Os bons resultados da extrema-direita em
França, tiveram o condão de acordar e lançar o alarme nas hostes, ditas
democráticas, que laboriosamente militam na UE.
É difícil de entender semelhante
surpresa, uma vez que a História está recheada destes exemplos e das suas
consequências. A verdade é que como conceito, a Democracia é sedutora, mas na
prática poucas vantagens tem trazido à maior parte das populações, a não ser
quando exercida em contexto internacional não igualitário.
Já sem falar no
domínio do Império Britânico, a poderosa América, com os seus 250 anos de
Democracia, não diminiu as assimetrias sociais, sonegou o Estado Social,
considerando-o socializante, e após as tristes cenas do Mcarthismo e dos
atentados de 11 de Setembro, aprovou uma lei infame e descriminatória, o “Patriot
Act”, que perverte de forma definitiva todas as liberdades e garantias de que qualquer
cidadão deveria benificiar.
Poderá parecer que neste texto
transparece alguma ideologia anti-democrática, o que não é verdade. O que
acontece é que a chamada Democracia Ocidental tornou-se num dos maiores logros
da História, no qual uns acreditam, outros querem desesperadamente acreditar e
ainda outros gostariam de ter razões para acreditar. No fundo, a crença na
Democracia, no mundo que nos rodeia, pouco mais é do que um acto de Fé!
Quando se fala em Democracia, o que
logo sobressai é o conceito de Liberdade Individual. Mas será que esta existe?
No emaranhado jurídico que rege o funcionamento da Sociedade, o afã de derimir
diferenças culturais, ideológicas, ou mesmo materiais, retiram ao indíviduo qualquer
capacidade de usar a sua Liberdade Individual, de tal forma ela está tolhida
pela Liberdade dos outros. Portanto, haja algum cuidado quando se içam as
bandeiras da Liberdade! Ela está de tal forma condicionada, que pouco pode
existir para além do reino do pensamento e da opinião.
Exemplificando com o surrealismo de um
caso verídico: No tempo do Serviço Militar Obrigatório, e sendo à época Diogo
Freitas do Amaral Ministro da Defesa, surgiu o movimento dos Objectores de
Consciência, que invocando incompatibilidades religiosas ou morais, se furtavam
ao ao SMO. Rápidamente o Governo da altura decidiu tipificar, e aceitar, os
Objectores de Consciência, pelo que os ditos teriam de apresentar um atestado,
assinado por um sacerdote do seu culto, atestando a sua qualidade de Objectores
de Consciência (!). Numa entrevista dada à televisão, Freitas mostrava-se
preocupado, não com os Objectores de Consciência, mas sim com os “falsos
Objectores de Consciência” (!!). Alguém conseguirá definir um “falso Objector
de Consciência”?
E enfim... Rodeados deste furor controlador e pseudo-igualitário, é fácil de perceber que espécie de Liberdade os cidadãos
poderão esperar desta nossa Democracia.
Simultâneamente à popularização dos
conceitos de Democracia, a partir do Sec. XIX a alta finança descobriu a mina
das dívidas soberanas, e assim, financiando guerras, revoluções e golpes de estado,
foi prosperando. Dizia o velho patriarca, o Barão de Rotschild: “É-me
indiferente quem governa, desde que eu tenha o controle da moeda...”
E assim correu o Sec. XIX. A entrada
no Séc. XX foi estrondosa! Uma guerra mundial em 1914, uma crise financeira generalizada
em 1929 e mais uma guerra mundial em 1939. Foram destruídas Nações,
procederam-se a vários genocídios e cometeram-se enormes atrocidades no
Holocausto, nos Gulags, na China, no Vietnam, no Laos e mais recentemente na Bósnia e no Kosovo. E quem não pestanejou? A alta finança!
A globalização veio acabar de dar o golpe final na independência do poder
político, tornando-o definitivamente refém do poder financeiro. Assim, o capital
desloca-se no Mundo, sem “rei nem roque”, ditando as suas regras, transformando
de forma definitiva o dinheiro, de simples meio de pagamento, em uma mercadoria em
si própria, criando uma teia impenetrável de negócios que aparentemente
transformam em activos de alguém, produtos que na verdade são passivos de outro
alguém, convertendo assim a moeda numa espécie de notas de “monopoly”, que
mesmo não valendo nada, é-lhes atribuído como bom o valor facial impresso naqueles
pedaços de papel.
