terça-feira, 1 de outubro de 2013

O DIREITO DE NÃO VOTAR!

No rescaldo das recentes eleições autárquicas, uma grande confusão foi estabelecida em relação aos votos em branco, votos nulos e à abstenção.
 
Afirmou-se por aí, a torto e a direito, que o acto de votar consistia num dever cívico, derivado de um direito conquistado, sendo que qualquer abstencionista passou a ser considerado um transfuga do sistema, possuidor de pouca cultura democrática e menorizado na sua capacidade de criticar o sistema, pelo facto de não ter participado nesta farsa eleitoral.
Só quem quem sofre de profunda iletracia política, ou é prêsa de outros interesses, pode defender semelhante posição, esquecendo a forma de como o sistema se defende a si próprio, sem qualquer respeito pela vontade popular.
Em 2005, todos os partidos, sem excepção, votaram a favor da alteração constitucional, alterando assim a leitura de protesto do voto em branco e dando-lhe o mesmo valor do voto nulo. Em suma, votar em branco ou nulo é não saber  votar... no entanto presiste a convicção de que o voto em branco continua a ser um voto de protesto, não havendo por parte de TODA a classe política, qualquer vontade de esclarecer este assunto.
Assim, um protesto efectivo, representado pela abstenção, votos brancos e nulos ficou reduzido ao valor da abstenção, 47,36%, quando na realidade, se se somarem os votos brancos e nulos, ter-se-ia uma percentagem de 54,17%, o que mostra bem a falta de capacidade mobilizadora dos sectores políticos em Portugal. Ainda seria possível  juntar  os 6,66% que votaram nos independentes, e assim seria atingida uma percentagem de 60,83% de recusa no chamado voto partidário.
Como afirmou no Porto Rui Moreira, se os partidos não perceberam o que se passou no Porto (e ao que parece não perceberam mesmo!), então nunca perceberão o que se está a passar no país!
Assim, e tendo sido demonstrado que a abstenção tem o mesmíssimo valor do voto branco ou nulo, para quê saír de casa para exercer aquilo a que uns chamam direito e outros chamam dever? Além de inútil, a verdade é que o voto em branco, não o nulo, representa proventos para os partidos, dado que são atribuídos proporcionalmente a cada força política, em função dos seus resultados efectivos, com a respectiva compensação por parte do Orçamento de Estado.
É bom que os Portugueses sejam desenganados! Ao votarem em branco, estão a financiar os partidos, que aparentemente pretendem penalizar...
Por isso, mais do que criticar a abstenção deliberada, os Portugueses deveriam entender que essa é de facto a única forma de demonstrar o seu descontentamento em relação a este sistema “sistema” que se auto-protege e se arroga o direito de fazer ínvias leituras políticas sobre os valôres da abstenção, atrevendo-se até a menorizar as vitórias dos chamados “independentes”.
Por outro lado, a “ditadura” partidária, com a maior das prepotencias, avança com listas de “compadres”, ignorando completamente os interesses do seu eleitorado e a seguir, vem afirmar que quem não votou, não tem direito a pronunciar-se sobre os resultados.
Uma redonda mentira!
Se alguém for posto perante uma escolha impossível, tem todo o direito de não escolher, sem que no entanto perca qualquer direito a opinar sobre o assunto.
E assim, cá vamos cantando e rindo, clamando vitórias ou derrotas eleitorais, que mais não correspondem a cerca de 40% dos votos, já que o significado político dos outros 60% foi deliberadamente esvaziado de sentido e significado, sem que essa circunstância apague o direito à indignação de quem não se revê no sistema.
Em virtude destas considerações, e levando em conta que o sistema se auto-preserva sem qualquer escrúpulo ou respeito por quem dele discorda, parece da mais elementar justiça de que alguns cidadãos se orgulhem do direito de não votar.
Na realidade, parece haver uma verdade há muito esquecida: A política existe para servir os cidadãos e não são os cidadãos que devem servir a política!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

