sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

PORTUGAL ESQUIZOFRÉNICO.

Hoje, num programa de televisão, um “forum” com participação popular, fiquei siderado com a intervenção de um cidadão de Beja, empresário, de 37 anos de idade. Dizia então esse senhor: “Ora, se temos crianças com fome, então temos de mudar de Governo. É preferível ter outro Governo, do que ter crianças com fome em Portugal!” O tom da intervenção foi tão cândido, que quase podíamos ser levados a pensar que ambas as coisas estariam directamente relacionadas, sendo que os meios financeiros necessários para resolver os problemas da fome, não passariam de uma mera abstracção, que facilmente seria resolvida com uma mudança de Governo.
É claro que este raciocínio está profundamente enquinado pela forma como se faz política em Portugal.
Enquanto a oposição clama por “sol na eira e chuva no nabal”, o Governo tem preferido reparar a eira e lavrar o nabal, na expectativa de melhores resultados futuros. É claro que esta diferença de atitude tem um profundo reflexo na opinião pública, de um modo geral desinformada e intoxicada com propagandas partidárias várias, que pululam da esquerda à direita do espectro político nacional.
É evidente que a população que mais sofre com isto manifesta-se desagradada com as posições Governamentais, embalada que está no canto de sereia das oposições irresponsáveis.
É por demais evidente que o Partido Socialista, se agora ascendesse ao poder, não conseguiria fazer nada de diferente do que está a ser feito, ou então lançaria o País na mais desastrosa  bancarrota.
Portugal tornou-se num País políticamente esquizofrénico, em que toda a gente quer simultâneamente uma coisa e o seu contrário.
Uns pregam a austeridade a todo o custo, mostrando grande insensibilidade, e não reconhecendo que os resultados não têm atingido os objectivos esperados, mostram-se surpreendidos por isso, não admitindo nem por um segundo, que se tenham enganado nos pressupostos de partida. Os outros lá vão dizendo que são a favor da austeridade, mas não DESTA austeridade, sem apresentar nenhum plano concreto de alternativa viável.
O Governo anuncia que vai diluir os 13º e 14º meses ao longo do ano. Vem a Confederação Portuguesa do Comércio clamar que essa medida lhes daria cabo da vendas Natalícias. O Governo então decide que isto só acontecerá com o subsídio de férias, e logo os operadores de Turismo gritam que isso lhes vai destruir do negócio. E afinal em que ficamos? Numa solução salomonica, que pelos vistos não agrada a ninguém.
Os Portugueses dão 13% dos votos ao Partido Comunista e ao Bloco de Esquerda, mas depois dão-lhes força na rua para contestar o Governo que elegeram.
Enfim... Isto é esquizofrenia.
A desonestidade do comentário político é gritante! Diz-se que a TAP será vendida a preço de saldo, 20M de Euros, sem explicar que existe um passivo de 1.200M de Euros, mais uma necessidade imediata de reforçar os capitais próprios em 500M de Euros, além de toda a operação financeira necessária à renovação da frota.
Os demagogos contumazes do Bloco de Esquerda gritam que existem 12.000M de Euros para ajudar a Banca, mas que não há dinheiro para os reformados, “esquecendo-se” estrategicamente de referir que os Bancos estão a pagar uma taxa de juro de 8,5% ao Estado, dinheiro que foi emprestado a uma média 3,6%.
Enfim, um enorme fluxo de informação falsa, distorcida e demagógica, vai escorrendo dos jornais e das televisões, para uma opinião pública geralmente mal informada, e que teima em só ter como verdadeiras as notícias que lhe agradam.
Todos opinam sobre tudo e sobre nada!
E assim vai o nosso “Portugalete”, “pobrete, mas não alegrete”, confundido, desiludido e irado com a situação em que se encontra, com um medo irracional de correr riscos, esperando sempre que alguém os corra por ele, ou que no mínimo lhe dê garantias de ressarcimento caso as coisas não corram bem. Este “Portugalete” que se endividou a comprar casa própria porque nenhum Governo se atreveu a mexer numa lei da rendas, intocada, ou quase, desde 1948. Este “Portugalete” que na ilusão do dinheiro fácil e garantido, aderiu entusiasticamente à Europa e ao Euro sem cuidar da factura que fatalmente lhe viria ser apresentada. Este “Portugalete” que votou permanentemente em Governos que prometiam o que não podiam proporcionar. Este “Portugalete” onde o carreirismo é rei e a meritocracia mal vista. Este “Portugalete” onde a burocracia impera impunemente, alimentando-se do desespero dos cidadãos. Este “Portugalete” que só brama contra a corrupção quando lhe vão ao bolso. Este “Portugalete” que “engole” tudo o que lhe metem pela goela abaixo, na esperança de que as coisas possam vir a ser diferentes.
Einstein costumava afirmar que fazer a mesma coisa vezes sem conta à espera de resultados diferentes, não passava de uma forma de loucura.
Eu concordo totalmente com ele: Portugal está esquizofrénico!