Com o poder político totalmente capturado pelos grandes interesses financeiros e especulativos, rápidamente a
Economia passou de ciência a jogo de azar, o que permitiu ganhos fabulosos a
quem nada produz e aumentou a pobreza de quem realmente trabalha, o que na
realidade é um paradoxo. Como entender que um especulador internacional como
George Soros tenha conseguido em 1992 fazer um ataque, aliás bem sucedido, à
toda-poderosa Libra Estrelina, obrigando o Reino Unido a proceder à sua desvalorização?
Criou-se pois uma élite mundial, sem
pátria e sem escrúpulos que se dedicou, entre outras tropelias, ao ataque
sistemático das dívidas soberanas. O aparecimento do Euro, mal estudado e mal
arquitetado, já que apenas potencia as desigualdades entre estados, veio ao
encontro da sanha e da gula dessa élite financeira, que lhe fincou o dente e
jamais largou. Com uma Europa dependente do refinanciamento permanente e de uma dívida
que aumenta na proporção directa da sua incapacidade de crescimento económico, esta
acabou por se tornar numa carcaça moribunda e apodrecida, na qual nenhum abutre resiste a dar uma bicada.
Neste contexto, Portugal, e não só,
fará rigorosamente o que lhe mandarem!
Não há qualquer margem de discussão,
já que basta fechar a torneira para que o País fique sem forma de pagar as suas
obrigações, o seu Estado Social, os ordenados ou as pensões. Portanto, a
pergunta que se impõe, é para que é que serve a Democracia? Ouvem-se imensos
processos de intenção. Uns “exigem” a reestruturação da dívida, outros que
básicamente esta não seja paga e outros ainda, admitindo que Portugal tem
de honrar os seus compromissos, dizem que isso é impossível, os mais irrealistas
advogam que os interesses do Povo estão antes dos interesses dos credores. Pena
não terem pensado nisso enquanto iam alegremente endividando o país...!
Esta situação não é um duvidoso
previlégio nacional, mas antes uma chaga que vai grassando e alastrando por
essa Europa política, que agora atónita, se vê como uma espécie de Republica de
Weimar, o que no fundo não deixa de ser um diagnóstico correcto.
Assim, deixando as decisões políticas
ao sabôr dos ciclos eleitorais, os Europeus balançam na escolha entre “lume e a
frigideira”, sem que outra perspectiva se lhes apresente, a não ser o regresso ao proteccionismo, o reafirmar de uma Europa-fortaleza, afundando
desapiedadamente todos os esquifes que rumam a Lampedusa e protegendo descaradamente
a sua agricultura e indústria, isolando-se assim de um mundo que alegremente
deixou que fosse construído à sua volta, expendendo sempre grandes princípios
de igualdade e liberdade, dos quais abdicou sorrateiramente a troco de alguns
pratos de lentilhas encapuzadamente traficados no seu interior.
Perante este triste cenário, apenas
restaria ter esperança que uma Nova Ordem Mundial mais justa, mais equitativa e
menos cruel se instalasse no mundo. Como é uma completa utopia esperar que isto possa
acontecer de motu-próprio, parece cada vez mais próximo e inevitável um cenário
de conflito generalizado.
Não se procedendo a uma purificação
pelo fogo, que tão útil se tem mostrado para a sobrevivência da espécie humana,
restará dobrar de vez a cerviz e assumir que a geração actual, terá sido
eventualmente a última geração a gozar de alguma liberdade. Daqui para a
frente, com Governos a privatizarem lucros e a nacionalizarem prejuízos, a concederem
a exploração de monopólios a troco de dinheiro e a dilapidarem despudoradamente
os recursos nacionais, as gerações vindouras constituirão uma nova casta de
escravos, que pouco mais poderão fazer do que trabalhar pela sua parca subsistência,
ou tentar apanhar um difícil e escasso elevador social que os leve ao convívio
da casta dominante, sendo que este elevador não tem andares intermédios e
muitos pretendentes aos poucos lugares disponíveis.
Futuro negro?
Definitivamente!
Sem comentários:
Enviar um comentário