Hoje, num programa de televisão, um “forum” com
participação popular, fiquei siderado com a intervenção de um cidadão de Beja,
empresário, de 37 anos de idade. Dizia então esse senhor: “Ora, se temos
crianças com fome, então temos de mudar de Governo. É preferível ter outro Governo,
do que ter crianças com fome em Portugal!” O tom da intervenção foi tão
cândido, que quase podíamos ser levados a pensar que ambas as coisas estariam
directamente relacionadas, sendo que os meios financeiros necessários para
resolver os problemas da fome, não passariam de uma mera abstracção, que
facilmente seria resolvida com uma mudança de Governo.
É claro que este raciocínio está profundamente
enquinado pela forma como se faz política em Portugal.
Enquanto a oposição clama por “sol na eira e chuva
no nabal”, o Governo tem preferido reparar a eira e lavrar o nabal, na
expectativa de melhores resultados futuros. É claro que esta diferença de
atitude tem um profundo reflexo na opinião pública, de um modo geral
desinformada e intoxicada com propagandas partidárias várias, que pululam da
esquerda à direita do espectro político nacional.
É evidente que a população que mais sofre com isto manifesta-se
desagradada com as posições Governamentais, embalada que está no canto de
sereia das oposições irresponsáveis.
É por demais evidente que o Partido Socialista, se
agora ascendesse ao poder, não conseguiria fazer nada de diferente do que está
a ser feito, ou então lançaria o País na mais desastrosa bancarrota.
Portugal tornou-se num País políticamente
esquizofrénico, em que toda a gente quer simultâneamente uma coisa e o seu
contrário.
Uns pregam a austeridade a todo o custo, mostrando
grande insensibilidade, e não reconhecendo que os resultados não têm atingido
os objectivos esperados, mostram-se surpreendidos por isso, não admitindo nem
por um segundo, que se tenham enganado nos pressupostos de partida. Os outros lá
vão dizendo que são a favor da austeridade, mas não DESTA austeridade, sem
apresentar nenhum plano concreto de alternativa viável.
O Governo anuncia que vai diluir os 13º e 14º meses
ao longo do ano. Vem a Confederação Portuguesa do Comércio clamar que essa
medida lhes daria cabo da vendas Natalícias. O Governo então decide que isto só
acontecerá com o subsídio de férias, e logo os operadores de Turismo gritam que
isso lhes vai destruir do negócio. E afinal em que ficamos? Numa solução
salomonica, que pelos vistos não agrada a ninguém.
Os Portugueses dão 13% dos votos ao Partido Comunista
e ao Bloco de Esquerda, mas depois dão-lhes força na rua para contestar o
Governo que elegeram.
Enfim... Isto é esquizofrenia.
A desonestidade do comentário político é gritante!
Diz-se que a TAP será vendida a preço de saldo, 20M de Euros, sem explicar que
existe um passivo de 1.200M de Euros, mais uma necessidade imediata de reforçar
os capitais próprios em 500M de Euros, além de toda a operação financeira
necessária à renovação da frota.
Os demagogos contumazes do Bloco de Esquerda gritam
que existem 12.000M de Euros para ajudar a Banca, mas que não há dinheiro para
os reformados, “esquecendo-se” estrategicamente de referir que os Bancos estão
a pagar uma taxa de juro de 8,5% ao Estado, dinheiro que foi emprestado a uma
média 3,6%.
Enfim, um enorme fluxo de informação falsa,
distorcida e demagógica, vai escorrendo dos jornais e das televisões, para uma
opinião pública geralmente mal informada, e que teima em só ter como
verdadeiras as notícias que lhe agradam.
Todos opinam sobre tudo e sobre nada!
E assim vai o nosso “Portugalete”, “pobrete, mas
não alegrete”, confundido, desiludido e irado com a situação em que se encontra,
com um medo irracional de correr riscos, esperando sempre que alguém os corra
por ele, ou que no mínimo lhe dê garantias de ressarcimento caso as coisas não
corram bem. Este “Portugalete” que se endividou a comprar casa própria porque
nenhum Governo se atreveu a mexer numa lei da rendas, intocada, ou quase, desde
1948. Este “Portugalete” que na ilusão do dinheiro fácil e garantido, aderiu
entusiasticamente à Europa e ao Euro sem cuidar da factura que fatalmente lhe viria
ser apresentada. Este “Portugalete” que votou permanentemente em Governos que
prometiam o que não podiam proporcionar. Este “Portugalete” onde o carreirismo
é rei e a meritocracia mal vista. Este “Portugalete” onde a burocracia impera
impunemente, alimentando-se do desespero dos cidadãos. Este “Portugalete” que só
brama contra a corrupção quando lhe vão ao bolso. Este “Portugalete” que “engole”
tudo o que lhe metem pela goela abaixo, na esperança de que as coisas possam
vir a ser diferentes.
Einstein costumava afirmar que fazer a mesma coisa vezes
sem conta à espera de resultados diferentes, não passava de uma forma de
loucura.
Eu concordo totalmente com ele: Portugal está
esquizofrénico!
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