segunda-feira, 15 de julho de 2013

PORTUGAL E O MITO DE SISÍFO

Reza a antiga mitologia Grega, que Sisífo, tendo desobedecido a Júpiter foi condenado a um tipo muito específico de trabalhos forçados: Subir uma íngreme encosta empurrando um pesadíssimo pedregulho, que uma vez no tôpo, rolaria de novo ravina abaixo, obrigando o pobre Sisífo a repetir a tarefa, sem nunca lhe vislumbrar um fim.

Como qualquer lenda, esta tem uma finalidade metafórica, e é frequentemente utilizada para expressar a inutilidade de trabalhos e sacrifícios repetidos sem qualquer vantagem, o que obriga a levá-los a cabo de novo sem qualquer garantia de êxito,mas apenas por não existir qualquer espécie de recuo ou alternativa possíveis.

A situação económico e financeira de Portugal acaba por se tornar no verdadeiro corolário do mito de Sisífo.

Dois longos e angustiantes anos de sacrifícios, de empobrecimento, de baixas expectativas, de desemprego e de desepêro, para no fim e ao cabo, o verdadeiro profeta das prometidas políticas libertadoras se demitir, afirmando com candura que as suas políticas tinham falhado!

Realmente esta situação é verdadeiramente desalentadora. É como se um carrasco, após ter decapitado o condenado, afirmasse com ingenuidadde e bonomia, que afinal não era aquele pescoço que ele queria cortar, e portanto que lhe desculpassem lá qualquer mau jeito, mas iria deixar de exercer tão exigente profissão e tornar-se num mero oficial de diligências, que mais não faria do que notificar possíveis arguidos, sem qualquer outra responsabilidade nos processos.

Já nem vale a pena bater na tecla da irresponsabilidade da entrada de Portugal no Euro, e muito menos da forma completamente incompetente de como foi calculada a paridade ao Escudo. Com isto mataram e esterelizaram a nossa economia: Os preços subiram súbitamente e a nossa competividade desceu de forma tão imediata como a subida dos preços. A Europa, essa entidade indefinida, que aparentemente é representada por uma Comissão que não manda, controlada por um Parlamento sem poderes e que, contra todas as promessas, é conduzida por um directório de países que apenas almejam o seu próprio sucesso, vai andando ao sabôr de muito ventos que se encarregam de gorar qualquer planificação que se possa fazer para melhorar as condições financeira e económica de Portugal.

Ou é um problema de liquidez num país como Chipre, ou são mudanças em coligações de países terceiros, ou ainda eleições na Alemanha, ou qualquer outro assunto que não nos diz directamente respeito. Tudo isto condiciona estupidamente a economia Europeia, principal destino das nossas exportações e assim, já quase no tôpo da encosta, lá vem o Euro para cima de nós, esmagando-nos com o seu insustentável peso, que nos rouba soberania, bem estar e esperança, obrigando-nos a outro inglório recomeço.

É claro que existiram êxitos. Toda a gente o sabe, mesmo os que os negam, mas afinal de que serviram? A dívida está menor? Não! O déficit está controlado? Não! O desemprego está a baixar? Não! O investimento está a aumentar? Não! A economia está a crescer? Não!

Então afinal qual será a verdadeira finalidade destes sacrifícios? Se não são para o nosso bem estar, hão-de ser com toda a certeza para o bem estar de alguém.

A verdade é que o nosso déficit tem uma correspondência directa e efectiva no superavit de outros países Europeus. Na realidade, o nosso desemprego, representa  postos de trabalho na Alemanha e o prejuízo derivado dos juros que pagamos pela nossa dívida, são lucros directos na dívida Alemã e de outros países do Norte, que chegam a pagar(?) juros negativos (?). Já vemos pois por que são eles tão pressurosos em afirmar ao mundo que Portugal “está no bom caminho”! E está de facto, mas no bom caminho deles, não no nosso.

E assim, enquanto não nos libertarmos deste jugo, mais não seremos do que múltiplos Sisífos arrastando pedregulhos pela encosta acima, sabendo de antemão da fatalidade de ter de repetir essa tarefa, vezes e vezes sem conta sem nenhum objectivo alcançável.

É pena! Políticos que se tinham como brilhantes, enterraram-nos num dos maiores logros da História, fazendo-nos acreditar de que alcançaríamos com facilidade a terra onde corre o leite e o mel, esquecendo que Moisés teve de penar quarenta anos no deserto, para apenas a vislumbrar.


Se tivéssemos um Governo corajoso, estaria na altura de bater o pé e dizer: “Ou vocês mudam, ou nós saímos do Euro...”, pois por muitas vozes que afirmem que isso teria um altíssimo e desastroso preço, ainda ninguém teve a coragem de indicar o verdadeiro prêço da nossa teimosa permanência nesta moeda mal parida, mal gerida e que se arrisca a acordar definitivamente os fantasmas que ciclícamente lançaram a Europa em várias guerras suicidárias.

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Eis como se poderia ilustrar bem a situação dos Portugueses, face à Europa e ao Euro:


quinta-feira, 11 de julho de 2013

AVENTURAS E DESVENTURAS DOS JOTINHAS NO PAÍS DO BOLO-REI

Estava perfeitamente claro que a incursão dos intrépidos Jotinhas no País do Bolo-Rei, tinha potencial para dar um resultado desastroso.

Nem os Jotinhas estavam preparados para a aventura, como o Bolo-Rei difícilmente resistiria a devolver em dobro as dentadas que tinha levado. Em suma, assim e com a ironia subjacente, se poderia resumir o que se passou durante a última semana em Portugal.

