quinta-feira, 11 de julho de 2013

AVENTURAS E DESVENTURAS DOS JOTINHAS NO PAÍS DO BOLO-REI

Estava perfeitamente claro que a incursão dos intrépidos Jotinhas no País do Bolo-Rei, tinha potencial para dar um resultado desastroso.

Nem os Jotinhas estavam preparados para a aventura, como o Bolo-Rei difícilmente resistiria a devolver em dobro as dentadas que tinha levado. Em suma, assim e com a ironia subjacente, se poderia resumir o que se passou durante a última semana em Portugal.

Poder-se-iam procurar as razões da presente crise nas profundezas da História, mas penso que basta atentar aos últimos acontecimentos para entender bem a falência de um regime idiota e inepto, nascido da ameaça do totalitarismo Marxista e perpetuado pela a oligarquia partidária, que muito para lá das elites, se estende a uma poderosa míriade de pequenos interesses burgueses, regionais, autárquicos ou pessoais, denominados de “bases”, que tal como os mastins, depois de cerrar as mandíbulas sobre o poder, tem uma incapacidade física de abrir os maxilares, dado que estes deixam de responder às ordens da racionalidade cerebral.

De momento temos duas oposições, ambas irrealistas, mas de natureza diferente. Mais à esquerda reina o irrealismo alimentado pelas utopias que ao longo da História se têm mostrado desastrosas, e mais para o centro, lá para as bandas do PS, o irrealismo é diferente, consistindo em prometer aquilo que não depende do seu controlo, que preconizando políticas diferentes, teria fatalmente o mesmo triste destino do Sr. Hollande em França, que tudo ofereceu e tudo tudo teve de renegar, estando agora a sofrer os imensos custos políticos da irresponsabilidade das suas promessas.

Sobre o Governo pouco há a dizer que já não tenha sido constatado. Passos Coelho convenceu-se de que era um Estadista e o tempo veio provar que o não era. Austeridade sobre austeridade levou, não própriamente o País, mas às Famílias quase à bancarrota, tendo o seu principal fautor tirado o corpo fora, demitindo-se através de uma missiva em que assumia o fracasso das suas políticas, passando a batata quente ao seu protector e discípulo, o Primeiro Ministro. Acerca de Paulo Portas, nem vale a pena falar, dado que é sobejamente conhecida a sua apetência para a política palaciana, a qual serve para alimentar o seu incomensurável ego, independentemente das consequências que daí possam advir. Bastava ver o seu ar radiante quando se convenceu que tinha sido o vencedor deste triste braço de ferro.

Restava-nos pois, como último recurso, a intervenção de Cavaco Silva, esperando que da sua comunicação, por entre eventuais migalhas de bolo-rei, saísse uma solução, que na impossibilidade de ser boa, fosse no mínimo aceitável.

Nada mais irrealista!

Cavaco, que directa e indirectamente, ao longo dos ultimos 30 anos é um dos grandes responsáveis pela crise actual, decidiu que estava na hora de agir, e como de costume, fez asneira!

Após a crise despoletada pela demissão de Gaspar, seguida da de Portas, a Cavaco apresentavam-se três alternativas: Dissolver a AR, convocando eleições, manter o Governo, aceitando o plano da coligação, ou no limite, promover um governo de iniciativa presidencial. Pois Cavaco conseguiu surpreender o País: Encontrou uma quarta solução, porventura a mais desastrada de todas. Põe o Governo no quadro de mobilidade especial durante nove meses, anunciando eleições antecipadas para daqui a um ano e tenta forçar um acordo de regime que por muito que seja assinado, dificilmente será respeitado, e lá vai o País, contente e lampeiro, avisar a Troika e os mercados de que está tudo bem.

Não se vislumbra bem o que passou pela cabeça de Cavaco, para além de duas evidências: Não confia em Seguro, o que se compreende, e simultâneamente vinga-se de Passos e de Portas pelo vexame que em que consistiu a posse de Maria Luis Albuquerque. No meio disto tudo, quem paga a factura é o Povo Português. Edificante!

Toda a introdução inicial sobre a necessidade de estabilidade política, invocando as razões que desaconselhavam a dissolução da AR, o risco de um segundo resgate, a desconfiança dos mercados, etc... foi totalmente destruída pela insólita solução encontrada pelo PR e expressa na segunda parte da sua comunicação. Metafóricamente, dir-se-ia que Cavaco agiu como aquelas crianças que constroem um elaborado castelo de areia na praia, e depois, enfadadas, dão-lhe um pontapé. Convenhamos que é pouco compreensível, ou se calhar talvez não...

Mas de facto, feito o mal e a caramunha, não vale a pena estar com a faca nos dentes à procura de culpados, pois para lá dos suspeitos do costume, em última análise, culpados são TODOS os Portugueses que ao longo dos últimos quarenta anos aceitaram e participaram no logro que é este jogo político, a que pomposamente chamam de Democracia. Agora o que resta é procurar rápidamente abrigo, pois as bombas vão começar a chover e com muita intensidade. Pode ser que numa aberta, seja possível alterar este pusilanime sistema político e substituí-lo por algo realmente mais democrático e eficiente.

Infelizmente parece ilusório que as coisas mudem com a rapidez necessária. Às portas de umas eleições autárquicas, o regime vai-se emproar como os pavões e tentar exibir as qualidades que não tem, e infelizmente muitos Portugueses vão acreditar. Com esta solução pseudo-salomónica de Cavaco, o País, que tanto necessita de decisões de fundo, vai passar os próximos doze meses avassalado pela vacuídade de uma interminável campanha eleitoral, cheia de acusações e promessas incumpríveis, na expectativa das anunciadas eleições antecipadas ao retardador e que provávelmente nada irão resolver. Afinal parece que definitivamente conseguimos entrar na trágica rota Grêga.

Resta pois esperar, para quem é crente, que Deus os ajude, para quem o não é, então salve-se quem puder!

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