FUNDAMENTALISMO CONSTITUCIONAL

Últimamente tem-se afirmado aí à boca-cheia de que o Tribunal Constitucional mais não faz do que fiscalizar se determinada lei, está ou não está conforme os preceitos vertidos na Constituição da República Portuguesa.
Realmente parece que assim é, mas é dificil não ficar espantado, por exemplo, com as argumentações aduzidas pelos partidos de esquerda para a fundamentação do seu pedido de fiscalização Constitucional à chamada lei das 40 horas trabalho da Função Pública.
Dizem portanto estes expeditos parlamentares, que esta lei viola os “principios de proibição do retrocesso social, da segurança jurídica e da confiança, a par dos principios da igualdade e da proporcionalidade”.
Pois bem, como é bom de ver, tratam-se de principios não objectivos, antes carregados de subjectividade e que se prestam a qualquer tipo de leitura ideológica. Tratam-se de principios meritórios, mas vagos, que qualquer Juíz do TC poderá intrepertar à sua vontade, produzindo um daqueles acordãos herméticos e floreados, que nada justificam mas tudo condicionam.
Em primeiro lugar há que perguntar onde estavam os paladinos da constitucionalidade durante as quatro décadas em que a maior parte dos Portugueses trabalhou, e ainda trabalha, as proverbiais 40 horas, o vulgarmente chamado “horário de expediente” que os Ingleses chamam de “Nine to Five”.
Então se ao que parece sempre foi Consitucional para a maioria dos trabalhadores Portugueses, porque há de ser agora diferente para a Função Pública? Se não se soubesse bem o que está por trás, poderia parecer um mistério para Sherlock Holmes resolver. Assim não passa de um segredito de Polichinello.
Na realidade, desde que Portugal entrou (por culpa própria, é bom notar) no eufemistícamente chamado, Programa de Reajustamento, nunca o vetusto e hipotéticamente infalível Tribunal Constitucional, permitiu a adopção de qualquer medida que permitisse o ajustamento pelo lado da despesa, impelindo o Governo para atabalhoadas medidas sobre a receita, que essas sim, matam a economia, asfixiando o rendimento disponível das famílias e assustando irresponsávelmente o investimento.
De facto, ou os Juízes do TC acreditam no Pai Natal e esperam um milagre, ou então estão verdadeiramente empenhados em dificultar a vida dos cidadãos, espicaçados por uma esquerda irresponsável, que sempre viveu, e pretende continuar a viver à custa do dinheiro dos outros. A atitude recorrente deste TC faz lembrar o que se passa com algumas seitas religiosas mais fundamentalistas, em que pais preferem deixar morrer um filho em nome da fé, a permitir que lhe seja feita uma transfusão de sangue, em virtude de uma intrepertação enviesada e fundamentalista das leituras Biblícas. É um verdadeiro absurdo!
A verdade é que, mais tarde ou mais cedo, com as suas interpretações fundamentalistas do texto Constitucional, Portugal será lançado de novo na ameaça candente da bancarôta, sendo de novo obrigado a recorrer à ajuda externa.
Nesta perspectiva, bem poderão os Juízes do TC limpar as mãos à Constituição, pois aí irá passar a ser verdadeiramente letra morta, pois se não o fôr, não irá haver dinheiro, nem para salários, nem para pensões, nem para o chamado Estado Social. E nessa altura será interessante saber o que pensarão estas luminárias da Constitucionais, quando lhes forem retirados os absurdos previlégios de que gozam actualmente, e mesmo os seus chorudos salários.
No fundo, salvaguardadas as devidas distâncias, esta gente do Palácio Raton, em muito pouco difere dos Talibans e da sua intrepertação rígida do Corão, independentemente dos custos sociais que possa acarretar.
Que Deus ajude este país e o seu Povo, pois parece que sem intervenção divina, a estupidez e cupidez política dos Homens acabará por nos lançar definitivamente num eterno purgatório!

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A NAVE DOS LOUCOS.

"A maior de todas as loucuras, consiste em repetir sempre os mesmos procedimentos e esperar pela obtenção de resultados diferentes."
Albert Einstein

O título deste texto, para além de óbviamente não ser original, é provávelmente um dos mais glosados de sempre.

Com origem numa alegoria medieval, posteriormente retratada pelo genial Hyeronimus Bosch, versa sobre ideia da busca irracional da completa felicidade e de um mundo diferente e utópico.

Passados os momentos mais agudos da recente crise política, na qual o Presidente da República procurou um acordo de regime que nos garantisse alguma estabilidade no período chamado de pós-troika, basta uma leitura cruzada sobre as propostas socialistas, para se entender bem onde reside a loucura, voltando a tentar repetir pela enésima vez as mesmas fórmulas que nos levaram ao descalabro, na presunção que desta vez vai ser diferente e a coisa vai resultar.

Um conjunto de medidas que só aumentam a despesa, na esperança de que estimulem a economia para que esta dê os frutos necessários a uma utópica regularização do déficit, e tudo isto na convicção sonhadora de um conjunto de alterações ao memorandum da troika, sem que haja a mínima garantia da  possibilidade de concordância da tríade a essas pretendidas alterações.

Como dizia Margaret Tatcher, os socialistas só conseguem governar, enquanto dura o dinheiro dos outros, e no fundo, é isto mesmo que Seguro nos vem assegurar no desvario das suas propostas. Bem sabemos que esta "Nave dos Loucos" em que se converteu o PS, para lá de um fraco comando, enferma de gravíssimos motins, inspirados e espicaçados por quem já se encontra confortávelmente instalado no bote salva-vidas e se deleita com a eventualidade de uma catástrofe emninente. São deputados frustrados, ex-governantes melindrados e vingativos, para além dos "históricos", que senis e tremebundos, se julgam ainda importantes e julgam que o tempo ainda é de vacas gordas.

E assim, como o comandante Francesco Schettino lançou imprudentemente o navio Costa Concordia contra os rochedos da ilha de Giglio, assim António José Seguro acabou por encalhar o PS no mar encapelado e traiçoeiro em que se tornou a vida política Portuguesa.

A falta de sentido de Estado, a incapacidade de liderar o seu Grupo Parlamentar e a enorme permeabilidade às pressões externas, todas elas ecos de um passado de incúria, despesismo e ineficiência, lançam sobre o líder do PS o labéu de pior Secretário Geral em exercício, desde a fundação do Partido, que nem com um Governo a tomar as mais impopulares medidas de que há memória, consegue descolar nas sondagens.

Infelizmente, dada a fragilidade e inoperância da nossa Democracia e a incompetência do nosso sistema político como um todo, nada de bom auguram os próximos tempos. Vociferam Seguro e seus sequazes de que Portugal tem de ser mais duro e exigente com a Europa e, básicamente, obrigá-la a encontrar as soluções  mais vantajosas para o nosso país. Terá provávelmente razão neste ponto, mas a verdade é que é surrealista acreditar que um líder que não consegue líderar sequer o seu Partido, tenha as condições anímicas e as qualidades  necessárias para se impôr a lideranças políticas Europeias, que só pensam em si próprias e fazem da palavra "solidariedade" um eufemismo que apenas serve para enfeitar as retóricas políticas.

