quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O CARICATO DE UM MISTÉRIO DESVENDADO.


(Quando partilhei este vídeo sobre a avaliação de certos conceitos de arte contemporânea, lembrei-me de este texto, escrito em 2005, sobre um caso verídico passado nessa altura na Figueira da Foz...
Se querem rir um bocado, leiam o texto...)

O jornal “Público” de 28 de Dezembro dava à estampa uma notícia, sob o título “Peças de Lavatório de Jimmie Durham Roubadas na Figueira”, a qual muito me intrigou.
Ao que parece, na exposição patente no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, alguém teria roubado uma “peça” do referido artista e que consistia em partes de um lavatório partido, dispostas no chão da casa de banho, junto a um lavatório inteiro.
Pelo que se subentende da notícia, os referidos “cacos” deviam ser suficientemente valiosos para despertar a cobiça alheia e justificarem igualmente um seguro de 27.000 Euros.
Afinal o mistério foi desvendado: Uma diligente e eficiente empregada de limpeza, ao ver os cacos de um lavatório no chão, apanhou-os escrupulosamente, provavelmente cogitando algo sobre o vandalismo que impera nos dias de hoje, e simplesmente colocou-os no contentor do lixo!
Confesso que o imprevisível desfecho deste caso, quase policial, me deu um tremendo gozo!
Normalmente este tipo de manifestação dita “artística”, tem como finalidade a polémica, na qual o dito artista pretende dar mais importância ao criador do que propriamente a sua criação. Salvador Dali fê-lo amiúde, só que Dali era realmente um génio, e aos génios normalmente perdoam-se grande parte dos seus desvarios.
Fiquei deliciado! No fundo, uma simples mulher da limpeza repôs a verdade dos factos: o lixo foi para o lixo, lugar onde realmente pertencia e apenas resta saber como vai a seguradora reagir ao pedido de indemenização pelo roubo da referida “obra”.
Já há tempos, em Berlim, uma instalação que consistia em latas de conserva usadas, foi “confundida” com a sua verdadeira natureza e também foi parar ao contentor do lixo, passando por restos de uma merenda de turistas pouco asseados.
Imaginativamente, a solução encontrada pelo Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz para obviar a repetição de situações deste tipo, foi a de ministrar formação profissional sobre arte moderna à suas funcionárias da limpeza, de modo a que estes “lamentáveis equívocos” venham a ser evitados de futuro.
Fracos sinais dos tempos, estes em que corremos o sério risco de confundir a arte com o lixo ou o lixo com a arte. Supremo vexame, o do artista, que em vez da “polémica”, da “ruptura” ou do “choque”, se limitou a ver a sua obra seguir para o lugar ao qual de facto pertencia, um simples contentor do lixo, pela mão profissional de uma “ignorante” funcionária da limpeza.

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