sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

UMA LENDA DE QUE EU GOSTO.
Conta uma velha lenda que num reino distante, havia uma encantadora princesa que foi tomada por uma grande melancolia.
O seu Pai, preocupado com a tristeza que ia mirrando o espirito e a alma da sua amada filha, procurou uma solução para o assunto. Mandou arautos pelo reino convocando bôbos, jograis, comediantes e toda a espécie de artistas, prometendo choruda recompensa a quem fizesse a sua amada filha sorrir.
Compareceram na côrte os mais virtuosos artistas, os mais dôces menestreis e os mais engraçados palhaços. A todo o custo exibiram as suas artes perante a bela e melancólica princesa, mas para desepêro do Pai, a triste rapariga não esboçou sequer um sorriso.
Cada vez mais preocupado, e esgotados os conhecimentos dos melhores Físicos e Médicos do reino, o soberano decidiu convocar um reputado Mago e pedir-lhe o seu sábio conselho.
Após uns dias observando e conversando com a princesa, que diáriamente definhava em virtude da tristeza misteriosa que lhe brotava da alma, o Mago informou o Rei de que havia apenas uma forma de curar a filha: Ela teria de vestir a camisa de um homem verdadeiramente feliz.
Arautos e mensageiros foram enviados pelo reino, oferecendo choruda recompensa pela camisa de um homem reconhecidamente feliz, mas todos regressaram acabrunhados, tristes e humilhados, pois na realidade não tinham conseguido encontrar em todo o reino um homem que se afirmasse totalmente feliz.
O Rei desesperava perante o vísivel definhamento da sua querida, mas melancólica filha.
Uma tarde, no regresso e uma viagem, pareceu-lhei ouvir alguém cantando alegremente.
Mandou parar a carruagem, e de facto, um canto alegre, vigoroso e cristalino, elevava-se no ar, oriundo de um pequeno bosque que cortava a monotonia plana da paisagem.
Seguindo a pé pelos campos e internando-se no bosque, o velho Rei deparou-se com um jovem camponês, em tronco nu, que manejando com vigôr o seu machado, entoava uma alegre canção, enquanto o suor lhe escorria pelo musculado corpo.
Acercando-se dele, o Rei perguntou-lhe: "Meu bom homem, responde-me apenas a uma pergunta: És uma pessoa feliz?". Com um largo sorriso na face, o camponês, limpando a transpiração da sua fronte trigueira, respondeu: "Mas claro, Senhor! Sou profundamente feliz! A floresta dá-me o que eu preciso e eu cuido dela da forma necessária. Eu dou-lhe o que ela necessita e ela dá-me o que preciso. De que mais necessito eu?"
O Rei, olhando aquele rosto saudável e tisnado do sol, acreditou de repente que estava perante o salvador da sua filha e assumindo uma pose circunspecta, propôs-lhe: "Meu rapaz, talvez não entendas as razões que me levam a fazer-te semelhante proposta, mas gostaria de sabêr se estarias disposto a vender-me a tua camisa. Dar-te-ei por ela aquilo que me pedires."
O homem olhou para o Rei com um ar, simultâneamente de assombro e embaraço, e murmurou: "A minha camisa, Senhor? Sabe... É que eu não tenho, nem uso camisa!"

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 23 de Janeiro de 2004

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