O actual Governo está muito longe de ser um modêlo de coerência política, de eficiência e transparência, mas olhando para a "Nave dos Loucos" em que se tornou o PS, apenas nos resta vestir o smoking e pôr a orquestra a tocar o "Ramona", enquanto o País se afunda lenta e inexorávelmente, puxado para o fundo pelos maiores pesadêlos que o assolaram nestes últimos 30 anos: A União Europeia e a sua arma de destruição maciça, que dá pelo pomposo nome de Euro!



segunda-feira, 15 de julho de 2013

PORTUGAL E O MITO DE SISÍFO

Reza a antiga mitologia Grega, que Sisífo, tendo desobedecido a Júpiter foi condenado a um tipo muito específico de trabalhos forçados: Subir uma íngreme encosta empurrando um pesadíssimo pedregulho, que uma vez no tôpo, rolaria de novo ravina abaixo, obrigando o pobre Sisífo a repetir a tarefa, sem nunca lhe vislumbrar um fim.

Como qualquer lenda, esta tem uma finalidade metafórica, e é frequentemente utilizada para expressar a inutilidade de trabalhos e sacrifícios repetidos sem qualquer vantagem, o que obriga a levá-los a cabo de novo sem qualquer garantia de êxito,mas apenas por não existir qualquer espécie de recuo ou alternativa possíveis.

A situação económico e financeira de Portugal acaba por se tornar no verdadeiro corolário do mito de Sisífo.

Dois longos e angustiantes anos de sacrifícios, de empobrecimento, de baixas expectativas, de desemprego e de desepêro, para no fim e ao cabo, o verdadeiro profeta das prometidas políticas libertadoras se demitir, afirmando com candura que as suas políticas tinham falhado!

Realmente esta situação é verdadeiramente desalentadora. É como se um carrasco, após ter decapitado o condenado, afirmasse com ingenuidadde e bonomia, que afinal não era aquele pescoço que ele queria cortar, e portanto que lhe desculpassem lá qualquer mau jeito, mas iria deixar de exercer tão exigente profissão e tornar-se num mero oficial de diligências, que mais não faria do que notificar possíveis arguidos, sem qualquer outra responsabilidade nos processos.

Já nem vale a pena bater na tecla da irresponsabilidade da entrada de Portugal no Euro, e muito menos da forma completamente incompetente de como foi calculada a paridade ao Escudo. Com isto mataram e esterelizaram a nossa economia: Os preços subiram súbitamente e a nossa competividade desceu de forma tão imediata como a subida dos preços. A Europa, essa entidade indefinida, que aparentemente é representada por uma Comissão que não manda, controlada por um Parlamento sem poderes e que, contra todas as promessas, é conduzida por um directório de países que apenas almejam o seu próprio sucesso, vai andando ao sabôr de muito ventos que se encarregam de gorar qualquer planificação que se possa fazer para melhorar as condições financeira e económica de Portugal.

Ou é um problema de liquidez num país como Chipre, ou são mudanças em coligações de países terceiros, ou ainda eleições na Alemanha, ou qualquer outro assunto que não nos diz directamente respeito. Tudo isto condiciona estupidamente a economia Europeia, principal destino das nossas exportações e assim, já quase no tôpo da encosta, lá vem o Euro para cima de nós, esmagando-nos com o seu insustentável peso, que nos rouba soberania, bem estar e esperança, obrigando-nos a outro inglório recomeço.

É claro que existiram êxitos. Toda a gente o sabe, mesmo os que os negam, mas afinal de que serviram? A dívida está menor? Não! O déficit está controlado? Não! O desemprego está a baixar? Não! O investimento está a aumentar? Não! A economia está a crescer? Não!

Então afinal qual será a verdadeira finalidade destes sacrifícios? Se não são para o nosso bem estar, hão-de ser com toda a certeza para o bem estar de alguém.

A verdade é que o nosso déficit tem uma correspondência directa e efectiva no superavit de outros países Europeus. Na realidade, o nosso desemprego, representa  postos de trabalho na Alemanha e o prejuízo derivado dos juros que pagamos pela nossa dívida, são lucros directos na dívida Alemã e de outros países do Norte, que chegam a pagar(?) juros negativos (?). Já vemos pois por que são eles tão pressurosos em afirmar ao mundo que Portugal “está no bom caminho”! E está de facto, mas no bom caminho deles, não no nosso.

E assim, enquanto não nos libertarmos deste jugo, mais não seremos do que múltiplos Sisífos arrastando pedregulhos pela encosta acima, sabendo de antemão da fatalidade de ter de repetir essa tarefa, vezes e vezes sem conta sem nenhum objectivo alcançável.

É pena! Políticos que se tinham como brilhantes, enterraram-nos num dos maiores logros da História, fazendo-nos acreditar de que alcançaríamos com facilidade a terra onde corre o leite e o mel, esquecendo que Moisés teve de penar quarenta anos no deserto, para apenas a vislumbrar.


Se tivéssemos um Governo corajoso, estaria na altura de bater o pé e dizer: “Ou vocês mudam, ou nós saímos do Euro...”, pois por muitas vozes que afirmem que isso teria um altíssimo e desastroso preço, ainda ninguém teve a coragem de indicar o verdadeiro prêço da nossa teimosa permanência nesta moeda mal parida, mal gerida e que se arrisca a acordar definitivamente os fantasmas que ciclícamente lançaram a Europa em várias guerras suicidárias.

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Eis como se poderia ilustrar bem a situação dos Portugueses, face à Europa e ao Euro:


quinta-feira, 11 de julho de 2013

AVENTURAS E DESVENTURAS DOS JOTINHAS NO PAÍS DO BOLO-REI

Estava perfeitamente claro que a incursão dos intrépidos Jotinhas no País do Bolo-Rei, tinha potencial para dar um resultado desastroso.

Nem os Jotinhas estavam preparados para a aventura, como o Bolo-Rei difícilmente resistiria a devolver em dobro as dentadas que tinha levado. Em suma, assim e com a ironia subjacente, se poderia resumir o que se passou durante a última semana em Portugal.

