segunda-feira, 9 de julho de 2012

OS LADRÕES, OS ROUBADOS E OS GOVERNOS DELES.


Causou grande perplexidade na comunidade financeira e política da Europa, o escândalo da prática de cartelização das taxas de referencia Libor e Euribor, pelo já condenado Banco Barclays.
Ao que parece, na marosca estavam metidos mais bancos, como O Deutsche Bank, o Citigroup, a Union de Banques Suisse (UBS), Para além de uns tantos bancos de menor importância.
Este cancro, que ao que se sabe até agora, parece ter tido, se não a conivência, pelo menos a condescêndencia, do anterior Governo Britânico, vem mostrar bem até que ponto o poder político está totalmente capturado pelo poder financeiro, pelo que hoje em dia não poderemos olhar para nenhum deles com garantida confiança.
Após ter ouvido vários responsáveis a bramar que a Banca nada tinha aprendido com a falência do Lehman Brothers, sou obrigado a discordar: Aprenderam, e aprenderam bem. Tornaram-se mais sofisticados, mais difíceis de controlar e preveniram-se melhor em relação ao poder político.
Esses gestores de topo que arranjam, verdadeiros mercenários, pagos a peso de ouro e com bónus milionários, mais não passam do que verdadeiros vampiros, que com a loucura dos lucros a curto prazo (a que se referem os bónus, é claro), põem em causa objectivos de médio e longo prazo, enfraquecendo  economias nacionais, gerando falências no tecido empresarial e desemprego nas sociedades. Essa gente que se gaba do que faz, como um dos administradores cirúrgicamente removidos do Barclays que diz orgulhar-se de ter transformado o seu banco numa instituição de nível mundial, é gente sem escrúpulos e  sem moral, bem como aqueles que os empregam, tornando-se os verdadeiros mandantes do crime sem que tenham necessidade de sujar as mãos.
Estes governos que se apressam a nacionalizar os prejuízos, preservando cuidadosamente a privatização dos lucros, e que sabem bem o que se passa, continuam inocentemente a clamar por sacrifícios em nome de uma melhor distribuição, já não da riqueza, mas dos prejuízos comuns.
No rescaldo desta escandaleira, Michel Barnier, o Comissário Europeu para o Mercado Interno e Serviços, afirma que tem planos para ampliar as regras Europeias de abuso de mercado, de modo a ilegalizar a cartelização das taxas interbancárias. Afirma pois, pomposamente, "Vou propor o alargamento do campo de aplicação da legislação actual, de modo a cobrir efectivamente a manipulação dos índices, o que inclui a Libor", concluindo, "Quem quer que pense em manipular os mercados precisa de saber que vai enfrentar sanções, incluindo acusações criminais"
Mas então isto não era já ilegal? Não existiam então sanções administrativas nem criminais? É realmente espantoso que se quebrem deliberadamente as mais básicas regras da ética, para de seguida as vir criminalizar, como se isso viesse corrigir os prejuízos causados.
Por formação tenho uma postura liberal perante a vida. Acho a colectivização a mais injusta das formas  de aplicar uma política redistributiva e também o ultra-liberalismo me parece um sistema que não dá um mínimo de protecção aos mais fracos. Julguei que um liberalismo responsável, verdadeiramente regulado pelos estados, para evitar abusos, seria a forma certa de governar os Povos.
Após esta triste lição, fiquei com as maiores dúvidas. A Banca rouba alegremente, protegida pelos ditos governos liberais, portanto o que nos resta afinal? Muito pouca coisa.
Essas taxas, que aparentemente são “coisas” da Banca, alteram a vida de todos nós, encarecem os “spreads”, inflacionam os juros das hipotecas, secam os empréstimos às empresas e concorrem  largamente para o desemprego.
E vem um patético burocrata de Bruxelas dizer que agora é que vai produzir legislação para evitar estas situações? Não vale a pena! Estas não voltarão a ocorrer, pois rápidamente, dada a impunidade com que se movimentam, esses tais gestores de topo fácilmente encontrarão outras formas de roubar, e coisa torna-se um ciclo vicioso, com novas medidas, novas leis e novas ilegalidades. É uma espécie de “moto contínuo”, sempre com os mesmos prevaricadores, as mesmas vítimas e as mesmas autoridades.
E assim vamos vivendo, roubados por essa Banca imoral, com o beneplácito dos Governos que dela se servem e a quem  simultâneamente também servem, até que alguma “coisa” rebente. Estarão então de novo, e mais uma vez, postos em causa todos os séculos de civilização que temos vindo a acumular e que a cupidez humana tem vindo regularmente a destruir, à razão média de duas a três vezes por século.

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