Com
o aproximar da data icónica do seu 40º aniversário e com a polémica
estupidamente levantada por Assunção Esteves, acerca das comemorações do 25 de
Abril, têm-se multiplicado as opiniões, mais ou menos apaixonadas sobre o dito
25 e os seus fautores, o famigerado Movimento dos Capitães.
Ainda
Domingo passado, Marcelo Rebelo de Sousa invectivava a Presidente da Assembleia
da República, afirmando que se ela ocupava o lugar que ocupa, devia-o aos Capitães
de Abril e aliás não houve politólogo ou “bicho-carêta” que não se tenha
pronunciado sobre o assunto nestes últimos dias.
Que
Marcelo Rebelo de Sousa diga bacoradas, não espanta. A isso já toda a gente se
habituou. No comentário semanal que faz na TVI, tem-se entretido a contar
pequenos flagrantes, em tom de intimidade, dos bastidores da Revolução, como se
dele tivesse sido uma peça importante. Ao que a vaidade leva...
Sendo
Marcelo um distinto Professor, custa vê-lo passar para uma opinião pública cada
vez mais desinformada, uma visão tão distorcida da realidade, juntando-se ao
coro dos revisionistas que pretendem uma leitura histórica muito afastada da
realidade.
De
facto enganam-se as pessoas que afirmam que o Movimento dos Capitães deu aos
Portugueses a Liberdade e a Democracia.
É
uma mentira. Não deu!
O
Movimento dos Capitães, motivado por questões de ordem corporativa e laboral,
limitou-se a derrubar a Ditadura, aliás o único mérito que pode reclamar.
Depois
disso sabe-se bem o que se passou: Uma série de militares sem preparação
política fizeram o País desaguar num PREC dramático, que deve ter sido a pior
catástrofe que houve em Portugal a seguir ao terramoto de 1755, Otelo Saraiva
de Carvalho, promovido a General, chefiava um digno sucessor da PIDE, o Copcon,
e andava sempre munido de vários mandatos de captura assinados em branco,
podendo assim prender ou perseguir quem lhe aprouvesse (democrático, hein?). Incitaram-se
os saneamentos políticos nas empresas, que passaram a ser geridas por mal
preparados oficiais das forças armadas, através das célebres comissões “ad hoc”.
Proliferaram nos quarteis os SUV (Soldados Unidos Vencerão), que desrespeitavam
a hierarquia e chegavam a ameaçar os seus comandantes. Entretanto o Gonçalvismo,
de matriz soviética, procedia à nacionalização de todos principais sectores da
economia, acabando por destruír definitivamente o já fraco tecido industrial.
No Alentejo, a Reforma Agrária incitou à ocupação de terras por esperançadas
Uniões Colectivas de Produção, que em vez de terem disfrutado dos “amanhãs que
cantam”, faliram quase todas ao fim de um ano.
Entretanto
no Hotel Alvor, Soares, Almeida Santos e companhia, encenavam para o mundo um
ridículo acordo político entre os movimentos de libertação, clamando estarem a
proceder a uma “descolonização exemplar”, enquanto nomeavam para o Governo
Geral de Angola um indiscritível Almirante Rosa Coutinho, conhecido cá por “Almirante
Vermelho” e em Angola pelo “Lagosta” (Era vermelho, tinha a casca grossa e a
merda toda na cabeça). Rosa Coutinho levou à letra as instruções de Cunhal e entregou
de forma unilateral decidida e conscientemente o poder ao MPLA, lançando Angola
numa sangrenta guerra civil que durante 20 anos ceifou milhares e milhares de
vidas. 500.000 Portugueses, muitos nascidos em África e já sem ligações ao
país, perderam todos os seus bens e haveres, e em fuga desordenada foram
recebidos em Lisboa com sobranceria e desprezo, sendo apelidados
depreciativamente de “retornados”.
Em
suma, este é resumidamente o resultado do 25 de Abril, já para não falar nos
cercos à Assembleia da República e nas coacções da “muralha de aço” que dizia
proteger o Camarada Vasco, que discursava raivosamente cada vez que lhe
aparecia pela frente um microfone.
Depois,
no meio dos maiores receios de se estar a beira de uma guerra cívil, houve de
facto um grupo de militares, esses sim, que a 25 de Novembro de 1975 travaram
as investidas comunistas que empurravam o país para uma ditadura do proletariado,
inspirada no modêlo Cubano.
Esses
militares sim, a esses devemos realmente a Liberdade e a Democracia, e para que
conste, não eram os mesmos que em Abril de 74 derrubaram a ditadura. Por
respeito e merecimento, faça-se uma excepção a Salgueiro Maia, que fez o que
tinha a fazer, aceitou a rendição de Marcelo Caetano, regressou ao seu quartel,
recusou todo e qualquer cargo ou protagonismo político e entrou num quase
anonimato, de onde o querem agora tirar sugerindo a sua ida para o Panteão, quando
o próprio, em testamento, indicou querer ser enterrado numa campa rasa em
Castelo de Vide, sua terra natal.
A
geração que agora está a entrar na meia-idade, seria pouco mais do que criança
no 25 de Abril de 74, os seus filhos já só ouviram falar e portanto, os nossos
intelectuais, os politólogos, os jornalistas e a oligarquia política no seu
geral, prestam um péssimo serviço ao futuro, distorcendo o passado, seguindo o
modelo que George Orwell imaginou na sua icónica obra 1984. No livro, Winston
Smith estava encarregado de perpetuar a propaganda, alterando diáriamente as
notícias do único jornal que não se auto destruia e cujo único exemplar ficava
arquivado na Biblioteca como único registo de um passado, que era alterado
segundo as conviniencias políticas do Grande Irmão, caricatura de Josef Stalin.
Orwell
no decorrer da obra, elabora o seguinte pensamento: “Quem controla o presente,
controla o passado e quem controla o passado, controla o futuro”.
E
assim, quase como sem dar por ela, o povo Português continua a ser vítima de um
tremendo embuste que resulta deste revisionismo, destinado a branquear um
passado pouco edificante, no qual a honra e a verdade não passam de meros
incómodos que podem ser torneados pela facilidade da mentira, transformada em
verdade oficial.
4 comentários:
Gostei de ler.
Partilho.
Excelente. A verdade frontal, que ainda incomoda muita gente neste país. É tempo de virar a página e ressurgir dos cacos de uma revolução muito mal conduzida e muito mal terminada, quase meio século depois.
Gostei. Nunca é demais relembrar.
Não é o Quinzinho, sou eu o Joao Pedro ?????!!!!!!
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