Poder-se-iam procurar as razões da presente crise nas profundezas da História, mas penso que basta atentar aos últimos acontecimentos para entender bem a falência de um regime idiota e inepto, nascido da ameaça do totalitarismo Marxista e perpetuado pela a oligarquia partidária, que muito para lá das elites, se estende a uma poderosa míriade de pequenos interesses burgueses, regionais, autárquicos ou pessoais, denominados de “bases”, que tal como os mastins, depois de cerrar as mandíbulas sobre o poder, tem uma incapacidade física de abrir os maxilares, dado que estes deixam de responder às ordens da racionalidade cerebral.

De momento temos duas oposições, ambas irrealistas, mas de natureza diferente. Mais à esquerda reina o irrealismo alimentado pelas utopias que ao longo da História se têm mostrado desastrosas, e mais para o centro, lá para as bandas do PS, o irrealismo é diferente, consistindo em prometer aquilo que não depende do seu controlo, que preconizando políticas diferentes, teria fatalmente o mesmo triste destino do Sr. Hollande em França, que tudo ofereceu e tudo tudo teve de renegar, estando agora a sofrer os imensos custos políticos da irresponsabilidade das suas promessas.

Sobre o Governo pouco há a dizer que já não tenha sido constatado. Passos Coelho convenceu-se de que era um Estadista e o tempo veio provar que o não era. Austeridade sobre austeridade levou, não própriamente o País, mas às Famílias quase à bancarrota, tendo o seu principal fautor tirado o corpo fora, demitindo-se através de uma missiva em que assumia o fracasso das suas políticas, passando a batata quente ao seu protector e discípulo, o Primeiro Ministro. Acerca de Paulo Portas, nem vale a pena falar, dado que é sobejamente conhecida a sua apetência para a política palaciana, a qual serve para alimentar o seu incomensurável ego, independentemente das consequências que daí possam advir. Bastava ver o seu ar radiante quando se convenceu que tinha sido o vencedor deste triste braço de ferro.

Restava-nos pois, como último recurso, a intervenção de Cavaco Silva, esperando que da sua comunicação, por entre eventuais migalhas de bolo-rei, saísse uma solução, que na impossibilidade de ser boa, fosse no mínimo aceitável.

Nada mais irrealista!

Cavaco, que directa e indirectamente, ao longo dos ultimos 30 anos é um dos grandes responsáveis pela crise actual, decidiu que estava na hora de agir, e como de costume, fez asneira!

Após a crise despoletada pela demissão de Gaspar, seguida da de Portas, a Cavaco apresentavam-se três alternativas: Dissolver a AR, convocando eleições, manter o Governo, aceitando o plano da coligação, ou no limite, promover um governo de iniciativa presidencial. Pois Cavaco conseguiu surpreender o País: Encontrou uma quarta solução, porventura a mais desastrada de todas. Põe o Governo no quadro de mobilidade especial durante nove meses, anunciando eleições antecipadas para daqui a um ano e tenta forçar um acordo de regime que por muito que seja assinado, dificilmente será respeitado, e lá vai o País, contente e lampeiro, avisar a Troika e os mercados de que está tudo bem.

Não se vislumbra bem o que passou pela cabeça de Cavaco, para além de duas evidências: Não confia em Seguro, o que se compreende, e simultâneamente vinga-se de Passos e de Portas pelo vexame que em que consistiu a posse de Maria Luis Albuquerque. No meio disto tudo, quem paga a factura é o Povo Português. Edificante!

Toda a introdução inicial sobre a necessidade de estabilidade política, invocando as razões que desaconselhavam a dissolução da AR, o risco de um segundo resgate, a desconfiança dos mercados, etc... foi totalmente destruída pela insólita solução encontrada pelo PR e expressa na segunda parte da sua comunicação. Metafóricamente, dir-se-ia que Cavaco agiu como aquelas crianças que constroem um elaborado castelo de areia na praia, e depois, enfadadas, dão-lhe um pontapé. Convenhamos que é pouco compreensível, ou se calhar talvez não...

Mas de facto, feito o mal e a caramunha, não vale a pena estar com a faca nos dentes à procura de culpados, pois para lá dos suspeitos do costume, em última análise, culpados são TODOS os Portugueses que ao longo dos últimos quarenta anos aceitaram e participaram no logro que é este jogo político, a que pomposamente chamam de Democracia. Agora o que resta é procurar rápidamente abrigo, pois as bombas vão começar a chover e com muita intensidade. Pode ser que numa aberta, seja possível alterar este pusilanime sistema político e substituí-lo por algo realmente mais democrático e eficiente.

Infelizmente parece ilusório que as coisas mudem com a rapidez necessária. Às portas de umas eleições autárquicas, o regime vai-se emproar como os pavões e tentar exibir as qualidades que não tem, e infelizmente muitos Portugueses vão acreditar. Com esta solução pseudo-salomónica de Cavaco, o País, que tanto necessita de decisões de fundo, vai passar os próximos doze meses avassalado pela vacuídade de uma interminável campanha eleitoral, cheia de acusações e promessas incumpríveis, na expectativa das anunciadas eleições antecipadas ao retardador e que provávelmente nada irão resolver. Afinal parece que definitivamente conseguimos entrar na trágica rota Grêga.

Resta pois esperar, para quem é crente, que Deus os ajude, para quem o não é, então salve-se quem puder!

sexta-feira, 21 de junho de 2013

MUDAM-SE OS TEMPOS MAS NÃO AS POLÍTICAS

Ao que parece, ninguém ficou espantado com as manifestações na Turquia. Foi fácil de entender que existiam duas Turquias em confronto: Uma mais progressista e ocidentalizada e uma outra conservadora e de tendência islâmica.
Para o comum dos Ocidentais, este era um confronto natural, algo que opunha a modernidade a um Islão bafiento e castrador, desrespeitador dos direitos humanos e da igualdade de género. No fundo, todos compreenderam o problema da sociedade Turca, que como é bom de ver, não se resumia à re-urbanização da praça Thair.

