quinta-feira, 3 de julho de 2014

OS 7 CEGOS DE JAIPUR: UMA METÁFORA DA POLÍTICA PORTUGUESA.

Conta uma antiga e sábia lenda Indiana, que no Estado de Jaipur existiam 7 homens cegos, considerados sábios. De facto, a sua busca pela verdade atingira um tal extremo, que para não se distraírem com o mundo, os próprios se tinham feito cegar.

Certo dia, apareceu um elefante, que logo foi rodeado pelos 7 sábios cegos. No afã de saberem do que se tratava. Um deles estendeu a mão e tocou na tromba do elefante, e sentenciou: “O elefante é como uma cobra!”. Um dos outros, que estava junto à orelha, estendeu a mão, e retorquiu: “Estás enganado, o elefante é como uma bananeira!”. Outro encostou a mão na barriga do animal, e discordou: “Ambos estão enganados, o bicho é igual a uma parede”. O que que apalpou uma das presas, afiançou que era uma lança, já o que tocou no rabo, setenciou que era uma corda.

Enfim, donos das suas próprias verdades, o 7 sábios cegos engalfinharam-se numa grande discussão, cada um defendendo vigorosamente o seu ponto de vista.

Um rapaz que passava, desenhou então um elefante no chão, e só depois, por meio do tacto, os 7 sábios perceberam finalmente, que todos estavam certos, mas também estavam errados, já que cada um não conseguia ter uma visão de conjunto sobre a aparência do paquiderme e defendia furiosamente a sua visão parcelar.

Quem ontem tivesse assistido à sessão parlamentar sobre o “Estado da Nação”, fácilmente encontraria semelhanças com os cegos de Jaipur.

O Governo diz que o desemprego baixou, e é verdade, mas a oposição diz que isso se deve apenas a estatísticas e à emigração, o que também poderá ser verdade.
O Governo afirma que o país está económicamente melhor, o que é verdade, mas a oposição diz que os Portugueses continuam mal, o que também é verdade.

Poder-se-iam escrever milhares e milhares de caractéres sobre estas dicotomias, mas que na realidade a nenhuma solução conduzem. Portugal encontra-se numa encruzilhada, e de um modo geral parece que o mundo político se mostra incapaz de traçar uma linha de rumo.

O Mundo mudou, excepto o mundo político, que formatado com as ideias e doutrinas dos tempos de abundância dos idos 80’s, é incapaz de se reconfigurar, continuando a insistir nos mesmos slogans, nos mesmos chavões e na mesma argumentação.

Quando Constantinopla foi tomada pelos Otomanos, os teólogos bizantinos encontravam-se reunidos há tempos infinitos para averiguar uma questão vital: Qual era realmente o sexo dos anjos! E enquanto se entretiam com tão importante questão, Constantinopla foi tomada, eles degolados e a pergunta ainda hoje não tem resposta.

O que se passa no nosso mundo partidário tem grandes semelhanças com a magna questão do sexo dos anjos! Enquanto se discutem acérrimamente questões ideológicas e de princípio, o país anda à deriva.

Um Governo sem oposição, é um Governo que fatalmente governa mal e uma oposição autofágica, entretida em manobras de canibalismo político, jamais será capaz de fazer uma oposição séria e expedita, capaz de travar certas derivas delirantes que de tempos a tempos assaltam os nossos governantes.

Uma extrema esquerda que não se entende e nunca se entenderá, pois o entendimento fora dos seus pequenos feudos, é totalmente contrário à sua natureza. Um PCP super ortodoxo, que não se afasta nem um milímetro das suas raízes stalinistas, em que a única concessão que faz é participar no jogo democrático, embora a contra-gosto, pois sabe ser a única maneira de ir mantendo acêsa aquela bruxuleante e pequena chama, que promete os amanhãs que cantam. Sobre o PS, dispensam-se comentários. Basta ler os jornais ou ver a televisão para ter uma visão alargada da chacina que grassa nas suas fileiras. O PSD, embora suporte o Governo, vai alimentando anti-corpos que pululam nesse caldo de cultura, que elegantemente chamam de “sensibilidades”. O CDS, entalado entre o poder do PSD e o autoritarismo de Portas, tenta descortinar um caminho para saír o menos danificado possível, da alhada em que se meteu.

E assim vai Portugal, cantando e rindo, ou lamentando-se e chorando, o que é rigorosamente o mesmo, pois uma situação não passa da imagem no espelho da outra.

Falta alguém que desenhe o elefante no chão para que os nossos “sábios” e cegos políticos, consigam ter uma visão de conjunto que ajude Portugal, e não apenas a sua estreita visão que apenas leva em conta os interesses partidários dos “aparatitch” que estão sempre na primeira fila, prontos para abocanhar a sua, pequena ou grande, parcela de poder.

A pessoa indicada para o fazer, à luz da nossa organização institucional, seria o Presidente da República, mas infelizmente, este também é um dos sete cegos, e mais não consegue descortinar do que a sua vaidade pessoal, o seu ego mesquinho e a sua profunda incompetência política.

Enfim, não sendo demasiado pessimista, qualquer Português de média litracia, chega fácilmente à conclusão de que Portugal está, como se costuma dizer, “entregue à bicharada”.


Uma réstea de esperança ainda assoma ao limiar do futuro e que reside na dificuldade da Europa se afirmar como um bloco político/económico e não como uma pindérica confederação de países falidos e desavindos. Esta circunstância, bem demonstrada nos resultados das últimas eleições Europeias, lança um aviso estridente: Se a Europa não inverte radicalmente o seu rumo, ou a Europa acaba com os países, ou os países acabam de vez com a Europa.

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