Estava
perfeitamente claro que a incursão dos intrépidos Jotinhas no País do Bolo-Rei,
tinha potencial para dar um resultado desastroso.
Nem
os Jotinhas estavam preparados para a aventura, como o Bolo-Rei difícilmente
resistiria a devolver em dobro as dentadas que tinha levado. Em suma, assim e
com a ironia subjacente, se poderia resumir o que se passou durante a última
semana em Portugal.
Poder-se-iam
procurar as razões da presente crise nas profundezas da História, mas penso que
basta atentar aos últimos acontecimentos para entender bem a falência de um
regime idiota e inepto, nascido da ameaça do totalitarismo Marxista e
perpetuado pela a oligarquia partidária, que muito para lá das elites, se estende
a uma poderosa míriade de pequenos interesses burgueses, regionais, autárquicos
ou pessoais, denominados de “bases”, que tal como os mastins, depois de cerrar
as mandíbulas sobre o poder, tem uma incapacidade física de abrir os maxilares,
dado que estes deixam de responder às ordens da racionalidade cerebral.
De
momento temos duas oposições, ambas irrealistas, mas de natureza diferente.
Mais à esquerda reina o irrealismo alimentado pelas utopias que ao longo da
História se têm mostrado desastrosas, e mais para o centro, lá para as bandas
do PS, o irrealismo é diferente, consistindo em prometer aquilo que não depende
do seu controlo, que preconizando políticas diferentes, teria fatalmente o
mesmo triste destino do Sr. Hollande em França, que tudo ofereceu e tudo tudo
teve de renegar, estando agora a sofrer os imensos custos políticos da
irresponsabilidade das suas promessas.
Sobre
o Governo pouco há a dizer que já não tenha sido constatado. Passos Coelho
convenceu-se de que era um Estadista e o tempo veio provar que o não era.
Austeridade sobre austeridade levou, não própriamente o País, mas às Famílias
quase à bancarrota, tendo o seu principal fautor tirado o corpo fora,
demitindo-se através de uma missiva em que assumia o fracasso das suas
políticas, passando a batata quente ao seu protector e discípulo, o Primeiro
Ministro. Acerca de Paulo Portas, nem vale a pena falar, dado que é sobejamente
conhecida a sua apetência para a política palaciana, a qual serve para
alimentar o seu incomensurável ego, independentemente das consequências que daí
possam advir. Bastava ver o seu ar radiante quando se convenceu que tinha sido
o vencedor deste triste braço de ferro.
Restava-nos
pois, como último recurso, a intervenção de Cavaco Silva, esperando que da sua
comunicação, por entre eventuais migalhas de bolo-rei, saísse uma solução, que
na impossibilidade de ser boa, fosse no mínimo aceitável.
Nada
mais irrealista!
Cavaco,
que directa e indirectamente, ao longo dos ultimos 30 anos é um dos grandes
responsáveis pela crise actual, decidiu que estava na hora de agir, e como de
costume, fez asneira!
Após
a crise despoletada pela demissão de Gaspar, seguida da de Portas, a Cavaco
apresentavam-se três alternativas: Dissolver a AR, convocando eleições, manter
o Governo, aceitando o plano da coligação, ou no limite, promover um governo de
iniciativa presidencial. Pois Cavaco conseguiu surpreender o País: Encontrou uma
quarta solução, porventura a mais desastrada de todas. Põe o Governo no quadro
de mobilidade especial durante nove meses, anunciando eleições antecipadas para
daqui a um ano e tenta forçar um acordo de regime que por muito que seja
assinado, dificilmente será respeitado, e lá vai o País, contente e lampeiro,
avisar a Troika e os mercados de que está tudo bem.
Não
se vislumbra bem o que passou pela cabeça de Cavaco, para além de duas
evidências: Não confia em Seguro, o que se compreende, e simultâneamente
vinga-se de Passos e de Portas pelo vexame que em que consistiu a posse de
Maria Luis Albuquerque. No meio disto tudo, quem paga a factura é o Povo
Português. Edificante!
Toda
a introdução inicial sobre a necessidade de estabilidade política, invocando as
razões que desaconselhavam a dissolução da AR, o risco de um segundo resgate, a
desconfiança dos mercados, etc... foi totalmente destruída pela insólita
solução encontrada pelo PR e expressa na segunda parte da sua comunicação.
Metafóricamente, dir-se-ia que Cavaco agiu como aquelas crianças que constroem
um elaborado castelo de areia na praia, e depois, enfadadas, dão-lhe um
pontapé. Convenhamos que é pouco compreensível, ou se calhar talvez não...
Mas
de facto, feito o mal e a caramunha, não vale a pena estar com a faca nos
dentes à procura de culpados, pois para lá dos suspeitos do costume, em última
análise, culpados são TODOS os Portugueses que ao longo dos últimos quarenta
anos aceitaram e participaram no logro que é este jogo político, a que
pomposamente chamam de Democracia. Agora o que resta é procurar rápidamente
abrigo, pois as bombas vão começar a chover e com muita intensidade. Pode ser
que numa aberta, seja possível alterar este pusilanime sistema político e
substituí-lo por algo realmente mais democrático e eficiente.
Infelizmente
parece ilusório que as coisas mudem com a rapidez necessária. Às portas de umas
eleições autárquicas, o regime vai-se emproar como os pavões e tentar exibir as
qualidades que não tem, e infelizmente muitos Portugueses vão acreditar. Com
esta solução pseudo-salomónica de Cavaco, o País, que tanto necessita de
decisões de fundo, vai passar os próximos doze meses avassalado pela vacuídade
de uma interminável campanha eleitoral, cheia de acusações e promessas
incumpríveis, na expectativa das anunciadas eleições antecipadas ao retardador
e que provávelmente nada irão resolver. Afinal parece que definitivamente conseguimos
entrar na trágica rota Grêga.
Resta
pois esperar, para quem é crente, que Deus os ajude, para quem o não é, então salve-se
quem puder!
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