Já quando o fenómeno se replicou no Brazil, já se extremaram aí as posições, havendo pessoas que o conotaram com grandes movimentos sociais de tendência anarquista e esquerdizante, ignorando totalmente que 30 milhões de Brazileiros entraram na classe média nos últimos 20 anos, logo com acesso a informação e tecnologias A que antes não tinham acesso, fenómeno aliás que, mais tarde ou mais cedo haverá de ser replicado na China.

Claro que o “Black Block” lá apareceu a partir montras e a incendiar carros, como tem aparecido em todo o lado em que se esboce o mais pequeno movimento de carácter social. Normalmente são uma centena no meio de milhares, mas atraem as câmaras de vídeo e os fotógrafos,como uma lâmpada atrai as borboletas noturnas, e claro, os “media” adoram apresentar a versão violenta, nunca a versão pacífica.

Com estas duas explosões sociais, parece termo-nos esquecido de vários movimentos do mesmo tipo, passados em vários países da Europa, para já não falar da aparentemente tão distante Primavera Árabe.

O que se passa,é uma profunda desadequadação das nossas democracias, ditas Ocidentais, com o seu organigrama rígido e arcaico, às novas formas de comunicação, congregação e mobilização que têm tido origem na internet.

Aliás parecemos estar esquecidos que logo no dia seguinte aos ataques da Al Qaeda na estação de Atoxa em Madrid, José Maria Aznar foi liminarmente apeado do poder, através de SMS’s que o acusaram, e com justiça, de mentir ao povo Espanhol sobre a autoria dos atentados, e assim, Zapatero apanhou o poder por acaso, dado que estava muito atrás de Aznar nas sondagens.

Para qualquer observador mais atento, este caso poderia ter indiciado o que aí vinha, mas convenhamos que os políticos contemporâneos não primam pela sua atenção ao que se passa fora dos seus casulos de poder tecidos em interesses e ambições pessoais.

A fraude em que consiste a base das Democracias Ocidentais, radica na ideia que basta votar de vez em quando em políticos escolhidos pelas chefias, ter algum activismo sindical ou institucional, para que a Democracia seja plena e funcione regularmente.

A verdade é que não o é!

Embora apregoem com veemência a liberdade de expressão, antes das novas tecnologias, raros eram os que tinham acesso a orgãos de informação, pelo que a liberdade de expressão pouco mais era do que aquilo que era dito em conversas de café, jantares de curso ou durante um jogo de sueca.

Subitamente, com o crescimento explosivo de utilizadores das redes socias, com destaque para o Facebook e Twitter, a liberdade de expressão assumiu foros anteriormente inimagináveis, e a capacidade de mobilização, por uma vez, passou a residir na Sociedade Civil no seu geral, que é como dizer, na ponta dos dedos de cada indivíduo.

As petições públicas proliferaram como cogumelos, sendo facílimo atingir por via electrónica o numero de assinaturas mínimo, que anteriormente em muito restringiam a sua chegada aos parlamentos. Brotaram movimentos cívicos com fartura e vastas multidões conseguiram ser mobilizadas para aquilo a que o “stablishment” político, timoratamente apelidou de movimentos inorgânicos.

A incapacidade de lidar com este fenómeno traz consigo uma enorme necessidade de inovar os procedimentos políticos. Queixam-se os responsáveis de que, sendo estes movimentos inorgânicos, não há verdadeiramente interlocutores com quem negociar, e esse é o grande desafio: Quando o Povo não se sente representado pelos seus políticos, não existe negociação possível. Apenas há que escutar com atenção a “Rua” e atentar nos grandes anseios dos cidadãos, procurando inflectir as insatisfações, senão totalmente, pelo menos parcialmente.

A arrogância política tem de dar lugar à humildade do Serviço Público, e os Governos terão de agradar mais aos seus cidadãos do que às clientelas, nacionais ou internacionais que, como moscas, gravitam à sua volta. Será possível admitir que uma Europa inteira esteja a sofrer privações em função das eleições Alemãs???

Claro que seria ingenuidade pensar que os políticos do “stablishment” não tentam calvagar esta onda. Claro que o fazem, e a maior parte das vezes sem nenhuma vergonha na cara e com a conivência promíscua da Comunicação Social, o que aliás os afasta cada vez mais das suas bases sociais, coisa que parece não terem ainda entendido.

De um modo geral, o Homem é conservador e as Sociedades não são propensas a grandes mudanças, a não ser quando a corda estica demais e o divórcio entre elas e a classe política se torna irreversível. Esperemos portanto que exista um mínimo de inteligência para entender que algo tem de mudar.

Mudar e mudar muito!

O poder político tem de deixar de viver em mancebia com o poder económico pelo qual se deixou capturar. Como bem notou o movimento “Occupy Wall Street”, têm de ser os 99% a mandar e não o 1% que actualmente detém o poder. Os Governos e restantes poderes institucionais, reféns de sistemas partidários obsoletos e de constituções monolíticas que não conseguem acompanhar a velocidade dos tempos, têm de perder o monopólio absoluto que exercem sobre a vida política e deixar que sejam os cidadãos a escolher os seus representantes legítimos, coisa que com o sistema parlamentar representativo, raramente, ou nunca acontece.

