A cada dia que passa vai-se
tornando cada vez mais evidente que a Europa, em vez de ser parte da solução
dos nossos problemas, é cada vez mais uma parte do problema, senão mesmo a sua
totalidade.
Inicialmente a ideia parecia
sedutora, quando aderimos entusiásticamente a uma Europa, que diga-se de
passagem, nunca foi nossa e nunca gostou de nós, mas basta conhecer um pouco de História, para entender que essa
tal Europa, solidária e democrática, não passava de uma utopia criada e
alimentada por um conjunto de políticos arrogantes, que ao arrepio de tudo o
que é aceitável, começaram a construir o edifício pelo telhado, sem cuidar da solidez
dos alicerces. Os resultados estão à vista!
Não vale a pena alongar-me em
detalhes que por todos são conhecidos, pelo menos hoje em dia, mas que eu
antecipei há mais de vinte anos atrás, apesar de ter sido sempre considerado um Velho do Restêlo (justiça ao
Dr. Medina Carreira, que sempre manteve esse discurso).
Nesta altura porém, entalados como
estamos, não vale a pena chorar sobre o leite derramado, mas sim prepararmo-nos
para novas realidades que se nos apresentam inevitáveis.
A primeira dessas realidades é
entendermos de uma vez que nunca tivemos vocação Europeia, e só o novo-riquismo
das nossas elites permitiu que nos envolvêssemos tão profundamente num projecto
temerário, no qual a realidade tem excedido as piores previsões. A nossa História
não tem nada a ver com a Europa. Para lá
das alianças com Inglaterra, a única
potência Atlântica, tivemos sempre uma “rolha” a Leste, o que nos virou
definitivamente para o grande Mar Oceano. As nossas guerras foram sempre
querelas fronteiriças com Espanha e conflitos regionais com outros Países na
defesa das nossas conquistas ultramarinas. Lá tivemos de aturar a megalomania
de Napoleão, e na 1ª República sacrificámos inutilmente uns milhares de homens
nas trincheiras Francesas, sem qualquer ganho ou proveito. Fora estes
episódios, nunca tivemos qualquer ligação com essa Europa das guerras, das
hegemonias e dos Impérios Continentais.
Digam-me lá então porque é que
somos Europeus, e principalmente porque tanto insistimos nessa idiotice? Só por
estarmos na ponta Ocidental do continente? E essa situação não nos dá todas as
desvantagens de uma periferia, distante e com pouco peso político?
Na realidade, o que nós somos é
Atlantistas, cuja vocação só foi
invertida, e pelas piores razões, após a restauração democrática e só a
cegueira arrogante das nossas elites permitiu que tivéssemos perdido mais de 30
anos, permanentemente em bicos de pés para quem nunca nos ligou nenhuma, subalternizando
sempre a CPLP, essa sim, derivada da nossa verdadeira vocação.
Se considerarmos a globalização, as
rotas marítimas, comerciais e até
militares, dão-nos uma centralidade invejável, atirando irremediávelmente o
centro e o norte da Europa para a verdadeira periferia global.
Já devíamos saber bem isto, pois
há quinhentos anos que aplicámos a receita e ela resultou em pleno, e se
pensarmos bem, embora algumas variáveis se tenham invertido, a situação é
bastante semelhante.
Há pois que trabalhar, mas
trabalhar mesmo! Criar uma mentalidade independente que nos tire da
soburdinação aos humores de uma Europa, que mais do que decrépita, sofre
irremediávelmente da Doença de Alzheimer.
Tivemos quinhentos anos de
descanso e agora está na hora de trabalhar!
Primeiro foram as especiarias do
Oriente, a seguir o ouro do Brasil, seguido pelos lucros do Império Colonial do
Sec. XIX, depois tivemos o volfrâmio durante a II Guerra Mundial e por fim
vieram os fundos Europeus.
Agora acabou!
Secaram as fontes que durante
mais de quinhentos anos nos foram prporcionando a capacidade de ir sobrevivendo
sem grande trabalho ou preocupação. Agora está na hora de esquecermos essa
humilhante subserviência a esta Europa esfrangalhada e avançarmos resolutamente
para soluções Atlantistas, que embora sejam mais trabalhosas, nos poderão dar a
importância geo-estratégica que possuímos e que temos andado a vender a troco
de um prato de lentilhas.
No momento em que por necessidade
esta Europa for obrigada a unir-se para não sossobrar, que não restem dúvidas de
que passaremos apenas a ter o estatuto de fronteira ocidental da Alemanha.
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