quinta-feira, 24 de maio de 2012

ACERCA DO SEXO DOS ANJOS.

No momento em que os Otomanos  tomavam a cidade de Constantinopla, pilar da religião Católica, e terminava de vez o Império Bizantino, as autoridades eclesiásticas, em vez de prestarem o ânimo e o conforto espiritual aos soldados que desesperadamente defendiam a cidade, discutiam séria e longamente se os anjos teriam sexo ou não.
Esta estéril discussão, que não salvou nem a Igreja nem o Império, tornou-se no paradigma da conversa inútil e desligada da realidade, que estimula o mero diletantismo em detrimento da adopção de soluções práticas e expeditas.
Assim como os clérigos Bizantinos discutiam o sexo dos anjos, enquanto as muralhas ruíam fragorosamente e o sangue escorria pelas ruas de Constantinopla, assim os líderes Europeus continuam a sua própria versão, modernizada e de carácter aparentemente técnico, a histórica discussão Bizantina.
Discutem eles a Europa! Uma Europa gizada e implementada à revelia dos Povos, construída a partir das cúpulas em vez dos alicerces e que em virtude de todo este voluntarismo e atropêlo democrático, se encontra em crise profunda. Avançou para o Euro não cuidando das assimetrias dos vários Estados, criando assim as tristes situações que hoje sofremos na pele e que ameaçam tornar-se num cancro capaz de cooroer todo o Projecto Europeu.
Os vários diagnósticos para a saída da crise estão feitos, as sugestões estão dadas, mas em vez da Europa se unir para defender a sua integridade, tem vindo a abandonar os mais vulneráveis à sanha da matilha de chacais que mordem permanentemente as canelas das economias mais fracas, provocando uma dolorosa sangria com consequências eventualmente mortais.
Enquanto as muralhas Europeias se vão esboroando às mãos de políticos incompetentes e de eleitorados egoístas e boçais, a unidade vai-se esvaíndo ao som tronitroante de declarações de princípio, amplificadas até ao absurdo pelos media, e que mais não são do que a repetição da discussão Bizantina acerca do sexo dos anjos.
Cá pelo País, na presssecução do “ideal” Europeu, temos discussões do mesmo tipo, dando tremenda importância ao pormenores e esquecendo a verdadeira essência dos problemas. Para o constatar, basta seguir o debate parlamentar ou acompanhar qualquer das comissões de inquérito.
Enfim, uma verdadeira lástima...

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