Conta
uma antiga e sábia lenda Indiana, que no Estado de Jaipur existiam 7 homens
cegos, considerados sábios. De facto, a sua busca pela verdade atingira um tal
extremo, que para não se distraírem com o mundo, os próprios se tinham feito
cegar.
Certo
dia, apareceu um elefante, que logo foi rodeado pelos 7 sábios cegos. No afã de
saberem do que se tratava. Um deles estendeu a mão e tocou na tromba do
elefante, e sentenciou: “O elefante é como uma cobra!”. Um dos outros, que
estava junto à orelha, estendeu a mão, e retorquiu: “Estás enganado, o elefante
é como uma bananeira!”. Outro encostou a mão na barriga do animal, e discordou:
“Ambos estão enganados, o bicho é igual a uma parede”. O que que apalpou uma
das presas, afiançou que era uma lança, já o que tocou no rabo, setenciou que
era uma corda.
Enfim,
donos das suas próprias verdades, o 7 sábios cegos engalfinharam-se numa grande
discussão, cada um defendendo vigorosamente o seu ponto de vista.
Um
rapaz que passava, desenhou então um elefante no chão, e só depois, por meio do
tacto, os 7 sábios perceberam finalmente, que todos estavam certos, mas também estavam
errados, já que cada um não conseguia ter uma visão de conjunto sobre a
aparência do paquiderme e defendia furiosamente a sua visão parcelar.
Quem
ontem tivesse assistido à sessão parlamentar sobre o “Estado da Nação”,
fácilmente encontraria semelhanças com os cegos de Jaipur.
O
Governo diz que o desemprego baixou, e é verdade, mas a oposição diz que isso
se deve apenas a estatísticas e à emigração, o que também poderá ser verdade.
O
Governo afirma que o país está económicamente melhor, o que é verdade, mas a
oposição diz que os Portugueses continuam mal, o que também é verdade.
Poder-se-iam
escrever milhares e milhares de caractéres sobre estas dicotomias, mas que na
realidade a nenhuma solução conduzem. Portugal encontra-se numa encruzilhada, e
de um modo geral parece que o mundo político se mostra incapaz de traçar uma
linha de rumo.
O
Mundo mudou, excepto o mundo político, que formatado com as ideias e doutrinas dos
tempos de abundância dos idos 80’s, é incapaz de se reconfigurar, continuando a
insistir nos mesmos slogans, nos mesmos chavões e na mesma argumentação.
Quando
Constantinopla foi tomada pelos Otomanos, os teólogos bizantinos encontravam-se
reunidos há tempos infinitos para averiguar uma questão vital: Qual era
realmente o sexo dos anjos! E enquanto se entretiam com tão importante questão,
Constantinopla foi tomada, eles degolados e a pergunta ainda hoje não tem
resposta.
O
que se passa no nosso mundo partidário tem grandes semelhanças com a magna
questão do sexo dos anjos! Enquanto se discutem acérrimamente questões
ideológicas e de princípio, o país anda à deriva.
Um
Governo sem oposição, é um Governo que fatalmente governa mal e uma oposição
autofágica, entretida em manobras de canibalismo político, jamais será capaz de
fazer uma oposição séria e expedita, capaz de travar certas derivas delirantes
que de tempos a tempos assaltam os nossos governantes.
Uma
extrema esquerda que não se entende e nunca se entenderá, pois o entendimento
fora dos seus pequenos feudos, é totalmente contrário à sua natureza. Um PCP
super ortodoxo, que não se afasta nem um milímetro das suas raízes stalinistas,
em que a única concessão que faz é participar no jogo democrático, embora a
contra-gosto, pois sabe ser a única maneira de ir mantendo acêsa aquela
bruxuleante e pequena chama, que promete os amanhãs que cantam. Sobre o PS,
dispensam-se comentários. Basta ler os jornais ou ver a televisão para ter uma
visão alargada da chacina que grassa nas suas fileiras. O PSD, embora suporte o
Governo, vai alimentando anti-corpos que pululam nesse caldo de cultura, que
elegantemente chamam de “sensibilidades”. O CDS, entalado entre o poder do PSD
e o autoritarismo de Portas, tenta descortinar um caminho para saír o menos
danificado possível, da alhada em que se meteu.
E
assim vai Portugal, cantando e rindo, ou lamentando-se e chorando, o que é
rigorosamente o mesmo, pois uma situação não passa da imagem no espelho da
outra.
Falta
alguém que desenhe o elefante no chão para que os nossos “sábios” e cegos
políticos, consigam ter uma visão de conjunto que ajude Portugal, e não apenas
a sua estreita visão que apenas leva em conta os interesses partidários dos “aparatitch”
que estão sempre na primeira fila, prontos para abocanhar a sua, pequena ou
grande, parcela de poder.
A
pessoa indicada para o fazer, à luz da nossa organização institucional, seria o
Presidente da República, mas infelizmente, este também é um dos sete cegos, e
mais não consegue descortinar do que a sua vaidade pessoal, o seu ego mesquinho
e a sua profunda incompetência política.
Enfim,
não sendo demasiado pessimista, qualquer Português de média litracia, chega
fácilmente à conclusão de que Portugal está, como se costuma dizer, “entregue à
bicharada”.
Uma
réstea de esperança ainda assoma ao limiar do futuro e que reside na dificuldade
da Europa se afirmar como um bloco político/económico e não como uma pindérica
confederação de países falidos e desavindos. Esta circunstância, bem demonstrada
nos resultados das últimas eleições Europeias, lança um aviso estridente: Se a
Europa não inverte radicalmente o seu rumo, ou a Europa acaba com os países, ou
os países acabam de vez com a Europa.
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