Poder-se-iam procurar as razões da presente crise nas profundezas da História, mas penso que basta atentar aos últimos acontecimentos para entender bem a falência de um regime idiota e inepto, nascido da ameaça do totalitarismo Marxista e perpetuado pela a oligarquia partidária, que muito para lá das elites, se estende a uma poderosa míriade de pequenos interesses burgueses, regionais, autárquicos ou pessoais, denominados de “bases”, que tal como os mastins, depois de cerrar as mandíbulas sobre o poder, tem uma incapacidade física de abrir os maxilares, dado que estes deixam de responder às ordens da racionalidade cerebral.

De momento temos duas oposições, ambas irrealistas, mas de natureza diferente. Mais à esquerda reina o irrealismo alimentado pelas utopias que ao longo da História se têm mostrado desastrosas, e mais para o centro, lá para as bandas do PS, o irrealismo é diferente, consistindo em prometer aquilo que não depende do seu controlo, que preconizando políticas diferentes, teria fatalmente o mesmo triste destino do Sr. Hollande em França, que tudo ofereceu e tudo tudo teve de renegar, estando agora a sofrer os imensos custos políticos da irresponsabilidade das suas promessas.

Sobre o Governo pouco há a dizer que já não tenha sido constatado. Passos Coelho convenceu-se de que era um Estadista e o tempo veio provar que o não era. Austeridade sobre austeridade levou, não própriamente o País, mas às Famílias quase à bancarrota, tendo o seu principal fautor tirado o corpo fora, demitindo-se através de uma missiva em que assumia o fracasso das suas políticas, passando a batata quente ao seu protector e discípulo, o Primeiro Ministro. Acerca de Paulo Portas, nem vale a pena falar, dado que é sobejamente conhecida a sua apetência para a política palaciana, a qual serve para alimentar o seu incomensurável ego, independentemente das consequências que daí possam advir. Bastava ver o seu ar radiante quando se convenceu que tinha sido o vencedor deste triste braço de ferro.

Restava-nos pois, como último recurso, a intervenção de Cavaco Silva, esperando que da sua comunicação, por entre eventuais migalhas de bolo-rei, saísse uma solução, que na impossibilidade de ser boa, fosse no mínimo aceitável.

Nada mais irrealista!

Cavaco, que directa e indirectamente, ao longo dos ultimos 30 anos é um dos grandes responsáveis pela crise actual, decidiu que estava na hora de agir, e como de costume, fez asneira!

Após a crise despoletada pela demissão de Gaspar, seguida da de Portas, a Cavaco apresentavam-se três alternativas: Dissolver a AR, convocando eleições, manter o Governo, aceitando o plano da coligação, ou no limite, promover um governo de iniciativa presidencial. Pois Cavaco conseguiu surpreender o País: Encontrou uma quarta solução, porventura a mais desastrada de todas. Põe o Governo no quadro de mobilidade especial durante nove meses, anunciando eleições antecipadas para daqui a um ano e tenta forçar um acordo de regime que por muito que seja assinado, dificilmente será respeitado, e lá vai o País, contente e lampeiro, avisar a Troika e os mercados de que está tudo bem.

Não se vislumbra bem o que passou pela cabeça de Cavaco, para além de duas evidências: Não confia em Seguro, o que se compreende, e simultâneamente vinga-se de Passos e de Portas pelo vexame que em que consistiu a posse de Maria Luis Albuquerque. No meio disto tudo, quem paga a factura é o Povo Português. Edificante!

Toda a introdução inicial sobre a necessidade de estabilidade política, invocando as razões que desaconselhavam a dissolução da AR, o risco de um segundo resgate, a desconfiança dos mercados, etc... foi totalmente destruída pela insólita solução encontrada pelo PR e expressa na segunda parte da sua comunicação. Metafóricamente, dir-se-ia que Cavaco agiu como aquelas crianças que constroem um elaborado castelo de areia na praia, e depois, enfadadas, dão-lhe um pontapé. Convenhamos que é pouco compreensível, ou se calhar talvez não...

Mas de facto, feito o mal e a caramunha, não vale a pena estar com a faca nos dentes à procura de culpados, pois para lá dos suspeitos do costume, em última análise, culpados são TODOS os Portugueses que ao longo dos últimos quarenta anos aceitaram e participaram no logro que é este jogo político, a que pomposamente chamam de Democracia. Agora o que resta é procurar rápidamente abrigo, pois as bombas vão começar a chover e com muita intensidade. Pode ser que numa aberta, seja possível alterar este pusilanime sistema político e substituí-lo por algo realmente mais democrático e eficiente.

Infelizmente parece ilusório que as coisas mudem com a rapidez necessária. Às portas de umas eleições autárquicas, o regime vai-se emproar como os pavões e tentar exibir as qualidades que não tem, e infelizmente muitos Portugueses vão acreditar. Com esta solução pseudo-salomónica de Cavaco, o País, que tanto necessita de decisões de fundo, vai passar os próximos doze meses avassalado pela vacuídade de uma interminável campanha eleitoral, cheia de acusações e promessas incumpríveis, na expectativa das anunciadas eleições antecipadas ao retardador e que provávelmente nada irão resolver. Afinal parece que definitivamente conseguimos entrar na trágica rota Grêga.

Resta pois esperar, para quem é crente, que Deus os ajude, para quem o não é, então salve-se quem puder!