terça-feira, 15 de abril de 2014

O 25 DE ABRIL E O REVISIONISMO HISTÓRICO.

Com o aproximar da data icónica do seu 40º aniversário e com a polémica estupidamente levantada por Assunção Esteves, acerca das comemorações do 25 de Abril, têm-se multiplicado as opiniões, mais ou menos apaixonadas sobre o dito 25 e os seus fautores, o famigerado Movimento dos Capitães.

Ainda Domingo passado, Marcelo Rebelo de Sousa invectivava a Presidente da Assembleia da República, afirmando que se ela ocupava o lugar que ocupa, devia-o aos Capitães de Abril e aliás não houve politólogo ou “bicho-carêta” que não se tenha pronunciado sobre o assunto nestes últimos dias.

Que Marcelo Rebelo de Sousa diga bacoradas, não espanta. A isso já toda a gente se habituou. No comentário semanal que faz na TVI, tem-se entretido a contar pequenos flagrantes, em tom de intimidade, dos bastidores da Revolução, como se dele tivesse sido uma peça importante. Ao que a vaidade leva...

Sendo Marcelo um distinto Professor, custa vê-lo passar para uma opinião pública cada vez mais desinformada, uma visão tão distorcida da realidade, juntando-se ao coro dos revisionistas que pretendem uma leitura histórica muito afastada da realidade.

De facto enganam-se as pessoas que afirmam que o Movimento dos Capitães deu aos Portugueses a Liberdade e a Democracia.

É uma mentira. Não deu!

O Movimento dos Capitães, motivado por questões de ordem corporativa e laboral, limitou-se a derrubar a Ditadura, aliás o único mérito que pode reclamar.

Depois disso sabe-se bem o que se passou: Uma série de militares sem preparação política fizeram o País desaguar num PREC dramático, que deve ter sido a pior catástrofe que houve em Portugal a seguir ao terramoto de 1755, Otelo Saraiva de Carvalho, promovido a General, chefiava um digno sucessor da PIDE, o Copcon, e andava sempre munido de vários mandatos de captura assinados em branco, podendo assim prender ou perseguir quem lhe aprouvesse (democrático, hein?). Incitaram-se os saneamentos políticos nas empresas, que passaram a ser geridas por mal preparados oficiais das forças armadas, através das célebres comissões “ad hoc”. Proliferaram nos quarteis os SUV (Soldados Unidos Vencerão), que desrespeitavam a hierarquia e chegavam a ameaçar os seus comandantes. Entretanto o Gonçalvismo, de matriz soviética, procedia à nacionalização de todos principais sectores da economia, acabando por destruír definitivamente o já fraco tecido industrial. No Alentejo, a Reforma Agrária incitou à ocupação de terras por esperançadas Uniões Colectivas de Produção, que em vez de terem disfrutado dos “amanhãs que cantam”, faliram quase todas ao fim de um ano.

Entretanto no Hotel Alvor, Soares, Almeida Santos e companhia, encenavam para o mundo um ridículo acordo político entre os movimentos de libertação, clamando estarem a proceder a uma “descolonização exemplar”, enquanto nomeavam para o Governo Geral de Angola um indiscritível Almirante Rosa Coutinho, conhecido cá por “Almirante Vermelho” e em Angola pelo “Lagosta” (Era vermelho, tinha a casca grossa e a merda toda na cabeça). Rosa Coutinho levou à letra as instruções de Cunhal e entregou de forma unilateral decidida e conscientemente o poder ao MPLA, lançando Angola numa sangrenta guerra civil que durante 20 anos ceifou milhares e milhares de vidas. 500.000 Portugueses, muitos nascidos em África e já sem ligações ao país, perderam todos os seus bens e haveres, e em fuga desordenada foram recebidos em Lisboa com sobranceria e desprezo, sendo apelidados depreciativamente de “retornados”.

Em suma, este é resumidamente o resultado do 25 de Abril, já para não falar nos cercos à Assembleia da República e nas coacções da “muralha de aço” que dizia proteger o Camarada Vasco, que discursava raivosamente cada vez que lhe aparecia pela frente um microfone.

Depois, no meio dos maiores receios de se estar a beira de uma guerra cívil, houve de facto um grupo de militares, esses sim, que a 25 de Novembro de 1975 travaram as investidas comunistas que empurravam o país para uma ditadura do proletariado, inspirada no modêlo Cubano.

Esses militares sim, a esses devemos realmente a Liberdade e a Democracia, e para que conste, não eram os mesmos que em Abril de 74 derrubaram a ditadura. Por respeito e merecimento, faça-se uma excepção a Salgueiro Maia, que fez o que tinha a fazer, aceitou a rendição de Marcelo Caetano, regressou ao seu quartel, recusou todo e qualquer cargo ou protagonismo político e entrou num quase anonimato, de onde o querem agora tirar sugerindo a sua ida para o Panteão, quando o próprio, em testamento, indicou querer ser enterrado numa campa rasa em Castelo de Vide, sua terra natal.

A geração que agora está a entrar na meia-idade, seria pouco mais do que criança no 25 de Abril de 74, os seus filhos já só ouviram falar e portanto, os nossos intelectuais, os politólogos, os jornalistas e a oligarquia política no seu geral, prestam um péssimo serviço ao futuro, distorcendo o passado, seguindo o modelo que George Orwell imaginou na sua icónica obra 1984. No livro, Winston Smith estava encarregado de perpetuar a propaganda, alterando diáriamente as notícias do único jornal que não se auto destruia e cujo único exemplar ficava arquivado na Biblioteca como único registo de um passado, que era alterado segundo as conviniencias políticas do Grande Irmão, caricatura de Josef Stalin.

Orwell no decorrer da obra, elabora o seguinte pensamento: “Quem controla o presente, controla o passado e quem controla o passado, controla o futuro”.

E assim, quase como sem dar por ela, o povo Português continua a ser vítima de um tremendo embuste que resulta deste revisionismo, destinado a branquear um passado pouco edificante, no qual a honra e a verdade não passam de meros incómodos que podem ser torneados pela facilidade da mentira, transformada em verdade oficial.