terça-feira, 6 de janeiro de 2004

FINALMENTE, UMA PERSONALIDADE DE ESQUERDA!
De facto começava a suspeitar que o repúdio da proibição da ostentação de símbolos religiosos nas escolas francesas, se tornara numa espécie de "bandeira" da direita sociológica portuguesa, á qual me orgulho de pertencer.
Finalmente, o Professor Vital Moreira vem-nos hoje demonstrar que assim não é. E ainda bem!
Acerca da posição possível da chamada "esquerda caviar", custava-me a crer que os seus oráculos habituais abordassem sequer a questão: Se por um lado este assunto prefigura um claro atentado aos direitos individuais de liberdade de expressão, o assunto "religião" é tão incómodo para essa gente, que na sua prespectiva mais vale dexá-lo morrer na praia.
Confesso não sêr um fã incondicional do Professor Vital Moreira. Lembro-me vagamente que em tempos se bandeou do Partido Comunista, tem uma prosa erudita e conhecedora, mas básicamente pesada e chata, como aliás é apanágio de certa classe político/intelectual deste país. No entanto, reconheço que neste particular, além de ter apreciado a prosa do Professor (básicamente por concordar com ela), penso que trouxe novas e corajosas ideias ao debate, com uma honestidade e clareza notáveis. Acerca do contributo de Vital Moreira sobre o assunto, destaco concretamente a seguinte pasagem:

Mas, bem vistas as coisas, ela tem menos a ver com o princípio laico do que com a tradição francesa, de origem tipicamente jacobina, que faz prevalecer a ideia de nação sobre as identidades comunitárias e a assimilação cultural das minorias sobre a diversidade. A raiz da medida é a mesma que leva a França a não reconhecer a existência de minorias étnicas, linguísticas ou outras que pudessem pôr em causa a identidade e homogeneidade do "peuple français". O que a motiva é menos a questão da religião em si mesma do que o receio da radicação e consolidação de identidades sectoriais subnacionais, com o seu potencial desagregador da coesão e identidade nacionais.

É claríssimo que concordo com Vital Moreira, e o facto de uma reconhecida personalidade da esquerda portuguesa, exprimir este tipo de posição, reconforta-me na certeza de que existem alguns valôres de carácter universal que nem as diferenças políticas conseguem apagar.

Diário de Bordo da Nave Espacial "Terra" - Tempo Estelar da Nova Era - 6 de Janeiro de 2004

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