Recorrentemente ocorre uma
discussão sobre os cada vez mais realistas jogos de vídeo.
Uma criança de seis ou sete
anos, dedilhando com maestria e precisão o comando da sua consola de jogos,
pode fantasiar com facilidade a melhor forma de matar zombies ou erradicar
vampiros, no meio de realistas gritos de dôr e espalhafatosos esguichos de
sangue. Por vezes o inimigo é mais rápido, e num indicador do écran vai-se
esvaíndo a saúde do jogador, a qual ele pode recuperar se atingir certos
objectivos.
Ao que dizem os psicólogos,
isto não é grave, pois de um modo geral não passa de uma catárse em que a
criança esgota ali o seu potencial de agressividade, etc... etc...
É evidente que neste tipo de
jogo o jogador não corre qualquer tipo de risco, para além da remota
possibilidade de um ego ligeiramente abalado, estando totalmente a salvo de
uma paulada ou uma mordidela no pescoço.
A profusão de figuras políticas de primeiro
plano, que súbitamente invadiram a quase totalidade do nosso espaço
televisivo, faz lembrar um pouco os meninos e os seus jogos de vídeo.
Com o comentário político,
feito ao longo da semana pelas várias “vedetas” contratadas, e apresentadas em
regime de contra-programação, os pontos obtidos nos tradicionais jogos de
vídeo, são substituídos pela guerra das audiências, que exploram um “voyeurismo”
político da mesma natureza da que leva o Povo a regozijar-se com eventuais
cenas de sexo ou violência nos “reality shows”, tais como o Big Brother ou a
Casa dos Segredos. O prémio, em vez de ser um “score” de créditos no fim do
jogo, resume-se áquilo que chamam de “share” televisivo.
Ele são ex-Primeiros
Ministros, ex-Ministros, ex-Lideres Partidários, ex-Deputados, e em tal
profusão, que nem um honesto “zapping” permite que um sossegado cidadão se
livre desta praga, sendo obrigado a levar com maus concursos, novelas ou séries
profusamente repetidas nos canais do cabo. Parece uma maldição!
Tal como o jogador de consola
não corre nunca o risco de ser mordido pelo vampiro que pretende aniquilar,
estas “figuras públicas” também assim evitam todo e qualquer risco político.
Fazem a apologia das políticas que levaram a efeito, e que em última análise
nos conduziram à desgraça actual, sem o mínimo pudor ou a mais leve assumpção
de culpas. Quem os ouvir poderá ficar a matutar sobre quem foram de facto os
verdadeiros responsáveis pela situação económico/financeira que lançou Portugal
nas garras dos chamados “mercados”, que mais não são do que os bancos e
instituições financeiras daqueles países que era suposto serem nossos aliados,
no âmbito de uma falhada União Europeia, actualmente moribunda, vítima do seu
próprio cancro: O Euro!
Entretanto, nas pantalhas das
nossas televisões, os verdadeiros obreiros da catástrofe vão perorando,
sugerindo políticas que nunca puseram em prática, acusando os adversáriois e
justificando as suas próprias actuações.
E isto sem risco nenhum, pois
não estão a assumir nenhum compromisso eleitoral, nem mesmo cívico. Estão para ali, a dizer
baboseiras e formulando elocubrações de carácter teórico ou irrealista, na
esperança de fazer uma prova de vida, não vá o destino meter-lhes o poder ao
alcance da mão através de um qualquer acto eleitoral!
São políticos que estão a
jogar playsation, jogo no qual os zombies ou os vampiros somos nós, cidadãos
eleitores, torturados pelos resultados das más políticas e falta de seriedade,
praticados nos Governos em que participaram e o prémio, para além do que de
pecuniário possa ter, é a enérgica masturbação intelectual que tanto prazer
lhes parece dar ao se inteirarem do seu famoso “share”.
José Sócrates, Santana Lopes,
Marques Mendes, Santos Silva, Manuela Ferreira Leite, Jorge Coelho, Manuel
Cravinho, Marcelo Rebêlo de Sousa, Francisco Louçã, Bagão Félix, Nuno Morais
Sarmento, Paulo Rangel e mais uma legião de deputados-comentadores, vão
desfilando no pequeno ecran, a uma velocidade quase supersónica, em programas
semanais de “comentário” político, levando ao extremo o exercício do
auto-elogio e da vaidade desmedida, praticando com naturalidade o tradicional
jogo da demagogia e do mal-dizer.
Enfim... Política Portuguesa
do Sec. XXI, uma verdadeira política levada a efeito por políticos Playsation!
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