terça-feira, 25 de março de 2014

A ILUSÃO DAS DEMOCRACIAS OCIDENTAIS

Os bons resultados da extrema-direita em França, tiveram o condão de acordar e lançar o alarme nas hostes, ditas democráticas, que laboriosamente militam na UE.
É difícil de entender semelhante surpresa, uma vez que a História está recheada destes exemplos e das suas consequências. A verdade é que como conceito, a Democracia é sedutora, mas na prática poucas vantagens tem trazido à maior parte das populações, a não ser quando exercida em contexto internacional não igualitário. 
Já sem falar no domínio do Império Britânico, a poderosa América, com os seus 250 anos de Democracia, não diminiu as assimetrias sociais, sonegou o Estado Social, considerando-o socializante, e após as tristes cenas do Mcarthismo e dos atentados de 11 de Setembro, aprovou uma lei infame e descriminatória, o “Patriot Act”, que perverte de forma definitiva todas as liberdades e garantias de que qualquer cidadão deveria benificiar.
Poderá parecer que neste texto transparece alguma ideologia anti-democrática, o que não é verdade. O que acontece é que a chamada Democracia Ocidental tornou-se num dos maiores logros da História, no qual uns acreditam, outros querem desesperadamente acreditar e ainda outros gostariam de ter razões para acreditar. No fundo, a crença na Democracia, no mundo que nos rodeia, pouco mais é do que um acto de Fé!
Quando se fala em Democracia, o que logo sobressai é o conceito de Liberdade Individual. Mas será que esta existe? No emaranhado jurídico que rege o funcionamento da Sociedade, o afã de derimir diferenças culturais, ideológicas, ou mesmo materiais, retiram ao indíviduo qualquer capacidade de usar a sua Liberdade Individual, de tal forma ela está tolhida pela Liberdade dos outros. Portanto, haja algum cuidado quando se içam as bandeiras da Liberdade! Ela está de tal forma condicionada, que pouco pode existir para além do reino do pensamento e da opinião.
Exemplificando com o surrealismo de um caso verídico: No tempo do Serviço Militar Obrigatório, e sendo à época Diogo Freitas do Amaral Ministro da Defesa, surgiu o movimento dos Objectores de Consciência, que invocando incompatibilidades religiosas ou morais, se furtavam ao ao SMO. Rápidamente o Governo da altura decidiu tipificar, e aceitar, os Objectores de Consciência, pelo que os ditos teriam de apresentar um atestado, assinado por um sacerdote do seu culto, atestando a sua qualidade de Objectores de Consciência (!). Numa entrevista dada à televisão, Freitas mostrava-se preocupado, não com os Objectores de Consciência, mas sim com os “falsos Objectores de Consciência” (!!). Alguém conseguirá definir um “falso Objector de Consciência”?
E enfim... Rodeados deste furor controlador e pseudo-igualitário, é fácil de perceber que espécie de  Liberdade os cidadãos poderão esperar desta nossa Democracia.
Simultâneamente à popularização dos conceitos de Democracia, a partir do Sec. XIX a alta finança descobriu a mina das dívidas soberanas, e assim, financiando guerras, revoluções e golpes de estado, foi prosperando. Dizia o velho patriarca, o Barão de Rotschild: “É-me indiferente quem governa, desde que eu tenha o controle da moeda...”
E assim correu o Sec. XIX. A entrada no Séc. XX foi estrondosa! Uma guerra mundial em 1914, uma crise financeira generalizada em 1929 e mais uma guerra mundial em 1939. Foram destruídas Nações, procederam-se a vários genocídios e cometeram-se enormes atrocidades no Holocausto, nos Gulags, na China, no Vietnam, no Laos e mais recentemente na Bósnia e no Kosovo. E quem não pestanejou? A alta finança!
A globalização veio acabar de dar o golpe final na independência do poder político, tornando-o definitivamente refém do poder financeiro. Assim, o capital desloca-se no Mundo, sem “rei nem roque”, ditando as suas regras, transformando de forma definitiva o dinheiro, de simples meio de pagamento, em uma mercadoria em si própria, criando uma teia impenetrável de negócios que aparentemente transformam em activos de alguém, produtos que na verdade são passivos de outro alguém, convertendo assim a moeda numa espécie de notas de “monopoly”, que mesmo não valendo nada, é-lhes atribuído como bom o valor facial impresso naqueles pedaços de papel.
