo, a verdadeira ditadura dos "media".
Nesse futuro alternativo, em plena guerra fria, perante uma real ameaça de guerra, a população mundial "enterra-se" em abrigos-fábrica e dedica-se denodadamente à produção industrial destinada ao esforço de guerra.

Nas entranhas dos abrigos, o único meio de saberem o que se passa à superfície é a emissão televisiva oficial que lhes chega por cabo diáriamente.
Cá em cima, após os primeiros tiros e sem a pressão social e política das populações, os militares de ambos os blocos apercebem-se da inutilidade de enveredar pela guerra e criam então uma enorme fraude, na qual emitem diáriamente para os abrigos imagens forjadas de bombardeamentos e batalhas, pedindo um aumento permanente da produção com o único fito de que a população não volte à superfície voltando a criar as inevitáveis pressões político-sociais para que uma verdadeira guerra viesse a eclodir.
É um livro interessantíssimo pois aborda um problema com o qual já hoje em dia nos defrontamos e que é a manipulação da verdade pelos "media", muito particularmente pelas televisões, e que começa já a grassar na Internet.
Há já uns anos largos, assistia eu a um documentário sobre a guerra russo-afegã, quando me apercebi que um velho refugiado, esfarrapado e com uma criança ao colo, se exprimia perante o repórter com um inconfundível "accent" Nova-Iorquino. Para mim foi o prenúncio da penúltima verdade e passei a dar a maior das atenções ao que me entra pela casa dentro. No fundo, a minha grande preocupação assenta no facto de ter a sensação de que a maioria das pessoas não se apercebe da tremenda manipulação de que é vítima, mesmo tendo a consciência do que é possível fazer com a propaganda.
Apesar de terem já passado tantos anos, não me passa pela cabeça que a humanidade, pelo menos a que se considera esclarecida, se tenha esquecido das doutrinas de propaganda advogadas por Goebbels e ao caos a que levaram.
Existe um provérbio Judeu que diz que "Uma meia-verdade, é sempre uma completa mentira" o que em muito facilita toda a tarefa de manipulação, e para isso basta pegar em dois ou três jornais e reparar na disparidade das manchetes em relação a um mesmo acontecimento. Isto é manipulação, e manipulação descarada!
Citando o falecido Daniel Boorstin (historiador e professor Norte-Americano que se debruçou sobre a influência dos meios de comunicação nos comportamentos sociais), não posso deixar de concordar que "o maior obstáculo à sabedoria não é a ignorância, mas sim a ilusão do conhecimento".

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