Texto publicado em 27 de Janeiro de 2005
Não o era para mim, como também não o era para muitos dos chamados “Militares
de Abril” que conheci nessas minhas meninice e adolescência.
A vigência do Estado Novo com toda a sua miríade de organizações
juvenis, actividades lúdicas e moral institucional, a isso não só propiciava,
como formalmente obrigava.
Militava eu na altura numa auto-denominada “Juventude Monárquica”, a quem
o Regime não ligava nada, mas que nos dava um certo sabor a ilegalidade e risco
subsequente. De facto pouco mais fazíamos do que lançar pequenos folhetos,
duplicados manualmente, do alto do Elevador de Santa Justa, nos quais
exaltávamos as virtudes da Monarquia perante uma Republica implantada pela
maçonaria, através de um sangrento Regicídio.
No começo da adolescência falaram-me do socialismo!
Entusiasmado, partilhei com o meu Avô o que me parecia a justeza de um regime.
Nessa noite, como por magia, surgiram na minha mesa de cabeceira as
duas obras primas de Orwell: “Animal Farm” (estupidamente traduzido para
português como “Triunfo dos Porcos”) e “1984”.
Devorados rapidamente os livros, apercebi-me de que estava definitivamente
curado dessa potencial “primo-infecção” de cariz socialista.
O 25 de Abril apanhou-me em Angola, tornando inviável um certo tipo de futuro
que eu ingenuamente engendrara. Regressado a Lisboa rapidamente me apercebi que
os obreiros da denominada “Revolução dos Cravos”, outros não eram que
velhos companheiros de escola e folguedos, aos quais os problemas laborais com
que se debatiam no seio das suas carreiras militares, rapidamente foram
politizados através de “sessões de esclarecimento” e outros “hapenings” de
carácter político, sabiamente orquestrados pelo “esquerdalho” stalinista tão em
voga na época.
Enfim, compreendi então que a política era imperativa e aceitei que o sistema
democrático e o estado de direito corresponderiam realmente a um sistema justo
e equitativo.
Segundo eu entendi, um sistema democrático possibilitava-nos a escolha, o que
significava que o povo escolheria os seus representantes.
Rapidamente me apercebi que a tibieza e desconfiança reinantes na “Assembleia
Constituinte” tinham produzido um tal aborto de Constituição, que muito mais
importante do que o acto de escolher, era o acto de excluir, através da
peregrina figura do "voto útil", que passados trinta anos ainda
continua a fazer doutrina. Parecia-me um atentado ao conceito de democracia e à
liberdade de escolha, mas enfim, levando em conta o Regime anterior, até que
não era assim tão mau.
O tempo passou. O País “europeizou-se”, saiu daquela espécie de limbo em que se
mantinha desde finais do Século XIX e… Ao que parece, tudo piorou!
No momento actual, no limiar de eleições legislativas importantíssimas, chego à
conclusão que para lá de me ter sido retirado o direito de escolher, foi-me
igualmente retirado o direito de excluir.
Afinal o que fazer? Escolher entre o muito mau e o péssimo? Abster-me? Votar em
branco (que é o mesmo que me abster)? Vociferar? Insultar? Preparar atentados à
bomba?
Francamente não sei o que fazer e o desencanto absoluto invade-me por todos os
poros. O “establishment” da democracia instituída proclama que o voto é a arma
do Povo, ao que os anarquistas ripostam, afirmando que se o Povo vota perde
definitivamente a sua arma. Quase me inclino para concordar com estes últimos.
Pelo menos não se escondem atrás de sofismas.
Ou me engano muito, ou quem vai ganhar estas eleições é o “partido”
da abstenção, que basicamente colhe os seus “votos” no descontentamento, na
descrença, na indiferença, na impotência e, basicamente, na revolta.
Que Deus nos proteja, pois pelo que me é dado constatar, estamos entregues à
“bicharada”, o que com o actual sistema político nos condena a penar,
vítimas da incompetência dos governantes, da incapacidade dos partidos, da
voracidade das “jotas” e, principalmente, dos "sebastianismo" e
passividade do Povo português.
Sem comentários:
Enviar um comentário