Em boa verdade, todas as velhas teorias políticas, apoiadas em teorias económicas completamente obsoletas, elaboradas em alturas em que não existia dinheiro virtual nem as famosas “off-shore”, já não servem, principalmente a uma juventude que nasceu com as novas tecnologias e as entende como uma realidade da sua vida e uma arma para condicionar o poder político. É bom pois que a classe política faça um rápido “upgrade” aos seus processos e comece a lidar com estas novas realidades, pois como qualquer grande mudança social, esta tanto pode trazer benefícios se inteligentemente entendida, como trágicas consequências se olimpicamente ignorada.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

A SENSAÇÃO DE PODER.


Em 1957, o visionário escritor Isaac Asimov escreveu um conto que tinha por título “A Sensação de Poder”. Esse conto, em resumo, passa-se numa sociedade futura, dominada pelos computadores, na qual um humilde técnico, pessoa modesta e apagada, percebe que pode manipular os números sem computador de modo a obter os mesmos resultados. Em suma, redescobre a aritmética, há muito tempo esquecida nessa Sociedade futura!
Nos meios militares, a constatação de que alguém conseguia “computar” sem computador, abriu um sem número de possibilidades militares e perante a aterradora ideia de que a sua “(re)descoberta” iria servir para incrementar a guerra, Myron Aub – assim se chamava o homem, suicida-se.
Durante as exéquias funebres, o Programador Shuman, responsável pelo projecto, tem este singular pensamento: ”Nove vezes sete, pensou Shuman com orgulho, sessenta e três. Não precisava mais que um computador lhe dissesse isso. Sua própria cabeça era um computador. E isso lhe dava uma fantástica sensação de poder.”
E assim termina o conto, um verdadeiro caso de antecipação da realidade, sobre o qual o próprio Asimov escreve o seguinte:

No meu conto “A Sensação de Poder”, publicado em 1957, lancei  mão de computadores de bolso, cerca de dez anos antes de tais  computadores se tornarem realidade. Cheguei mesmo a considerar a possibilidade de eles contribuírem para  que as pessoas acabassem perdendo a capacidade  de fazer operações aritméticas à maneira antiga.”

A verdade é que cada vez mais nos fomos habituando a que os resultados apresentados pelas calculadoras e pelos computadores são infalíveis, e como tal, jamais os questionamos.
Esquecemo-nos a maior parte das vezes que qualquer programa processado numa folha de cálculo mais ou menos complexa, não passa de um algoritmo, cujo resultado sempre dependerá da correcção da formulação das operações a executar e da correcção com que são introduzidas as variáveis afectas àquilo que se pretende apurar.
Ao não questionar a construção do algoritmo, ficamos à mercê das potenciais imprecisões contidas nos resultados obtidos e logo, das suas consequências.
Se em muitos casos esta situação não traz males de maior, casos há que se podem tornar dramáticas, tal como alterar a órbita de um satélite, esborrachar um avião contra uma montanha, e até iniciar uma guerra inadvertidamente.
Já foi profundamente escandaloso que o FMI viesse confessar o êrro no cálculo do multiplicador utilizado na medição dos efeitos recessivos da austeridade. Não era afinal de 50 cêntimos por Euro poupado, como defendiam e em que baseavam os cálculos, mas qualquer coisa que anda entre os 90 cêntimos e 1,7 Euros!
Claro que depois ficaram muito surpreendidos com os números do desemprego e a dificuldade de equilibrar as contas públicas nos países sujeitos a fortes programas de austeridade.
O caso mais recente, e aparentemente escandaloso, foi a teoria  de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, o qual se tornou a bíblia sagrada para gente como Vitor Gaspar, Wolfgang Schäuble, Geroge Osborne (Ministro das Finanças do Reino Unido), Oli Rehn e mais uma série de personagens com responsabilidade directa nas políticas de austeridade que estão a ser aplicadas a eito na União Europeia. Este estudo, que concluía que países com uma dívida pública acima dos 90% do PIB nunca conseguiriam crescer, foi agora contestado em vários aspectos:
Em primeiro lugar, este estudo exclui logo à partida países que se afastam do resultado que os autores pretendem demonstrar, com as consequências estatísticas previsíveis. Em segundo lugar, na calibragem destes dados, os coeficientes são iguais para todos os países, o que corresponde em linguagem popular a “misturar alhos com bogalhos”. Finalmente, um erro de código na folha de cálculo (vulgo Excel) utilizada para seleccionar dados, altera em definitivo os resultados finais do estudo.
Despeitados, estes eminentes economistas vêm assumir o erro, mas defendem que as conclusões continuam a estar certas (?).
Todas as revistas científicas e publicações especializadas publicaram o estudo, dando-lhe uma falsa credibilidade, a qual só foi abalada pelo trabalho de académicos da Universidade de Massachusetts, os quais Rogoff se apressou a acusar de querem politizar a questão (!).
É de gritos! Então um estudo que, no mínimo influenciou negativamente toda a economia Europeia não é uma questão emininentemente política?
E é aqui que entronca o simbolismo do conto de Asimov.
Esquecemo-nos de fazer contas. São demasiado complexas e trabalhosas, além de levam muito tempo a fazer, e como se sabe “time is money”... Tomamos como garantido qualquer resultado vomitado por um computador, sem sequer o questionar, eliminando assim a possibilidade de encontrar uma falha electrónica ou humana. Engolimos tudo o que nos dizem, e concretamente sobre a Ciência Económica, ficamos de gatas perante os intitulados “gurus” da economia esquecendo que há uma variável em toda esta situação que jamais poderão sistematizar: O comportamento humano em toda a sua diversidade, racionalidade e irracionalidade, frieza e emotividade e em todas as outras vertentes em que o nosso comportamento é diferente do comportamento de um “chip” de silício.
Enfim, precisamos de voltar a saber quanto são nove vezes sete sem auxilio de calculadora ou computador. Talvez assim recuperemos a verdadeira Sensação de Poder!