Com o poder político totalmente capturado pelos grandes interesses financeiros e especulativos, rápidamente a Economia passou de ciência a jogo de azar, o que permitiu ganhos fabulosos a quem nada produz e aumentou a pobreza de quem realmente trabalha, o que na realidade é um paradoxo. Como entender que um especulador internacional como George Soros tenha conseguido em 1992 fazer um ataque, aliás bem sucedido, à toda-poderosa Libra Estrelina, obrigando o Reino Unido a proceder à sua desvalorização?
Criou-se pois uma élite mundial, sem pátria e sem escrúpulos que se dedicou, entre outras tropelias, ao ataque sistemático das dívidas soberanas. O aparecimento do Euro, mal estudado e mal arquitetado, já que apenas potencia as desigualdades entre estados, veio ao encontro da sanha e da gula dessa élite financeira, que lhe fincou o dente e jamais largou. Com uma Europa dependente do refinanciamento permanente e de uma dívida que aumenta na proporção directa da sua incapacidade de crescimento económico, esta acabou por se tornar numa carcaça moribunda e apodrecida, na qual  nenhum abutre resiste a dar uma bicada.
Neste contexto, Portugal, e não só, fará rigorosamente o que lhe mandarem!
Não há qualquer margem de discussão, já que basta fechar a torneira para que o País fique sem forma de pagar as suas obrigações, o seu Estado Social, os ordenados ou as pensões. Portanto, a pergunta que se impõe, é para que é que serve a Democracia? Ouvem-se imensos processos de intenção. Uns “exigem” a reestruturação da dívida, outros que básicamente esta não seja paga e outros ainda, admitindo que Portugal tem de honrar os seus compromissos, dizem que isso é impossível, os mais irrealistas advogam que os interesses do Povo estão antes dos interesses dos credores. Pena não terem pensado nisso enquanto iam alegremente endividando o país...!
Esta situação não é um duvidoso previlégio nacional, mas antes uma chaga que vai grassando e alastrando por essa Europa política, que agora atónita, se vê como uma espécie de Republica de Weimar, o que no fundo não deixa de ser um diagnóstico correcto.
Assim, deixando as decisões políticas ao sabôr dos ciclos eleitorais, os Europeus balançam na escolha entre “lume e a frigideira”, sem que outra perspectiva se lhes apresente, a não ser o regresso ao proteccionismo, o reafirmar de uma Europa-fortaleza, afundando desapiedadamente todos os esquifes que rumam a Lampedusa e protegendo descaradamente a sua agricultura e indústria, isolando-se assim de um mundo que alegremente deixou que fosse construído à sua volta, expendendo sempre grandes princípios de igualdade e liberdade, dos quais abdicou sorrateiramente a troco de alguns pratos de lentilhas encapuzadamente traficados no seu interior.
Perante este triste cenário, apenas restaria ter esperança que uma Nova Ordem Mundial mais justa, mais equitativa e menos cruel se instalasse no mundo. Como é uma completa utopia esperar que isto possa acontecer de motu-próprio, parece cada vez mais próximo e inevitável um cenário de conflito generalizado.
Não se procedendo a uma purificação pelo fogo, que tão útil se tem mostrado para a sobrevivência da espécie humana, restará dobrar de vez a cerviz e assumir que a geração actual, terá sido eventualmente a última geração a gozar de alguma liberdade. Daqui para a frente, com Governos a privatizarem lucros e a nacionalizarem prejuízos, a concederem a exploração de monopólios a troco de dinheiro e a dilapidarem despudoradamente os recursos nacionais, as gerações vindouras constituirão uma nova casta de escravos, que pouco mais poderão fazer do que trabalhar pela sua parca subsistência, ou tentar apanhar um difícil e escasso elevador social que os leve ao convívio da casta dominante, sendo que este elevador não tem andares intermédios e muitos pretendentes aos poucos lugares disponíveis.
Futuro negro?
Definitivamente!