segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

POBRE PORTUGAL...


  1. (TEXTO ESCRITO E PUBLICADO A 7 de OUTUBRO de 2004)

Pobre deste nosso País-À-Beira-Mar-Plantado, que mais não tem que fazer do 
que discutir acaloradamente a saída de um pseudo comentador político de uma estação de televisão de grande audiência.
Devo começar por informar de que não gosto deste governo nem um bocadinho por causa da sua manifesta incompetência e ineficácia.
Dito isto (já pareço o Marcelo a falar), vamos ao que interessa:
Em primeiro lugar há que reconhecer que os comentários que Marcelo expendia até ao passado Domingo na antena da TVI, não eram de todo uma análise política. Eram apenas e tão só um verdadeiro tempo de antena, privado, de que o "Professor" usufruiu 45 minutos por semana, sem qualquer oposição, debate ou questionamento, durante o módico espaço de tempo de cerca de quatro anos e meio.
Convenhamos que é um previlégio que não conhecemos a qualquer outro político, nem no tempo da "outra senhora".
O facto destas "crónicas", chamemos-lhe assim, irem para o ar através da TVI também é sintomático. O "Professor" escolheu uma "tv-tabloide", que relata tudo quanto é crime e vilania, dedicando a estes assuntos largos e detalhados directos, nos quais entrevistam furiosamente tudo e todos. É evidente que esta escolha não é inocente, pois era este o tipo de programação popularucha que mais convinha ao "Professor". Atingindo um público tradicionalmente ignorante, que segue embevecido as várias edições do "Big Brother" e mais recentemente a "Quinta das Celebridades", Marcelo tornou-se uma espécie de pitonisa da política caseira.
Esse povinho que morre espremido nos transportes públicos, que lê "A Bola" ou o "Record" no café e em casa pouco consegue passar da vulgaridade da "Nova Gente", gosta de saber de política, mas tem pouca cultura, tempo ou preparação para a seguir com regularidade. É neste contexto que entra o "Professor", com os seus dotes de comunicador exímio, que lhes serve em 45 minutos um compacto "digest" da política caseira.
Assim, na Segunda Feira de manhã já sabem do que falar quando chegarem aos serviços e repartições. No fundo o "Professor" é a capa que os protege da exibição da sua própria ignorância. Por isso é que ele é o "Professor", não é?
O grave é que o "Professor" só lhes ensina o que ele quer que aprendam, o que não é dispiciendo quando se sabe que a audição das suas "homílias" dominicais eram seguidas religiosamente por cerca de um terço dos votantes nacionais.
Agora, com esta rábula que foi encenada por si próprio, Marcelo Rebêlo de Sousa está livre para se candidatar às próximas eleições presidenciais: Como alto militante do PSD terá os votos da direita que antipatiza com o actual Primeiro Ministro e potencialmente terá os votos de muita da esquerda sociológica que decerto se compadece desta vitimização estudada ao promenor, e como o "pôvo é quem mais ordena", lá estará para ajudar, a grande legião de fieis seguidores do grande Oráculo da política: O "Professor".
Suponho quem nem Maquiavél conseguiria imaginar tão hábil manipulador e maquinador!
Eu como velho monárquico endurecido nunca votei nas eleições presidenciais pela mesma razão que não jogo no totoloto: Não acredito nesses concursos! Agora, aos que acreditam aconselho-lhes muita cautela. Com Marcelo eventualmente na Presidência até irão ter saudades de Mario Soares.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

SERÁ QUE ENTERRÁMOS DEFINITIVAMENTE O PREC...?

TEXTO ESCRITO EM 13 de JUNHO de 2005


A minha formação moral e cristã não me permite que exulte ou me sinta agradado pela morte de alguém. Quem morre parte desta Vida em direcção a uma outra realidade, na qual é suposto ser avaliado pelos seus actos terrenos e assim acho, que tanto Vasco Gonçalves como Álvaro Cunhal, estarão nesta altura em boas mãos, prestando contas dos seus actos em Vida.
Se me atrevesse a imaginar no que poderá constituir a justiça divina e fosse um verdadeiro cristão, deveria até sentir pena e comiseração por estas almas que partiram.
Infelizmente não o sou e a única coisa que consigo associar a estes dois ilustres defuntos foi o facto de serem os construtores e executores de um dos mais negros períodos da nossa história moderna: O Processo Revolucionário Em Curso, o famosíssimo PREC!
Tendo em Cunhal o ideólogo e no “companheiro” Vasco o seu sicário e executor, o PREC atingiu grande parte dos objectivos previstos, sendo, para além da incompetência política posterior, o maior factor de atraso para o Portugal que se desejaria moderno e competitivo.
De uma penada privatizaram a Banca, os Seguros e todas as empresas de maior dimensão existentes à época em Portugal, cuja administração ficou entregue a comissões de trabalhadores e a comissões “ad-hoc” constituída por militares de baixa patente e nenhuma preparação. Os saneamentos políticos dos gestores e técnicos competentes, levou a uma sangria sem precedentes das elites preparadas que existiam, levando-as ao exílio. A reforma agrária e a ocupação selvagem de terras por trabalhadores rurais, constituídos em cooperativas agrícolas ineficientes e mal geridas, colocaram a já fraca agricultura portuguesa na total e completa bancarrota. As permanentes intervenções estatais nas empresas públicas, injectando capitais sobre capitais para disfarçar as gestões ruinosas, criou um inesgotável e insaciável sorvedouro dos dinheiros públicos, estes cada vez mais parcos, dada a ineficiência e laxismo de todo o sistema fiscal. Para finalizar, a cereja em cima do bolo: Uma constituição quase marxista, de grande carga ideológica e blindada em relação a um grande conjunto de normas, que nos dias de hoje nos retiram a necessária competitividade como País e inibem de forma quase irremediável a atracção de investimento estrangeiro.
Todo este processo, é preciso notá-lo, tinha como desfecho confesso e explicito a instituição de uma ditadura do proletarieado em Portugal, a qual só foi travada a 25 de Novembro, com o recuo dos comunistas e a escassos milímetros de uma guerra civil fratricida e sangrenta.
Enfim, retirando o enorme volume de tragédias pessoais provocadas por estas políticas, algumas das quais ainda se reflectem nos dias de hoje, é este, em traços largos, o retrato do PREC.
Este sinistro processo, visto e analisado à luz de hoje, tem as consequências que se conhecem e das quais resulta o estado caótico em que o País se encontra, em nada tendo ajudado a péssima qualificação e manifesta fraqueza dos políticos nacionais.
É sabido que se consegue destruir em minutos aquilo que demora anos a construir. Pode ser a implosão de um edifício, a quebra de uma confiança ou a destruição de uma economia, e neste particular, o PREC foi de uma eficiência perfeitamente demolidora.
Debatendo-se hoje Portugal com todas as carências estruturais que se conhecem e que resultam na gravíssima crise orçamental e económica que aflige o País, custa-me constatar, ou mesmo a admitir, que haja quem tenha o atrevimento de considerar os principais artífices de tão sinistro processo como “perdas irreparáveis” ou grandes “patriotas”.
Repetindo o meu início, não exulto com a morte de ninguém, mas reservo-me o direito, e quem sabe se o dever, de não sentir qualquer saudade ou respeito pela sua memória.