** Em desejando ler o conto referido, clique AQUI.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

POLÍTICOS PLAYSATION.

Recorrentemente ocorre uma discussão sobre os cada vez mais realistas jogos de vídeo.
Uma criança de seis ou sete anos, dedilhando com maestria e precisão o comando da sua consola de jogos, pode fantasiar com facilidade a melhor forma de matar zombies ou erradicar vampiros, no meio de realistas gritos de dôr e espalhafatosos esguichos de sangue. Por vezes o inimigo é mais rápido, e num indicador do écran vai-se esvaíndo a saúde do jogador, a qual ele pode recuperar se atingir certos objectivos.
Ao que dizem os psicólogos, isto não é grave, pois de um modo geral não passa de uma catárse em que a criança esgota ali o seu potencial de agressividade, etc... etc...
É evidente que neste tipo de jogo o jogador não corre qualquer tipo de risco, para além da remota possibilidade de um ego ligeiramente abalado, estando totalmente a salvo de uma paulada ou uma mordidela no pescoço.
     
A  profusão de figuras políticas de primeiro plano, que súbitamente invadiram a quase totalidade do nosso espaço televisivo, faz lembrar um pouco os meninos e os seus jogos de vídeo.
         
Com o comentário político, feito ao longo da semana pelas várias “vedetas” contratadas, e apresentadas em regime de contra-programação, os pontos obtidos nos tradicionais jogos de vídeo, são substituídos pela guerra das audiências, que exploram um “voyeurismo” político da mesma natureza da que leva o Povo a regozijar-se com eventuais cenas de sexo ou violência nos “reality shows”, tais como o Big Brother ou a Casa dos Segredos. O prémio, em vez de ser um “score” de créditos no fim do jogo, resume-se áquilo que chamam de “share” televisivo.
Ele são ex-Primeiros Ministros, ex-Ministros, ex-Lideres Partidários, ex-Deputados, e em tal profusão, que nem um honesto “zapping” permite que um sossegado cidadão se livre desta praga, sendo obrigado a levar com maus concursos, novelas ou séries profusamente repetidas nos canais do cabo. Parece uma maldição!
Tal como o jogador de consola não corre nunca o risco de ser mordido pelo vampiro que pretende aniquilar, estas “figuras públicas” também assim evitam todo e qualquer risco político. Fazem a apologia das políticas que levaram a efeito, e que em última análise nos conduziram à desgraça actual, sem o mínimo pudor ou a mais leve assumpção de culpas. Quem os ouvir poderá ficar a matutar sobre quem foram de facto os verdadeiros responsáveis pela situação económico/financeira que lançou Portugal nas garras dos chamados “mercados”, que mais não são do que os bancos e instituições financeiras daqueles países que era suposto serem nossos aliados, no âmbito de uma falhada União Europeia, actualmente moribunda, vítima do seu próprio cancro: O Euro!
Entretanto, nas pantalhas das nossas televisões, os verdadeiros obreiros da catástrofe vão perorando, sugerindo políticas que nunca puseram em prática, acusando os adversáriois e justificando as suas próprias actuações.
E isto sem risco nenhum, pois não estão a assumir nenhum compromisso eleitoral, nem  mesmo cívico. Estão para ali, a dizer baboseiras e formulando elocubrações de carácter teórico ou irrealista, na esperança de fazer uma prova de vida, não vá o destino meter-lhes o poder ao alcance da mão através de um qualquer acto eleitoral!
São políticos que estão a jogar playsation, jogo no qual os zombies ou os vampiros somos nós, cidadãos eleitores, torturados pelos resultados das más políticas e falta de seriedade, praticados nos Governos em que participaram e o prémio, para além do que de pecuniário possa ter, é a enérgica masturbação intelectual que tanto prazer lhes parece dar ao se inteirarem do seu famoso “share”.
José Sócrates, Santana Lopes, Marques Mendes, Santos Silva, Manuela Ferreira Leite, Jorge Coelho, Manuel Cravinho, Marcelo Rebêlo de Sousa, Francisco Louçã, Bagão Félix, Nuno Morais Sarmento, Paulo Rangel e mais uma legião de deputados-comentadores, vão desfilando no pequeno ecran, a uma velocidade quase supersónica, em programas semanais de “comentário” político, levando ao extremo o exercício do auto-elogio e da vaidade desmedida, praticando com naturalidade o tradicional jogo da demagogia e do mal-dizer.
      
Enfim... Política Portuguesa do Sec. XXI, uma verdadeira política levada a efeito por políticos Playsation!

segunda-feira, 18 de março de 2013

PORTUGAL SITIADO.

