TEXTO ESCRITO EM 13 de JUNHO de 2005
A minha formação moral e cristã não me permite que exulte ou me sinta agradado pela morte de alguém. Quem morre parte desta Vida em direcção a uma outra realidade, na qual é suposto ser avaliado pelos seus actos terrenos e assim acho, que tanto Vasco Gonçalves como Álvaro Cunhal, estarão nesta altura em boas mãos, prestando contas dos seus actos em Vida.
Se me atrevesse a imaginar no que poderá constituir a justiça divina e fosse um verdadeiro cristão, deveria até sentir pena e comiseração por estas almas que partiram.
Infelizmente não o sou e a única coisa que consigo associar a estes dois ilustres defuntos foi o facto de serem os construtores e executores de um dos mais negros períodos da nossa história moderna: O Processo Revolucionário Em Curso, o famosíssimo PREC!
Tendo em Cunhal o ideólogo e no companheiro Vasco o seu sicário e executor, o PREC atingiu grande parte dos objectivos previstos, sendo, para além da incompetência política posterior, o maior factor de atraso para o Portugal que se desejaria moderno e competitivo.
De uma penada privatizaram a Banca, os Seguros e todas as empresas de maior dimensão existentes à época em Portugal, cuja administração ficou entregue a comissões de trabalhadores e a comissões ad-hoc constituída por militares de baixa patente e nenhuma preparação. Os saneamentos políticos dos gestores e técnicos competentes, levou a uma sangria sem precedentes das elites preparadas que existiam, levando-as ao exílio. A reforma agrária e a ocupação selvagem de terras por trabalhadores rurais, constituídos em cooperativas agrícolas ineficientes e mal geridas, colocaram a já fraca agricultura portuguesa na total e completa bancarrota. As permanentes intervenções estatais nas empresas públicas, injectando capitais sobre capitais para disfarçar as gestões ruinosas, criou um inesgotável e insaciável sorvedouro dos dinheiros públicos, estes cada vez mais parcos, dada a ineficiência e laxismo de todo o sistema fiscal. Para finalizar, a cereja em cima do bolo: Uma constituição quase marxista, de grande carga ideológica e blindada em relação a um grande conjunto de normas, que nos dias de hoje nos retiram a necessária competitividade como País e inibem de forma quase irremediável a atracção de investimento estrangeiro.
Todo este processo, é preciso notá-lo, tinha como desfecho confesso e explicito a instituição de uma ditadura do proletarieado em Portugal, a qual só foi travada a 25 de Novembro, com o recuo dos comunistas e a escassos milímetros de uma guerra civil fratricida e sangrenta.
Enfim, retirando o enorme volume de tragédias pessoais provocadas por estas políticas, algumas das quais ainda se reflectem nos dias de hoje, é este, em traços largos, o retrato do PREC.
Este sinistro processo, visto e analisado à luz de hoje, tem as consequências que se conhecem e das quais resulta o estado caótico em que o País se encontra, em nada tendo ajudado a péssima qualificação e manifesta fraqueza dos políticos nacionais.
É sabido que se consegue destruir em minutos aquilo que demora anos a construir. Pode ser a implosão de um edifício, a quebra de uma confiança ou a destruição de uma economia, e neste particular, o PREC foi de uma eficiência perfeitamente demolidora.
Debatendo-se hoje Portugal com todas as carências estruturais que se conhecem e que resultam na gravíssima crise orçamental e económica que aflige o País, custa-me constatar, ou mesmo a admitir, que haja quem tenha o atrevimento de considerar os principais artífices de tão sinistro processo como perdas irreparáveis ou grandes patriotas.
Repetindo o meu início, não exulto com a morte de ninguém, mas reservo-me o direito, e quem sabe se o dever, de não sentir qualquer saudade ou respeito pela sua memória.
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