Quando era pequeno, lembro-me de me assustarem dizendo: “Se não come a sopa toda, chamo o polícia!”.
Não sei o que teria de
assutadora, a figura gorda e cheia de bonomia, que regularmente patrulhava a
nossa rua. Era um homem grande, que vestia uma farda de coçado cotim, com uma
considerável concentração de gordura na zona da nuca, cujas calças largueironas
eram presas por um largo cinturão, do qual sobressaía o coldre da pistola e
pendia um ameaçador bastão.
Na realidade, por pouco
assustador que o guarda de giro fosse, a verdade é que eu, mediante a ameaça,
comia a sopinha toda e não refilava. Pelos vistos, o medo fazia o seu caminho e
sobrepunha-se à minha falta de vontade de comer a mistela a que chamavam de sopa.
De facto, o medo sempre
constituiu uma arma poderosa, que consolidou reinados, que impôs morais e que
sempre constituiu uma poderosa arma política, que se bem utilizada, funciona
com uma enorme eficiência. Na sua obra prima “O Principe”, já Nicolau
Maquiavel dizia que a um soberano servia mais ser temido do que amado. Esta é realmente
a verdadeira e sinistra dimensão política do medo.
Hoje em dia, nos tempos
conturbados que atravessamos, somos regular e presistentemente ameaçados com a
saída do Euro, e o alegadamente desastroso regresso ao Escudo.
Na verdade, vão
aparecendo estudos e planos que não confirmam nem preconizam um desastre de
grandes dimensões para essa eventualidade. Um regresso programado e bem
organizado à moeda nacional para transacções internas e a constituição de
reservas de divisas fortes para as transacções internacionais, não só se
apresenta viável, como até recomendável.
Com soberania sobre a
nossa moeda, poderíamos desvalorizá-la com cautela, de modo a controlar a
recuperação da economia sem o desastre social, económico e financeiro que nos
está, e continuará por largo tempo, a ser imposto.
Então porquê assustar
as populações? Porquê instalar um medo quase irracional e apresentar como
tragédia o retorno à moeda nacional, mesmo sabendo todos no intímo que mais
tarde ou mais cedo será inevitável acontecer? A quem aproveita este culto do medo do
regresso ao Escudo?
Em primeiro lugar não
podemos esquecer que de há umas décadas para cá, vivemos sob a tutela de
poderes políticos totalmente capturados pelo poder financeiro, e este último só
tem a ganhar com a situação vigente.
Os políticos, ao
serviço do poder financeiro, através da forma como se foram endividando e
hipotecando os seus Países, pensam com temor na quantidade de vantagens, poder,
previlégios e mordomias que perderiam se não zelassem pelos superiores
interesses de quem os tutela. A Banca, é claro, seria confrontada com um
esquema cambial que em nada beneficiaria as pouco claras transacções e
aplicações dos tais “produtos complexos”, acerca dos quais, nem mesmo eles
entendem totalmente o funcionamento.
No fundo, como o padrão
da moeda passou a ser a dimensão da dívida, confrontamo-nos com o paradoxo de
que quem é mais rico é quem mais hipóteses tem de se endividar. O dinheiro
deixou de ser um meio de pagamento, e passou ele próprio a ser uma simples mercadoria.
Estando Portugal
inserido numa zona monetária, constituída por Paises com economias de
sustentabilidade completamente diversa, pouco interessará às economias mais
poderosas a recuperação das mais debilitadas, pois a situação actual dá-lhes
competitividade à moeda, beneficiando da fraqueza dos mais pobres, mas que
apesar de tudo constituem mercados de consumidores, que assim podem ser controlados
pelas economias mais fortes. Lembrem-se das tremendas pressões de que Portugal foi
vítima por parte do Governo Alemão, aquando a privatização da EDP, e que só não
conseguiu os seus intentos porque os Chineses puseram a fasquia tão alta, que
nem a Alemanha lá pôde chegar.
A tentativa de
Germanização das economias da Europa do Sul, controlando intolerávelmente os
custos do trabalho e do consumo interno, aliada aos movimentos políticos
tendentes a modernizar a industria Rússa, dariam finalmente à Alemanha aquilo que
ela não conseguiu por via das armas: Uma hegemonia Europeia de grande alcance
político e económico e cuja arma utilizada, mais não é do que o Euro.
Não nos deixemos
portanto sucumbir ao medo que nos está premeditadamente a ser instilado, com
inconfessáveis e sinistros objectivos políticos.
Defendamos pois o
regresso à soberania da nossa moeda e denunciemos as miseráveis manobras que
estão sendo levadas a cabo, amedrontando e mentindo às populações, omitindo e
falseando as opiniões e os estudos de reputados economistas, divulgando apenas
o trabalho de gente que já está total e completamente capturada pelo poder
financeiro e que nada está preocupada com o bem estar das Sociedades..
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