Há no ar uma sensação de sufoco! Um sentimento de impotência que nos aperta o coração, angústia a alma e faz nascer uma raiva que começa a ficar incontida.
Depois de ver como a UE tratou a questão de Chipre, a falta de respeito e a arrogância das suas posições, sinto que a Europa do Norte, marchando em passo de ganso ao ritmo do rufar dos tambores Alemães, não hesitará em apertar ainda mais o jugo sobre Portugal, país com 900 anos de História independente - com um breve hiato de 60 anos - e que tem sido tratado pela burguesia da Europa como um maltrapilho, sem eira-nem-beira e pouco merecedor do respeito dos outros.
Bem sei que as últimas décadas de uma democracia deficiente, oligárquica e distante do Povo, não nos terá granjeado grandes simpatias. O provincianismo bacôco de governantes deslumbrados, quais aves do paraíso, com o seu papel na História, puseram o País numa situação de grande dependência financeira, humilhante e da qual não parece ser possível sair pelos seus próprios meios.
Sem tradição política, passada a 1ª geração em democracia, emergiram os pequenos profissionais da política, oriundos da Juventudes Partidárias, provávelmente inúteis noutras profissões, e que rápidamente começaram a delapidar o País.
Inchados com as suas noveis funções governativas, passeiam-se impantes e convencidos nos carros pagos por nós, movidos com a nossa gasolina e conduzidos pelos motoristas a quem pagamos o ordenado. O decrépito Falcon da Força Aérea fá-los pensar que têm um avião particular, assim como os grandes magnatas da finança e da política. Gabam-se de tratar por tu vários 1ºs Ministros Europeus, e afinal, de que nos serviu a nós tamanha demonstração de ridículos novo-riquismo e vaidade?
Na hora da verdade, que inexorávelmente se abateria sobre as nossas cabeças, verificamos que nada de positivo nos é proposto e que nada se divisa, nem para lá da linha do horizonte, que nos apresente um futuro razoávelmente aceitável.
Portugal está sitiado!
Está sitiado por aqueles que deviam ser aliados e “compagnos de route”, o que torna a situação ainda mais amarga.
O Governo tem errado e falhado rotundamente, baseando-se em cálculos, projecções e previsões de um ministro que não consegue acertar em nenhuma das  suas profecias, e as promessas de que a crise tem fim à vista, vão sendo proteladas de trimestre para trimestre, de semestre para semestre, e enfim... de ano para ano! Esperemos que não venha a ser de década para década...
A credibilidade deste Governo, em que uma parte considerável dos Portugueses depositava esperança, tem apodrecido rápidamente, minando de forma quase irreparável os alicerces que suportam a estrutura da nossa sociedade. Depois, num assomo de esquizofrenia política, anuncia com um ar grave e decidido que “estamos no bom caminho!” (???)
Por outro lado, o maior partido da oposição é um deserto de ideias e soluções. Pomposamente criou aquilo a que chamou de “Laboratório de Ideias”, mas pelo que se vê este parece estar encerrado para balanço, pois de lá, que se saiba, nenhuma ideia saiu com vista a uma solução para Portugal. Apenas os ouvimos perorar acerca do erro do caminho seguido pelo Governo e afirmar que com eles existiria um Programa para o Emprego e para o Crescimento. Enfim... como dizem os Ingleses, “Wishfull Thinking”, pois, após arranhada a superfície desta trinotroante afirmação, deparamo-nos com um vazio absoluto.
Dos outros nem vale a pena falar. Mera política de terra queimada, que embora indiquem um caminho plausível, este jamais poderia ser trilhado da forma como advogam fazê-lo.
Claro que seria de supor que, integrados numa União Europeia, seríamos ajudados pelos nossos parceiros, mas como constatamos esta chamada “União” é uma palavra vazia de sentido e de conteúdo.
Esta União, que foi formada para refrear os históricos e compulsivos instintos hegemónicos da Alemanha sobre a Europa, acabou por criar a arma perfeita. Aquela arma que qualquer conquistador sonharia em ter. Algo que, como a bomba de neutrões aniquila a população sem destruir as estruturas, e a essa arma deram cínicamente o nome de Euro!
O Euro, criado à imagem do Marco, deu aos Países uma falsa sensação de pertença, uma moeda de todos e para a qual todos contribuíam.
Nada mais falso: O Euro não passa de um Marco travestido em moeda única, mas que apenas pertence à Alemanha servindo incondicionalmente os seus interesses e assim, de uma forma ou de outra, os Países foram baqueando uns atrás dos outros, vergados à poderosa economia Alemã que a todos impôs os seus “dictacts”.
É bom recordar que os nossos déficits são postos de trabalho e superavits comerciais na Alemanha, portanto a soberba dos seus reparos à nossa economia, poderia ser menos indecorosa.
A generosidade inicial enganou-nos bem, mas teve apenas como fito destruir a nossa indústria, pescas e agricultura. As normas Europeias foram-se tornando cada vez mais exigentes, esforçando a economia para lá do que era aceitável. Exigiram-se, por exemplo, a substituição das gaiolas das galinhas poedeiras, com enormes custos para os avicultores em nome do bem estar das aves, mas por outro lado foram-se retirando apoios sociais e permitindo a destruição de emprego, lançando na pobreza milhares de famílias. Pelos vistos, respeitam mais as galinhas do que as pessoas! Nem vale a pena continuar aqui a desfiar este rosário de misérias, pois infelizmente quase todos os Portugueses o conhecem.
Convinha pois começar a romper com alguns tabus, coisa que muito assusta os políticos e a banca, e começar por partir do principio de que só poderemos sobreviver a esta guerra se destruirmos a arma que contra nós é utilizada: O famigerado Euro!
Sempre que este assunto vem à baila, são acenados os fantasmas da desvalorização, da bancarôta, da miséria, etc... Mas afinal não é já isso que acontece? O nosso PIB decresce – e há-de continuar a decrescer - logo, a dívida aumenta percentualmente, consequentemente os juros sobem e miséria alastra.
Será isto que os Portugueses querem? Tão afoitos que foram no passado a enfrentar o desconhecido do grande Mar Oceano, encolhem-se agora perante as ameaças de contabilistas e seus amanuenses?
Não posso querer que todos pensem como eu, que estejam dispostos a correr os mesmos riscos, ou até se já se lhes varreu do espírito a noção de Pátria que ainda tenho tão arreigada em mim, mas ao menos forcem a discussão.
Não deixem que vos assustem só com ameaças de desgraça, em que o monopólio das opiniões vem normalmente de quem se enganou sempre e em tudo.
Vamos ver se por uma vez, em vez de andar para aí a gritar “ladrões”, “demitam-se”, etc... Que alivia, bem sei, mas não serve para nada, gritem exigindo uma revisão dos Tratados da (Des)União Europeia e a extinção dessa arma de destruição maciça em que o Euro se tornou.